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Quebramar falida nas mãos do Novo Banco
O destino da cadeia de vestuário Quebramar vai ser decidido pelo Novo Banco, accionista e detentor de 83% dos 30,2 milhões de euros de créditos reconhecidos sobre a empresa. A marca do grupo Lanidor deve 409 mil euros à Segurança Social e 251 mil ao fisco.
Em 1986, com apenas 15 anos e praticante de vela, Gonçalo Esteves começou a desenhar e a vender t-shirts alusivas a regatas aos amigos do Clube Naval de Cascais. Objectivo: juntar dinheiro para as férias. A carolice tornou-se um negócio com a criação da marca Quebramar, em 1989, que era inicialmente vendida por catálogo, o que ditou mais tarde a sua descontinuidade aos pés dos gigantes da concorrência.
Uma década depois, Esteves uniu-se ao grupo Regojo (que detinha o "master-franchising da rede de lojas Massimo Dutti em Portugal até 2012) para relançar a marca. Estávamos em 1999, quando se vivia um "boom" do consumo e da abertura de centros comerciais no país. Os dois sócios criaram então a empresa Terra Mítica para gerir e expandir a Quebramar em território nacional e no exterior.
Inicialmente com apenas quatro trabalhadores, no final de 2003 já empregava 330 pessoas, gerava uma facturação de 20 milhões de euros e explorava uma rede de 22 lojas em Portugal. Tinha acabado de inaugurar a sua segunda unidade na capital espanhola e anunciava que queria abrir 70 lojas só em Espanha nos quatro anos seguintes. Na altura, Esteves dizia que "não tinha a menor dúvida" de que a marca poderia chegar às 300 no espaço de duas dezenas de anos.
Mas a grande crise mundial deste século quase que deitava a Quebramar ao chão. Em 2011, quando detinha 42 lojas, quatro das quais em Espanha, o grupo Lanidor adquiriu 31% do capital da marca fundada por Esteves. Vivia-se então um período de grandes dificuldades para as insígnias portuguesas, sendo que a Quebramar passava a integrar um universo empresarial que detém também, para além da Lanidor, a Companhia do Campo, a Globe e a Casa Batalha.
A ambição da Quebramar foi entretanto esbatendo ao longo dos últimos anos, tendo acumulado quebras sucessivas de facturação e resultados negativos. Com três dezenas e meia de lojas, as vendas no ano passado foram de 14,7 milhões de euros, tanto quanto facturou em 2002. E só nos últimos dois anos registou três milhões de euros de prejuízos. Entrou então em incumprimento com a banca, os fornecedores e o Estado.
Atolada em dívidas da ordem dos 30,2 milhões de euros, aderiu ao Processo Especial de Revitalização (PER) em Abril passado. Mas as negociações com o Novo Banco, que detém 83% (25,1 milhões de euros) dos créditos reconhecidos sobre a empresa, não correram bem. Falhado o PER, a Terra Mítica entrou em insolvência. Esta segunda-feira, 27 de Novembro, realiza-se uma assembleia de credores para decidir o futuro da empresa.
Contactada pelo Negócios, fonte oficial do Novo Banco disse que a instituição não tinha comentários a fazer sobre esta matéria. Ao longo das duas últimas semanas, o Negócios tentou contactar os responsáveis da Lanidor e da Terra Mítica, tendo apenas conseguido falar com José Regojo, que foi bastante evasivo nas respostas.
Questionado sobre a insolvência da empresa, Regojo começou por alegar que está "completamente fora do assunto", que deixou de ser accionista em 2011, mas admitiu que ainda é administrador da Terra Mítica. "Mas há cinco anos que não sei de nada", afirmou. De resto, "ouvi falar que foi vendida a um grupo brasileiro", contou.
O Novo Banco surge à frente dos 91 credores da Terra Mítica, onde um seu fundo de capital de risco é accionista com 19,6%. A Segurança Social tem a haver 409 mil euros e o Fisco 251 mil.
Administrador da Terra Mítica