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Como resolver o dilema das sucessões em empresas familiares?
Equilibrar as necessidades de negócios com os desejos da família é um dos principais desafios dos grupos familiares, explicou Luís Palha da Silva. Um dilema que pode ser resolvido com ferramentas como acordos familiares mas, em grande parte, “com estruturas familiares estruturadas”, acrescenta. A extra-regulação pode não ser benéfica, alertou Pedro Rebelo de Sousa.
No último ano, o caso BES, banco gerido pela família Espírito Santo, tem estado na ordem do dia pelos piores motivos. É um dos exemplos do desafio de equilibrar as necessidades e oportunidades de negócios com os desejos da família.
Como se pode contornar este desafio? Para Luís Todo Bom, professor no ISCTE e consultor em várias empresas, isso só se consegue resolver com "estruturas familiares estruturadas".
Luís Todo Bom, que tem "experiência em gestão em empresas familiares", como sublinhou, acrescentou ainda - durante a conferência sobre Corporate Governance, organizada pelo Instituto Português de Corporate Governance (IPCG) e pela Stanton Chase - que os processos de sucessão são "o famoso dilema das empresas familiares".
A introdução de um "tutor", "um gestor profissional", que faça a ligação entre a entrada do novo membro da família na gestão da empresa e a saída de outro, é uma das soluções apontadas pelo consultor de empresas, como a PT. "Na minha opinião, o Luís Palha da Silva [actual chairman da Pharol] fez esse papel na Jerónimo Martins", exemplifica.
O presidente da administração da Pharol, também presente na conferência que decorreu esta quarta-feira, 23 de Setembro, sublinhou durante a sua intervenção que "a importância deste tema é algo a que não podemos fugir". Mas lembrou que "se deve ter em conta que estamos no domínio das ciências não exactas".
Faria de Oliveira, presidente da Associação Portuguesa de Bancos, aproveitou ainda para relembrar que, no campo financeiro, após a crise global, em 2008, "várias entidades dedicaram a sua actuação também às questões de corporate governance. E relembrou que várias associações bancárias começaram a introduzir novas propostas neste campo.
Já Marcos Lagoa, da Associação das Empresas Familiares, começou por apontar que um dos principais problemas deste tema prende-se desde logo com a definição de "empresa familiar", explicando que "não encontramos duas estruturas iguais porque cada uma [empresa familiar] tem a sua". E exemplifica: "Se falarmos com a família Azevedo [que detém 51% da Sonae], não assumem que são uma empresa familiar".
Os acordos familiares, onde se estipulam várias regras do funcionamento da empresa em questão, incluindo os planos de sucessão, são outras das ferramentas que podem ser utilizadas para contornar este desafio, além das regras gerais de corporate governance.
No entanto, Pedro Rebelo de Sousa, presidente do IGCP, alerta que "as sociedades pertencem aos accionistas" e "não é criando também mecanismos de extra-regulação que acabamos por evitar" situações com um desfecho menos favorável.