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Os custos ambientais associados à procura de matérias-primas essenciais à descarbonização da economia da União Europeia (UE) deverão cifrar-se nos 38,9 mil milhões de euros ao ano, até 2050, revela um novo estudo divulgado pela Comissão Europeia (CE).
Deste valor, 48,5% estarão relacionados com materiais utilizados para baterias de veículos elétricos. O níquel representa 24,9% dos custos estimados (9,7 mil milhões de euros), o ferro 14% e o alumínio 13,9%.
O estudo "Matérias-primas críticas para tecnologias e setores estratégicos na UE" analisa as cadeias de abastecimento das nove tecnologias utilizadas em três setores estratégicos - energia renovável, mobilidade elétrica, defesa e aeroespacial. Também tenta fornecer uma primeira resposta, baseada nos conhecimentos e modelos disponíveis, sobre os desafios futuros e como a competição pelos recursos pode evoluir.
Porém, segundo os analistas, a estimativa de 38,9 mil milhões de euros representa apenas 3,7% do custo anual atual das emissões de carbono da UE, com base em 3,6 mil milhões de toneladas de CO2 (tCO2) emitidas em 2018, a um preço de 290 euros por tCO2.
As conclusões apontam para 45,8% dos custos dos danos associados a materiais para baterias utilizadas para fins de mobilidade elétrica, mais 8,4% associados a baterias para infraestruturas de energias renováveis. Os impactos nas alterações climáticas representaram 47,5% dos custos totais e o esgotamento dos recursos abióticos representam 45%.
A análise destaca ainda a disparidade entre as quantidades importadas de cada material e a sua contribuição para o impacto, com o níquel a representar 12% da massa importada e o cobalto, por exemplo, a representar 2% da massa, mas contribuindo com 10,94% dos custos ambientais totais.
A maior parte dos custos ambientais está na alçada da China, dizem os analistas, com 8,2 mil milhões de euros ou 21% do total. Os custos ambientais são também desencadeados pelos EUA (4,5 mil milhões de euros) e pela Índia (3,9 mil milhões de euros). No entanto, afirmam que, em proporção do PIB nacional, os maiores encargos recaem sobre a Guiné e o Gabão, com custos ambientais superiores a 1% do PIB provenientes da extração de bauxite e manganês, respetivamente.
Francisco Ferreira, presidente da ZERO, reconhece que "o estudo revela que o custo ambiental da transição é efetivamente diminuto comparativamente ao valor total atual dos custos do dióxido de carbono no mercado europeu de licenças de emissão, bem como provavelmente com os danos causados pelas alterações climáticas". Porém, destaca que "os recursos necessários para se atingir a neutralidade carbónica são ainda demasiado significativos, pelo que é mesmo essencial que o Pacto Ecológico Europeu dê prioridade a políticas de redução, de reutilização e de reciclagem, nomeadamente no que respeita aos metais presentes nas baterias". No caso da mobilidade elétrica, por exemplo, o ambientalista considera que "devemos pensar em verdadeiras prioridades que passem por reduzir o número de veículos e pela promoção de materiais com menor impacte na sustentabilidade através de soluções inovadoras".
A transição para uma economia de baixo teor de carbono estabelecida no Pacto ecológico Europeu irá alterar a procura de muitas matérias-primas. No entanto, os impactos ambientais do aumento da procura de recursos-chave necessários para fornecer as infraestruturas necessárias não tinham ainda sido totalmente avaliados, segundo o comunicado da CE. Este estudo utilizou os dados existentes para explorar as implicações do aumento da procura por material, tipo de impacto e país afetado.
Os investigadores salientam que estes custos são compensados pelos benefícios da transição para uma economia com baixo teor de carbono. Argumentam que a reciclagem poderia ser uma componente chave na redução dos impactos da produção de matérias-primas e que as disposições relativas aos transportes públicos e à mobilidade por bicicleta poderiam limitar a procura de baterias para veículos.