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Mário Ferreira e o cacilheiro de Joana Vasconcelos: “Foi um ‘flop’ turístico. Já perdi um milhão. Chega. Ganhei juízo"

O antigo cacilheiro Trafaria Praia, trabalhado por Joana Vasconcelos e que representou Portugal na Bienal de Veneza, em 2013, foi retirado do Tejo e está à venda. “Foi um fracasso como embarcação turística, mas há-de valer uns milhões como obra de arte”, afiança o dono.

O Trafaria Praia, forrado com painéis de azulejos que retratam uma vista contemporânea da cidade de Lisboa, foi removido do Tejo para a doca seca da Navalria, em Aveiro.
Rui Neves ruineves@negocios.pt 17 de Outubro de 2017 às 15:47

O Trafaria Praia já não mora no Tejo. Foi removido para a doca seca da Navalria, estaleiros navais do grupo Martifer em Aveiro.

 

"Começou a operar no Tejo em Abril de 2014 e parou em Abril deste ano. Tinha pouca procura para viagens turísticas. Um sucesso como obra de arte, mas foi um ‘flop’ como embarcação turística", explicou Mário Ferreira, dono da Douro Azul, empresa detentora do Trafaria Praia, em entrevista ao Negócios.

 

Dizendo-se cansado de perder dinheiro com esta operação, o empresário decidiu retirar o antigo cacilheiro da água e colocá-lo à venda. "Sem contar com o investimento realizado, desde que a embarcação começou a operar no Tejo que o prejuízo já rondou cerca de um milhão de euros. Para mim chegou. Não ganhei nada com aquilo… Ganhei juízo", ironizou Mário Ferreira.

 

A retirada do Trafaria Praia para doca seca justifica-se pelo "factor deterioração, pois o barco, sendo todo forrado a azulejo, é muito sensível. Está melhor em terra do que na água", justificou o empresário, que está agora à espera de propostas de compra.

 

Sem revelar por quanto o adquiriu nem o valor por que está disponível para o vender, o dono da Douro Azul tenta agora forrar com potenciais mais-valias a operação de alienação do Trafaria Praia: "Tendo em conta o tamanho e as obras de arte vendidas pela Joana Vasconcelos, sendo esta a maior de todas, há-de certamente valer uns milhões de euros", atirou Ferreira, ainda que admitindo que a dimensão da obra "é um handicap".

 

Como considera que "é a autora que deveria ficar com a peça", o empresário deu "preferência" a Joana Vasconcelos, que até "demonstrou interesse na aquisição". Chegaram a falar de valores de transacção, mas o negócio (ainda) não se concretizou.

 

Entretanto, se não aparecer propostas de compra interessantes, Mário Ferreira admite levar o barco-peça de arte "a leilão".

 

Sucesso em Veneza, fracasso no Tejo

 

Antigo cacilheiro da Transtejo, o Trafaria Praia estava desactivado desde 2011. O projecto de pavilhão ambulante de Joana Vasconcelos permitiu a sua recuperação, bem como a sua transformação numa representação artística da cultura portuguesa, tendo operado como Pavilhão de Portugal no decurso da Bienal de Veneza de 2013.

 

Durante toda a bienal, o Trafaria Praia realizou dois cruzeiros diários (um de manhã e outro da parte da tarde) com duração de uma hora, pela Lagoa de Veneza passando em frente à histórica Praça de São Marcos.

 

A embarcação foi visitada por mais de 106 mil pessoas ao longo dos sete meses que esteve em Veneza, tendo transportado mais de 20 mil passageiros nos cruzeiros que efectuou.

 

Forrado com painéis de azulejos que retratam uma vista contemporânea da cidade de Lisboa, o Trafaria Praia, com capacidade para 275 passageiros, tem um comprimento de 28,17 metros e uma boca de 7,5 metros.

 

O projecto inicial da Douro Azul, quando o barco regressou ao Tejo, passava por colocar o Trafaria Praia a operar quatro cruzeiros turísticos por dia (dois de manhã e dois à tarde), com a duração de uma hora, fazendo a ligação entre o Terreiro do Paço e a Torre de Belém.

 

Estes cruzeiros tinham um preço de 15 euros por adulto, sendo que a visita à instalação artística sem cruzeiro custavam cinco euros.

 

Mas depressa Mário Ferreira concluiu que, contrariamente ao que acontece no Douro e em outros 15 rios em três continentes, não seria bem-sucedido no Tejo. "A embarcação não é adequada para passeios turísticos. É um sucesso como obra de arte, mas um fracasso como operação turística", rematou.

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