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Trabalhadores surpreendidos com fecho de fábrica de bolachas em Mem Martins
O anúncio do encerramento da fábrica de bolachas da Mondeléz, em Mem Martins, apanhou de surpresa os cerca de 100 trabalhadores da unidade de Sintra, que temem pelo futuro com a deslocalização da produção para a República Checa.
"Estivemos aqui desde o princípio, até agora. Vi aqui esta fábrica crescer e vejo-a morrer", desabafou hoje à Lusa Fernanda Pinto, 53 anos, operadora de máquina de embalamento, no dia seguinte ao anúncio do fecho no terceiro trimestre de 2016.
A Mondeléz Internacional, que sucedeu à Kraft Foods, é dona das marcas Triunfo e Proalimentar, e detentora das bolachas Oreo e dos chocolates Cadbury.
A operária recordou os tempos da construção da fábrica, onde começou a trabalhar com 19 anos, quando ainda tinha de "passar em cima de tábuas" sobre o piso em terra, com uma linha de laboração de bolachas da marca Nacional.
"Foram tirando as marcas e levando para outros países", contou Fernanda Pinto, explicando que, apesar da redução da produção, não esperava o encerramento total da fábrica, que ainda funciona em três turnos diários e ao fim de semana para fazer as bolachas Ritz.
O ritmo de laboração levou, aliás, Fernando Rodrigues, coordenador do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Agricultura e das Indústrias de Alimentação, Bebidas e Tabacos (Sintab), a confessar que esperava até "um aumento de produção". "Para grande surpresa nossa, e para grande desilusão, vêm dizer que a fábrica encerra, porque é uma estratégia de mercado", lamentou o sindicalista.
Pelas contas de Fernando Rodrigues, a fábrica situada na zona industrial de São Carlos, em Mem Martins, possui "97 trabalhadores efectivos", mas com o trabalho temporário requisitado para responder às necessidades de produção, serão "130 a 140 trabalhadores" que ficam sem trabalho.
Além da destruição de postos de trabalho, o Sintab mede o impacto do fecho da fábrica também nas empresas de matérias-primas que trabalham directamente para a Mondeléz.
"Esta empresa está dotada de tecnologia de ponta e de máquinas de ponta para poder fazer muito mais produção, portanto, se não é feita aqui, é uma questão economicista e não de dificuldades económicas que levam ao encerramento desta empresa", frisou.
Apesar da famosa Triunfo não desaparecer enquanto marca, Fernando Rodrigues apela aos portugueses para que "sintam revolta com o encerramento" da empresa e vai lutar contra a decisão da Mondeléz junto dos partidos da Assembleia da República e na Câmara de Sintra.
Aureliano Conceição, coordenador da comissão de trabalhadores, salientou que, este mês, no comité europeu do grupo alimentar, vai questionar os motivos para encerrar uma unidade que "tem capacidade para produzir em quantidade e qualidade" e possui "uma capacidade instalada acima da média".
"Vou pedir para manter esta fábrica aberta. Se não for com 100 que seja com 50 [trabalhadores], que salvaguarde os postos de trabalho", assegurou o operador de máquinas, alertando para situações de casais em que ambos trabalham na unidade.
Outro trabalhador, Eduardo Escaleira, 49 anos, salientou que, ao longo dos tempos, as empresas adquiridas pelo grupo já fecharam quatro fábricas: "Fechou a de Leiria, a de Coimbra, fecharam a de Carnaxide e agora fecham esta".
O operador de máquina de fabrico, que trabalhou com bolachas da Triunfo em Carnaxide e em Mem Martins, avisou para os riscos do país ficar "sem fábricas".
A Mondeléz International alegou na segunda-feira, em comunicado, que a unidade utiliza "apenas 35% da sua capacidade de produção, um cenário que se verifica já desde 2012".
A empresa explicou que, nos últimos três anos, investiu cerca de quatro milhões de euros na aquisição de equipamento e transferiu volume de produção de outras marcas para Portugal, mas não conseguiu "os níveis de eficiência adequados". Assim, acrescentou, "a maioria da produção da fábrica portuguesa vai ser transferida para a fábrica de Opava na República Checa".
Uma fonte oficial da Câmara de Sintra disse hoje à Lusa que o presidente da autarquia, Basílio Horta (PS), antigo responsável pela antiga AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal), pediu uma reunião à empresa para tentar inverter a decisão.