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Inovação tecnológica promete ajudar Portugal a baixar emissões na agricultura

Em 2022, a atividade agrícola foi responsável por 6,9 milhões de toneladas de emissões de gases de efeito estufa no país. A solução para uma maior redução da poluição poderá passar por regulamentação e novas tecnologias, capazes até de aumentar a competitividade do setor.

As novas tecnologias podem dar uma resposta para o problema da poluição na agricultura. Dane Rhys/Reuters
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As novas tecnologias podem dar uma resposta para o problema da poluição na agricultura.

A agricultura continua a ser uma fonte de poluição com um peso considerável no que toca à emissão de Gases com Efeito de Estufa (GEE). Em 2022, a atividade agrícola foi responsável por 6,9 milhões de toneladas de emissões de GEE no país, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE). Apesar de este valor representar uma melhoria face a 2021, especialistas notam que se tem vindo a registar alguma estagnação.

" Tanto Portugal como a União Europeia (UE) estão estagnados. Em Portugal há alguma redução, mas está ligada, sobretudo, à diminuição do efetivo pecuário e não a questões estruturais", afirma Pedro Horta da Zero. No entanto, neste aspeto há que ter em conta o menor peso da agricultura em Portugal face aos restantes países do bloco.

"Se olharmos para o resto da Europa, o peso da agricultura nas emissões totais aproxima-se dos 20% e em Portugal dos 12%", aponta Pedro Santos, CEO da Consulai. Para este especialista, "comparamos bem nesse aspeto, reflexo do menor peso agrícola" em Portugal face a outros países da UE. Mas, do outro lado da moeda, temos um défice da balança agroalimentar grande – o que acaba por ser negativo", refere Pedro Santos.

Já no que toca ao Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC 2030), é importante perceber se a meta setorial de redução de GEE de 11% para a agricultura, por referência a valores de 2005, é realista. De acordo com o CEO da Consulai, a mesma é tangível, mas é imperativo compreender como a poderemos atingir.

"É preciso olhar para a forma como lá chegamos. É preciso perceber com que custos e de que forma, mas tudo é possível", afirma o líder da Consulai. O especialista nota que deve haver transparência nestes processos e que corremos o risco de traçarmos metas irrealistas "se o fizermos de uma forma demasiado cega", já que "vamos ter uma opinião pública que não adere e que não segue" os planos. "Tem de haver inteligência emocional para conseguirmos lá chegar", sublinha.

Nesta linha, Pedro Horta da Zero aponta que, relativamente ao PNEC 2030, "em geral, estruturalmente estamos na trajetória errada" e "devíamos ter medidas coerentes com aquilo que são os objetivos".

Regulamentação traz maior competitividade 

A nível da UE tem-se vindo a aprovar cada vez mais regulação com vista ao controlo de emissões poluentes no setor agrícola e Pedro Santos nota que "estamos a viver agora o momento mais particular e crítico relativamente a esta palavra regulação".

Para o especialista, "a regulação é importante e pode ser um fator de competitividade", mas ainda "é vista quase sempre como um fator negativo, que prejudica os agentes económicos".

O setor agrícola não deve ser usado como moeda de troca para outros setores, deixando em desigualdade competitiva os produtores europeus.Pedro SantosCEO da Consulai

Pedro Horta concorda que é "importante haver metas e tetos, há é que olhar para todo o setor", lembrando que "em Portugal temos vários sistemas agrícolas (...) e todos têm necessidades diferentes em termos de ‘inputs’. O especialista da Zero refere que "a produção agrícola é apenas uma parte do sistema maior do setor alimentar". A isto, o CEO da Consulai acrescenta que "o setor agrícola não deve ser usado como moeda de troca para outros setores, deixando em desigualdade competitiva os produtores europeus que, por consequência da geografia, já têm uma competitividade menor que outras regiões", conclui.

Tecnologia aumenta eficiência do setor

Além da regulamentação, novas tecnologias poderão apresentar uma resposta para o problema da poluição na agricultura. Pedro Horta da Zero lembra que "existe a incorporação de tecnologia na nossa agricultura desde os anos 60, mas há alterações sistémicas que podem ter mais impacto do que a tecnologia", já que esta "tende a ter ganhos de eficiência, mas do ponto de vista das emissões totais, não é suficiente para corrigir as trajetórias".

"Portugal nos últimos anos tem feito uma evolução gigantesca na adoção da tecnologia [na agricultura]", aponta Pedro Santos. O especialista aborda inovações na utilização da água, por exemplo, no que toca à rega. Tanto que "o país é um exemplo para outras geografias na Europa", acrescenta.

"Pela sua dimensão, Portugal tem sido um balão de ensaio para outras tecnologias, o que tem permitido que tenhamos a utilização de novas tecnologias, para uma agricultura mais sustentável e ‘rica’", destaca o mesmo especialista. 

Para resolver o problema das emissões no setor, mas não só, o grupo Bolschare criou uma plataforma inovadora. A introdução da plataforma Arima é destinada, por um lado, a medir minuciosamente o compromisso ambiental das empresas, dos setores e dos países e, por outro, a registar e gerir em tempo real todos os processos que constituem a dinâmica agrícola.

O presidente do grupo Bolschare, Ignacio Schmolling, explicou ao Negócios que a utilização desta nova ferramenta pode mesmo ajudar as empresas e países a estar alinhados com a regulamentação europeia neste setor, o que pode evitar multas pesadas para produtores agrícolas.

"As empresas que estão interessadas [na plataforma], são também as que querem continuar a vender os seus produtos no mercado europeu, porque a partir de 2025 têm de respeitar parâmetros que vão ao encontro das normas europeias", explica o presidente do Grupo Bolschare.

O compromisso da empresa é que esta plataforma seja aplicada em cerca de 22 milhões de hectares a nível mundial. Questionado sobre os efeitos que a utilização da Arima terá em termos de redução de emissões de gases poluentes, Ignacio Schmolling acredita que a mesma terá um impacto significativo, "absolutamente". Neste caso, refere que "o que queremos ser é um fator de mudança, porque não existe qualquer tipo de plataforma nem qualquer ferramenta que permita medir segundo uma regra comum", como é o caso da Arima.

Nesta linha, a empresa sediada na Eurocidade Elvas-Badajoz-Campo Maior diz estar a colaborar em estrita colaboração com Bruxelas para a regulação da plataforma a nível institucional e global, referindo que "o mercado, a administração e todos os agricultores têm de se empenhar em otimizar a sua produção (...) e têm de profissionalizar o negócio".

Na linha da regulamentação introduzida pela UE para o setor, o líder do Grupo Bolschare acredita que "estamos no caminho certo", mas que é imperativo que os Estados-membros trabalharem em conjunto - situação que até agora diz não se verificar - "para a existência de um regulamento comum" que beneficie todas as partes envolvidas. 

12%Gases
Em Portugal, o peso da agricultura nas emissões de gases de efeito estufa é de 12%. A média europeia situa-se nos 20%.
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