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China bloqueia jornais internacionais que publicaram investigação sobre elite comunista e paraísos fiscais
A China está a bloquear os sites dos órgãos de comunicação social que revelaram a investigação à elite chinesa. O “El País”, “The Guardian”, “BBC”, “Le Monde”, “Süddeutsche Zeitung” e “Asahi Shimbun” aliaram-se numa investigação aos elementos mais importantes da sociedade chinesa, que apurou que grande parte da elite do país tem ocultado empresas em paraísos fiscais.
“O Governo da China bloqueou a edição digital do ‘El País’ no seu território para evitar a divulgação da investigação que revela que, familiares directos dos dirigentes máximos [chineses], entre eles o cunhado do presidente, assim como magnatas, membros da Assembleia Popular e de empresas estatais mantêm sociedades opacas em paraísos fiscais”. É assim que começa a notícia, presente no site desta publicação espanhola, sobre o bloqueio que o seu site está a ser alvo na China.
O “El País”, o “The Guardian”, a “BBC”, o “Le Monde”, o “Süddeutsche Zeitung” e o “Asahi Shimbun” aliaram-se numa investigação à elite da China que apurou que grande parte da elite da país tem ocultado empresas em paraísos fiscais.
Mas não é apenas o site do “El País” que enfrenta este bloqueio após a divulgação destas informações sobre algumas das mais importantes figuras da República Popular da China. O “The Guardian”, no seu site, tem uma notícia, assinada pela sua correspondente em Pequim, que dá conta que a sua página surge parcialmente bloqueada. E, segundo o “El País”, os restantes meios de comunicação, que avançaram com estas notícias, estão também a ser alvo desta medida.
Estes órgãos de comunicação social tiveram acesso a um conjunto de informações, recolhidas pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ), onde é possível constatar que “pelo menos 13 parentes dos dirigentes máximos chineses, bem como 15 empresários, têm mantido empresas em paraísos fiscais”. Este consórcio analisou mais de dois milhões de arquivos de duas gestoras, a Portcullis TrustNet e a Commonwealth Trust, que operam nas ilhas Virgens.
Segundo o “El País, a escolha das ilhas Virgens não é estranha, uma vez que, em 2010, foi o segundo maior investidor estrangeiro na China, só ultrapassado por Hong Kong. Na descrição feita por este consórcio de meios, é possível ler que a elite ligada ao partido comunista chinês, tem aberto sociedades offshores, após terem gerado fortuna através do regime do país. Na operação em causa, pelo menos 13 membros da chamada nobreza comunista constam nesta lista. Entre eles destacam-se o cunhado de Xi Jinping, o filho e o genro do anterior primeiro-ministro, Wen Jiabao, a filha do seu antecessor, Li Peng, um genro do falecido Deng Xiaoping, e um neto do comandante da revolução, Su Yu.
Com esta operação, a elite chinesa contorna a limitação do país, que restringe o movimento de capital estrangeiro a 50 mil dólares por habitante (36,9 mil euros), por ano.
Já fontes próximas do governo chinês, citadas pelos mesmos meios, garantem que este movimento nada tem que ver com corrupção, mas sim com uma prática empresarial comum, com vista a competir com empresas estrangeiras que estão a investir na China e que o Governo favorece com isenções e impostos, relata o “El País”.
Um dos sectores mais activos na criação de empresas é o do petróleo. As sociedades Petrochina, Sinopec e China National Offshore Oil Corporation (CNOOC) são a ponta de lança da pujança económica do país.
Os mesmos documentos manifestam a preocupação em relação a uma crescente desigualdade na sociedade chinesa. Neste momento, as grandes fortunas estão concentradas em pouco mais de 300 pessoas e, das mil pessoas incluídas nesta investigação, 153 estão ligadas à política. Já cerca de 20 membros desta comunidade acumulam uma fortuna de 62,2 mil milhões de dólares (45,9 mil milhões de euros).