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Discoteca Twin's virou Crystal e fechou cheia de dívidas

Abriu a 4 de Janeiro de 1974, na elitista Foz do Porto, e tinha fama de ser a discoteca dos fascistas. Foi propriedade do arquitecto Tomás Taveira, virou casa de “striptease” em 1996 e voltou a ser Twin’s. Renasceu Crystal Club no último Verão e fechou com dívidas de 590 mil euros.

17 de Março de 2016 às 21:00
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À entrada de 1974, a cidade do Porto tinha apenas uma discoteca – a mítica  Dona Urraca, na Rua Padre Luís Cabral, em pleno coração da Foz Velha, que chegou a travestir-se de Pop na viragem do século e foi propriedade de Rui Moreira, actual presidente da autarquia.

A 4 de Janeiro desse ano, a escassas centenas de metros do Dona Urraca, era inaugurado o Twin’s, que viria a ser considerada, durante as três décadas seguintes, a mais emblemática e elitista casa nocturna da Invicta.

Instalado no número 1.000 do Passeio Alegre, na antiga residência de uma professora de piano de filhos das famílias tradicionais da cidade, o Twin’s era a pista de dança de eleição da alta sociedade da Foz, onde só se entrava por convite.

O Twin’s estava aberto na noite em que aconteceu o 25 Abril. Apesar da preocupação que pairava no ar, continuou-se a dançar e a beber. Nada de anormal aconteceu. Mas foi sempre em estado de tensão que funcionou nos meses seguintes. Afinal, ganhou fama de ser a discoteca dos "fascistas".    

A então grande referência da noite no Porto foi um dia evacuada para que a Frente Eleitoral de Comunistas pudesse revistar o espaço, que era tido como esconderijo de armas. Em vez disso, os invasores passaram o tempo a comer e a beber à custa dos então proprietários da discoteca, José Luís Kendall e Rogério Azevedo.  

E houve mesmo uma madrugada com tiros à porta. À saída, o já falecido Pôncio Monteiro, antigo dirigente do FC Porto e um dos mais carismáticos comentadores desportivos, foi atingido por uma bala, teve de ser operado e ficou sem um rim.

Pioneiro na realização de festas temáticas, como a de pijamas, e palco dos primeiros espectáculos de Herman José, o Twin’s era passagem obrigatória dos mais ricos e famosos.

 

De Tomás Taveira a casa de "striptease"

Em 1985, ano da assinatura da adesão de Portugal à CEE, Kendall e Azevedo venderam a discoteca ao arquitecto Tomás Taveira e ao seu sócio José Manuel Simões. Taveira tinha inaugurado nesse ano a sua mais famosa criação -  o Amoreiras, quatro anos antes de ter estado envolvido num dos mais escaldantes escândalos sexuais do nosso tempo.

Aos poucos, o Twin’s foi perdendo prestígio e clientes. Até que, em 1996, muda de nome e reabre como casa de "striptease". Por pouco tempo. Um abaixo-assinado promovido pelas famílias da Foz fez o senhorio retirar o tapete ao Passerelle.

Oito anos depois, o conceituado empresário da noite portuense Batata Cerqueira Gomes compra o espaço, tendo conseguido que o seu amigo Manuel Guedes, um dos donos da Sogrape, se tornasse sócio nesta sua aventura de fazer renascer o Twin’s, depois de um investimento de 800 mil euros. 

Nas mãos de Batata, o número 1.000 do Passeio Alegre regressou aos seus melhores tempos, com o Twin’s a ser o que sempre foi: uma das pistas de dança mais badaladas do país.

Um episódio curioso: a 12 de Agosto de 2006, Batata pôs uma avioneta a sobrevoar o estádio do Dragão, onde nesse dia actuavam os Rolling Stones, com uma mensagem para Jagger: "Mick got the balls to come to ‘Twins’s’? Batata." O vocalista dos Stones não apareceu no Passeio Alegre, mas o golpe publicitário foi considerado magistral.

Após meia dúzia de anos de renovado sucesso, o Twin’s – cuja réplica na baixa da cidade fracassou - é vendido por Batata e Guedes em 2011.

Twin’s Foz por pouco tempo, Crystal em PER

Em 17 de Janeiro de 2014, assina Foz no nome e reabre com um novo conceito e decoração. Mas o Twin’s Foz não conseguiu ganhar um lugar na movida do Porto. Sobreviveu poucos meses.

No Verão passado, pelas mãos de um grupo de quatro empresários, entre os quais Paulo Ferreira, o Twin’s deu lugar ao Crystal Club. Após longos meses de portas fechadas, a histórica discoteca passou a acolher um clube e um restaurante, sob os comandos do conceituado chef Luís Américo.

A marca elitista manteve-se: à semelhança do que acontece em qualquer clube, no Crystal também se pagava quota – por mil euros anuais, o cliente tinha direito a entrada livre durante o ano, a 500 euros consumíveis e a levar um convidado. O custo de entrada dos convidados era de 10 euros (os homens) e 7,5 euros (as mulheres). 

A nova vida do velho Twins durou poucos meses e chegou ao 42.º aniversário sem brilho, sem festa, de portas fechadas. A 11 de Fevereiro passado, o Crystal Clube entrou em Processo Especial de Revitalização (PER) com dívidas de 590 mil euros a 45 entidades.

A Fascíniopalpite (235 mil euros) e o Montepio (138 mil euros) são os principais credores da empresa. A Segurança Social reclama 4.580 euros e o fisco quase três mil euros.

Nos últimos dias, o Negócios tentou entrar em contacto com os responsáveis do Crystal Clube, mas a porta nunca se abriu e o número de telefone está inactivo. O administrador de insolvência nunca atendeu o telemóvel.

O antigo piano do Twin’s mantém-se à entrada do clube. Calado.

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