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O PRR e o que aí vem
Três rostos da liderança empresarial olham para os desafios do país. O PRR é um tema incontornável e todos frisam que é preciso criar valor com a bazuca europeia
Negócios
31 de Maio de 2021 às 12:15
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Miguel Stilwell d’Andrade
Presidente executivo da EDP
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Não tem de ser uma inevitabilidade [caminhar de crise em crise]. Nós olhamos à volta e vemos outros bons exemplos de países que foram capazes de crescer e de se continuarem a desenvolver do ponto de vista económico e social. Seguramente não é inevitável.
É preciso reconhecer valor nas empresas, que elas criam valor para o país, emprego qualificado, que são capazes de criar riqueza e que, se olharmos para outros países do tamanho de Portugal, eles têm grandes empresas e não há nenhum problema em terem lucro.
Quanto maior for a empresa, quanto mais global, melhores condições pode dar às pessoas que lá trabalham. Uma empresa frágil, pequena e com dificuldades não tem essa capacidade.
É difícil para alguém que esteja lá fora, a partir de determinado nível, voltar para Portugal.
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Cristina Fonseca
Venture Partner da Indico Capital Partners
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Os salários em Portugal são muito o reflexo da nossa economia frágil e da pobreza do país. As empresas não decidem pagar mais ou menos a uma pessoa dependendo dos seus resultados. É o valor de mercado que dita isso.
Há 50 anos, vendíamos minutos de operários fabris e hoje em dia temos uma mão de obra muito mais qualificada, temos ótimos engenheiros, mas acabamos a vender os mesmos minutos não de operários fabris mas de programadores. E isso reforça um pouco a mensagem de que somos primariamente uma economia de serviços e devíamos ser uma economia focada em criar valor.
As empresas acabam por empregar muitas pessoas que não são especializadas, que são mais facilmente encontradas no mercado de trabalho e aí manda a lei da oferta e da procura, não manda o que a empresa pode pagar.
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António Pires de Lima
Presidente executivo da Brisa
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[A aversão ao lucro] é um problema cultural que atrofia o desenvolvimento da economia. O lucro devia ser uma aferição do mérito dos projetos empresariais. Em Portugal existe uma cultura, que não é nova, e que desconfia das empresas que têm sucesso.
A dignificação do salário mínimo é um percurso importante que se tem feito e que merece ser acentuado. O que é preocupante é que, ao mesmo tempo que se vai valorizando o salário mínimo, o salário médio se aproxima cada vez mais. É uma economia de mínimos.
Do ponto de vista político, há uma cultura de aceitar a mediania, de vender a nossa posição como muito boa quando temos vindo a ser ultrapassados por muitos países que entraram na UE depois de nós. A cultura de ambição e exigência não trespassa do universo político para os cidadãos e enquanto assim for não é possível sair da mediania.
| O PRR e o que aí vem
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Miguel Stilwell d’Andrade
Presidente executivo da EDP
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Um dos grandes desafios que vamos ter pela frente vai ser conseguir investir aquele dinheiro de uma forma que seja produtiva e que contribua para a competitividade do país. Porque gastar dinheiro é fácil, investir adequadamente é mais difícil. É preciso construir as bases.
Há uma parte importante do PRR que está dedicada à transição energética, outra à digitalização. Tudo o que tenha que ver com formação é também um investimento que tem retorno a médio e longo prazo. Há um campo grande de inovação e Portugal está bem situado.
Seguramente [vejo no futuro] um país mais próspero, mais rico, que seja competitivo e produtivo, onde tenhamos grandes, pequenas e médias empresas a conviver e a criar valor. Portugal é um país ótimo para viver, tem condições fantásticas e devemos estabelecer objetivos ambiciosos.
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Cristina Fonseca
Venture Partner da Indico Capital Partners
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[A digitalização] é um desafio hercúleo. A liderança tecnológica é muito escassa, não temos grande histórico de criar grandes empresas tecnológicas e de fazer projetos estruturais a nível tecnológico. Este vai ser o desafio número 1.
Onde é que vamos buscar talento tecnológico para implementar todas as iniciativas de transição digital do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR)? É claramente muito difícil.
A criação de valor virá da área tecnológica e dos projetos de desenvolver novas tecnologias, novas terapêuticas e da ciência.
Vejo Portugal melhor do que está hoje [daqui a 18 anos] e não estaria em Portugal se não acreditasse na oportunidade de fazer melhor. É preciso alavancar fundos públicos com capital privado e não vamos conseguir sair deste modo de mediocridade se não apostarmos na criação de valor.
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António Pires de Lima
Presidente executivo da Brisa
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É pouco tempo [para aplicar as verbas do PRR] e só se vai conseguir investir esse dinheiro de forma razoável se se contar com as empresas em primeiro lugar.
O nível de investimentos previstos e os montantes previstos são de tal ordem que se não se contar com as empresas em primeiro lugar na execução das verbas muito desse dinheiro não vai ser investido a tempo ou vai ser desbaratado.
É importante pôr as empresas a bordo do plano e que sejam os drivers principais da mudança. É preciso funcionar num registo de parceria entre o público e o privado para que o dinheiro que aí vem [no âmbito do PRR] seja utilizado e bem investido.
Cerca de 90% das pessoas que formamos ao nível de doutorados não saem das universidades. É um capital científico enorme que está por explorar.