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Lava Jato afunda AMAL com dívidas de 135 milhões

O escândalo de corrupção Lava Jato no Brasil e a queda do accionista e financiador BES foram os principais coveiros da metalomecânica Amal, multinacional lusa dona de uma série de fábricas, que acaba de falir com dívidas de 134,7 milhões de euros.

A AMAL foi a responsável pela construção da cobertura da Praça de Touros do Campo Pequeno
19 de Abril de 2017 às 22:00
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Samuel Mendes Pacheco começou a trabalhar aos 15 anos no Barreiro, na Almeida Marques e Almeida (AMAL), em 1974. Mais tarde, após outras experiências profissionais, regressou ao local de partida laboral para adquirir a empresa com os seus dois irmãos por 750 contos (cerca de 3.750 euros). Mudou a AMAL para a Moita em 1987 e transformou a pequena serralharia numa metalomecânica multinacional.

A internacionalização chegou em 1994, com a execução de projectos na Bélgica e na Alemanha. E em 2003 instalou-se em Angola, onde foi das empresas de referência no sector de construções metálicas industriais, seguindo-se a Eslováquia, São Tomé e Príncipe e, mais recentemente, o Brasil, Argélia, Moçambique e Venezuela.

Em Portugal, viria a abrir mais uma fábrica em Sines em 2003 e, passados cinco anos, outra em Setúbal. Foi a responsável por obras emblemáticas como a estrutura metálica do Estádio da Luz e a cobertura da Praça de Touros do Campo Pequeno, chegou a facturar aproximadamente 150 milhões de euros e a empregar perto de mil pessoas.

Todo este universo empresarial faliu. A 9 de Março passado, dia em que os credores aprovaram o envio da AMAL para liquidação, mandando cerca de 180 pessoas para o desemprego, as suas três fábricas em solo nacional deixaram de laborar e estão agora à venda por um valor mínimo de 7,6 milhões de euros. 

O grupo AMAL faliu com dívidas de 134,7 milhões de euros. De um total de 512 credores, surgem à cabeça a espanhola Técnicas Reunidas, que reclama créditos de 18,8 milhões de euros (que a insolvente não reconhece, declarando-se credora de 13,8 milhões daquela sociedade), a Caixa Geral de Depósitos  (14 milhões de euros) e o Novo Banco (12,2 milhões de euros).  

E tudo a Lava Jato levou

 Os fortes investimentos industriais realizados em mercados emergentes, sobretudo no Brasil, que não só não geraram o retorno esperado como produziram dívida, são apontados como os maiores responsáveis pela falência da AMAL. O projecto no Brasil, onde investiu nove milhões de euros e empregava centenas de pessoas, acabou por falir devido ao envolvimento do seu principal cliente no escândalo de corrupção conhecido por Lava Jato.

 "A queda do BES [cuja ‘private equity’ tinha adquirido 30% da AMAL em 2009] teve consequências negativas na actividade do grupo AMAL, nomeadamente no Brasil", lê-se num documento, no âmbito do processo de insolvência da empresa, a que o Negócios teve acesso. É que "existia uma garantia do BES associada a uma linha de financiamento de médio e longo prazo contratada junto do Bradesco – 18 milhões de reais (5,5 milhões de euros) – que, decorrente da paragem da operação no Brasil e atendendo à condição do BES, foi executada, tendo-se traduzido em mais um financiamento adicional em Portugal desajustado com a operação aqui desenvolvida".

Adicionalmente, a crise internacional, medidas proteccionistas em muitos dos seus mercados externos e o fecho da torneira dos bancos em Portugal acabaram por levar a AMAL ao tapete.  A empresa ainda chegou a apresentar um PER (Processo Especial de Revitalização), que foi rejeitado pelos credores, e a elaborar um plano de recuperação em que pedia, grosso modo, o perdão de 70% da dívida.

Metalomecânica vocacionada sobretudo para projectos industriais ligados ao sector petrolífero e petroquímico, à data da falência, a AMAL detinha uma carteira de obras ainda por facturar da ordem dos nove milhões de euros, nos Camarões, na Polónia, na Bélgica e na Austrália.

Tem 45% dos Estaleiros de Peniche e 3 fábricas à venda

No processo de liquidação da AMAL em curso, os primeiros activos colocados no mercado foram os bens móveis e imóveis, constituídos sobretudo pelas três fábricas do grupo, na Moita, em Sines e em Setúbal, que estão à venda por um valor mínimo de 7,6 milhões de euros. Seguir-se-á a alienação de uma série de empresas suas subsidiárias e associadas em Portugal, Brasil, Angola, Tunísia, São Tomé e Príncipe, Argélia, Moçambique, Camarões e na Nigéria. Um dos activos em destaque é a posição de 45% da AMAL no capital dos Estaleiros Navais de Peniche, empresa controlada pela gestora de fundos Oxy Capital, que reclama um crédito de 12 milhões de euros junto da sua sócia por incumprimento da opção de venda das acções.

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