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Portugal pode chegar a 2025 com capacidade para produzir 15 GWh de baterias elétricas

Em apenas três anos, a UE poderá multiplicar por sete a sua capacidade de produção de baterias elétricas e chegar a 2025 com 520 GWh/ano. No entanto, o Tribunal de Contas Europeu alerta que Bruxelas está a perder esta corrida para a China e os EUA.

Em dois meses, as vendas de carros totalmente elétricos superaram as duas mil unidades.
João Cortesão
19 de Junho de 2023 às 16:11
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A capacidade de produção de baterias elétricas da União Europeia está a desenvolver-se rapidamente e pode aumentar mais do que sete vezes no espaço de três anos: de 71 gigawatts-hora por ano em 2022 para 520 GWh/ ano em 2025. E depois ainda para 1.200 GWh/ano até 2030 e 2.000 GWh/ano até 2050, revela o Tribunal de Contas Europeu na sua mais recente auditoria e correspondente relatório – "Política industrial da UE sobre baterias: É necessário um novo impulso estratégico" -, cujas conclusões foram divulgadas esta segunda-feira. 

De acordo com o TCE, em 2025 Portugal deverá estar já a produzir 15 GWh de baterias por ano, chegando depois a 45 GWh/ano em 2030, capacidade que se vai manter até 2050.

No entanto, e apesar destas estimativas, o TCE avisa que a UE está a perder a corrida com a China e os Estados Unidos, e enfrenta sérios riscos de ficar para trás na tentativa de se tornar uma potência mundial em termos de produção de baterias elétricas. 

De acordo com o documento, a política industrial de Bruxelas em matéria de produção de baterias elétricas "tem sido promovida de forma eficaz nos últimos anos", mas os 27 enfrentam ainda sérios obstáculos, sendo o mais grave a falta de acesso a matérias-primas críticas como lítio, cobalto e níquel, entre outras.

Na apresentação do relatório, o TCE frisou por diversas vezes que Portugal é o Estado-membro que neste momento possui as maiores reservas conhecidas de lítio na União Europeia, mas avisou também que a extração deste mineral não deverá acontecer no país antes de 2026. 

"A UE não deve ficar numa posição de dependência com as baterias, como fez com o gás natural [da Rússia], pois está em causa a sua soberania económica. Ao planear pôr termo, até 2035, à venda de automóveis novos a gasolina e a gasóleo, Bruxelas está a apostar em força nas baterias. Mas pode não ter trunfos em termos de acesso às matérias-primas, atratividade para os investidores e custos", disse Annemie Turtelboom, responsável do Tribunal de Contas Europeu pela auditoria, sublinhando a liderança da China, responsável por 76% da capacidade de produção mundial.

Longe da independência desejada, neste momento a UE importa quase todas as matérias-primas necessárias, algumas de países com os quais não tem acordos comerciais: 87% do lítio em bruto vem da Austrália, 80% do manganês vem da África do Sul e do Gabão, 68% do cobalto em bruto vem da República Democrática do Congo e 40% da grafite natural em bruto vem da China, revela o TCE.

Dando novamente o exemplo de Portugal, o documento refere que "a Europa tem várias reservas mineiras, mas são necessários pelo menos 12 a 16 anos desde a sua descoberta até à fase produção, o que impede uma resposta rápida ao aumento da procura". Em março deste ano, a Comissão Europeia propôs um novo ato legislativo sobre matérias-primas críticas para tentar ultrapassar a situação. Já em 2018 a Comissão Europeia tinha publicado um plano de ação estratégico para as baterias com vista a tornar a UE numa potência mundial nesta área. 

Em termos de financiamento, entre 2014 e 2020, a indústria de baterias recebeu, pelo menos, 1,7 mil milhões de euros em subsídios e garantias de empréstimos, além de ajudas de Estado na ordem dos seis mil milhões de euros entre 2019 e 2021, sobretudo na Alemanha, em França e em Itália.

Num momento em que aumentam exponencialmente as vendas de carros elétricos na União Europeia, o TCE admite que uma produção interna de 520 GWh/ano em 2025 "poderia, em grande medida, satisfazer a procura esperada de 400 GW", da mesma forma que "uma capacidade de produção de 1.200 GWh/ano até 2030 permitiria produzir até 16 milhões de veículos elétricos movidos por baterias de 75 kWh". 

No entanto, os esforços levados a cabo pela União Europeia para aumentar a capacidade de produção de baterias podem não ser suficientes para satisfazer a procura crescente, "o que coloca em risco o objetivo de eliminar as emissões de gases nocivos até 2035", avisam os auditores.

"Os fabricantes de baterias podem abandonar a União Europeia e ir para países que lhes oferecem enormes incentivos, como os Estados Unidos que, ao contrário da UE, subsidiam diretamente a produção de minerais e baterias, bem como a compra de automóveis elétricos fabricados no país com componentes americanos", sublinha o relatório.

Além disso, a competitividade da produção de baterias na UE pode ser prejudicada tanto pelo aumento dos preços das matérias-primas como pelo preço da energia usada no processo produtivo. No final de 2020, diz o TCE, o custo de uma bateria (200 euros por quilowatt-hora) era já mais do dobro do que se previa. E nos últimos dois anos o preço do lítio aumentou 870% e o do níquel mais de 70%.

O TCE critica também a UE pela "ausência de metas quantificadas e calendarizadas". As previsões indicam que em 2030 estarão a circular nas estradas da Europa cerca de 30 milhões de veículos sem emissões de gases poluentes e que quase todos os automóveis novos registados a partir de 2035 serão alimentados a baterias. No entanto, a atual estratégia da UE não avalia a capacidade da indústria europeia de baterias para satisfazer esta procura, denuncia o TCE. 

Por causa disto, Bruxelas poderá ter de adiar a proibição de automóveis com motores de combustão, não cumprindo os objetivos de neutralidade carbónica. Além disso, poderá também ficar fortemente dependente de baterias e veículos elétricos importados de países terceiros, em prejuízo da indústria automóvel e da mão de obra europeias, para conseguir ter, até 2035, um parque automóvel que não emita gases nocivos.
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