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Presentismo, a nova epidemia
É uma realidade difícil de quantificar. Por isso mesmo, exige ainda mais atenção. Os custos directos e indirectos do presentismo não podem ser negligenciados. É hora de mandar os colaboradores doentes para casa.
A Dow Chemical é um exemplo ilustrativo. Em 2002, a empresa química levou a cabo um inquérito de saúde a todos os seus trabalhadores e descobriu que 64% tinham um ou mais problemas crónicos. Os resultados foram surpreendentes: apesar de a diabetes, artrite e problemas respiratórios serem responsáveis pelos custos médicos mais directos entre os trabalhadores, o problema mais dispendioso por colaborador – depois de serem tidos em conta os custos do presentismo – era a depressão/ansiedade.
Esses dados ajudaram a Dow Chemical a desenvolver estratégias específicas de intervenção relativamente a determinados problemas que a empresa desconhecia existirem antes de ter realizado o estudo.
As empresas contactadas pelo Jornal de Negócios não possuem dados concretos relativamente aos custos do presentismo, mas já começam a actuar no sentido da prevenção.
É o caso da Xerox, com as consultas de medicina curativa a que os colaboradores podem recorrer, bem como “workshops” de gestão do “stress”, campanhas de vacinação e desabituação tabágica, explicou a gestora de recursos humanos (RH), Maria Alexandra Pires. A IBM promove campanhas de prevenção, anti-tabágicas, sobre riscos laborais e de educação para a saúde, disponibilizando também serviços de rastreio, segundo António Cerejeira, director da divisão de RH da IBM Portugal.
Conforme refere a “Harvard Business Review” (HBR), num artigo de Outubro de 2004, os programas no âmbito da medicina no trabalho – como a vacinação contra a gripe – são um passo no sentido de reduzir o presentismo e o absentismo. “No âmago desses programas está a convicção de que um empregado saudável é um activo em que vale a pena investir: a ideia de que há maior eficiência se tratar o problema de asma dos colaboradores do que se instalar um novo sistema telefónico”, segundo a HBR.
A Wolters Kluwer vai além da prevenção e incentiva a cultura do trabalhador saudável, que quando está doente deve ficar em casa. “É cultura vigente no grupo Wolters Kluwer premiar o cumprimento das metas individuais em detrimento da mera prenseça no posto de trabalho e quer responsáveis, quer funcionários, estão sensibilizados para este tema”, refere a empresa, que opera no mercado de serviços e produtos editoriais de informação. “Defendemos que só deve comparecer no local de trabalho quem está em condições para tal e tratamos de encontrar alternativas quando não é esse o caso”, segundo a empresa. Mesmo em situação de doenças leves, a empresa considera que é preferível que o doente se cure em casa do que estar no local de trabalho, arriscando o contágio dos seus colegas, explica. Além disso, está empenhada em tornar-se “a good place to work”, pelo que implementou e tem consolidado uma série de medidas, como o “teletrabalho, flexibilidade de horário, atribuição de licenças sem vencimento, medicina do trabalho disponível nos próprios locais de trabalho, sempre que possível, estando a planear-se a existência de serviços médicos nos centros com maior número de trabalhadores”.
Francisco George refere que as empresas portuguesas estão a ficar cada vez mais sensibilizadas para os problemas de saúde dos seus colaboradores e que a Direcção-Geral de Saúde tem recebido bastantes pedidos de informação e de aconselhamento sobre o assunto. Nos sectores da energia e dos transportes, esse maior desejo de esclarecimento tem sido bastante notório, salientou.
Também neste âmbito, a Agência Europeia para a Segurança e a Saúde no Trabalho promove as boas práticas no local de trabalho. Uma das suas campanhas de 2007 está associada aos distúrbios músculo-esqueléticos (DME), que a agência considera ser um problema de saúde derivado do trabalho e que pode afectar qualquer pessoa em determinado momento da sua vida.
Os DME “constituem o problema de saúde mais frequente relacionado com o trabalho na UE: 25% dos trabalhadores sofrem de dores lombares e 23% sofrem de dores musculares”, refere Jukka Takala, director da agência europeia. Por essa razão, aquela instituição comunitária lançou este ano uma campanha de sensibilização para este problema, salientando que as boas práticas irão “aliviar a carga”.