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Montepio “afunda” La Gondola na Avenida de Berna
O edifício que acolhe o emblemático restaurante desde 1943, com encerramento marcado para 6 de Agosto, vai ser demolido para aí ser construída a nova sede do Montepio. Uma operação que resulta de uma permuta de terrenos entre a Câmara de Lisboa e a instituição financeira.
Construído por júlio Salustiano Rodrigues, em 1928, tendo sido propriedade do médico e arqueólogo Fernando António de Almeida e Silva Saldanha, desde 1939 que a sombra da demolição pairava sobre o edifício que alberga o restaurante La Gondola, na Avenida de Berna, junto à Praça de Espanha, em Lisboa.
Naquele ano, enquanto no miolo da Europa tinha início a II Guerra Mundial, a Câmara da capital portuguesa decidiu adquirir aquele imóvel, como alternativa à expropriação, com vista à sua demolição, no âmbito da execução de um plano urbanístico para a zona da Praça de Espanha.
Mas o plano de reformulação urbanística daquela área nunca avançou. Resultado: em vez de ser demolido, o edifício foi arrendado para a instalação de um restaurante, o La Gondola, que aí funciona desde 1943.
6 de Agosto de 2017: um ano antes de poder comemorar as bodas de diamante, o La Gondola está em contagem decrescente para os seus últimos oito dias de existência. É que, para avançar com a renovação urbanística da zona, a autarquia lisboeta fez uma permuta de terrenos com o Montepio Geral, que vai demolir o restaurante para aí construir a sua nova sede.
O projecto para a demolição decorre assim desta permuta entre as duas entidades, aprovada em Dezembro de 2014 pela Câmara de Lisboa, com o Montepio e a sua seguradora Lusitânia a ficarem com terrenos de mais de 6,2 mil metros quadrados, incluindo o espaço em que está implantado o imóvel que alberga o La Gondola, para aí construírem novos edifícios.
Em troca, a autarquia ficou com os terrenos onde funcionou, até Setembro de 2015, o Mercado da Praça de Espanha.
"Não é vontade nossa, gostaríamos de ficar. Estamos aqui há décadas, é um espaço irrepetível. Resistimos o que pudemos e soubemos, mas não temos força nem capacidade de argumentar com a força da Câmara e do Montepio", lamentou Júlia Ribeiro, gerente do La Gondola, em declarações ao Diário de Notícias. "Saímos com mágoa, mas temos o compromisso de fechar", rematou a gestora do restaurante.
Entretanto, uma petição lançada pelo auto-denominado movimento "Vizinhos das Avenidas Novas", que conta já com mais de 800 assinaturas, defende que a demolição do La Gondola "não seja autorizada até que seja avaliada a sua classificação como Imóvel de Interesse Municipal" e "a sua candidatura ao ‘Programa Lojas com História’".
Intitulada "Contra a demolição do edifício restaurante Gondola e salvar a identidade das Avenidas Novas", a petição considera que este imóvel "tem hoje um valor adicional de memória urbana, cujo apagamento não devia passar sem discussão e análise técnica e de relevância para a freguesia de Avenidas Novas, uma vez que é contemporânea dos inícios dos planos de urbanização da área".