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Carta do dono da Prozis aos portugueses (com vídeo): “Isto atraiu os zombies. Merecia um prémio de marketing”

Na sequência da polémica provocada pela publicação antiaborto que fez no LinkedIn, Miguel Milhão concedeu ao Negocios a sua primeira entrevista à comunicação social, que será integralmente publicada na nossa edição da próxima segunda-feira, 4 de julho.

01 de Julho de 2022 às 20:41
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"It seems that unborn babies got their rights back in USA! Nature is healing!", ou seja, "Parece que os bebés por nascer recuperaram os seus direitos nos EUA! A natureza está a curar-se!"

 

O "post" que o fundador da Prozis escreveu no LinkedIn, no passado domingo, congratulando-se com a decisão do Supremo Tribunal dos Estados Unidos que acabou com a garantia de direito ao aborto naquele país, gerou uma onda de polémica que evoluiu para uma cultura de cancelamento à empresa.

 

Uma polémica que Miguel Milhão exacerbou, na terça-feira seguinte, em "Conversas do Karalho", nome do "podcast" interno da empresa que foi, excecionalmente, aberto ao público, num "live" que chegou a ter mais de duas mil pessoas a assistir.

 

Acionista maioritário da Prozis, que tem 10 fábricas em Portugal e emprega mais de mil pessoas, Milhão concedeu ao Negocios a sua primeira entrevista à comunicação social, que será integralmente publicada na nossa edição da próxima segunda-feira, 4 de julho.

 

Esta sexta-feira, a meio da entrevista, o empresário pediu ao Negócios para fazer uma declaração em que relata a forma como provocou, assistiu e viveu toda a polémica.  


A carta de Miguel Milhão
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Na primeira pessoa, o dono da Prozis conta como começou a polémica em que está envolvido.

 

Miguel Milhão:

 

"Tudo começou no domingo, 26 de Junho.

 

Vários usuários do LinkedIn manifestavam a sua opinião a favor do aborto nesta rede. Uma energia nasceu dentro de mim que me fez manifestar a minha opinião também. No meu caso, a favor da vida.

 

No dia seguinte, o impacto do ‘post’ tinha tomado proporções que nunca acharia possível acontecer.

 

A ‘mob’ atacava tudo - Miguel, Prozis, parceiros, funcionários, etc… Queriam destruir tudo por causa da minha opinião.

 

Então, comecei a fazer aquilo em que sou melhor: Pensar.

 

Como poderia transformar uma situação terrível numa situação benéfica para mim, para a Prozis e para todos os portugueses?

 

Cheguei à conclusão que a ‘mob’ são como os zombies.

 

Os zombies são seres humanos que foram contaminados por um vírus que lhes retira a capacidade de pensar - ficam autómatos, e o seu único objetivo é infetar outros humanos. Não vencem pela inteligência ou agilidade, mas sim pelos números.

 

Era exatamente o que estava a acontecer: Um grupo de seres humanos infetado com a ideia de que apenas a sua opinião é valida procura, a todo o custo, infetar humanos que têm ideias diferentes. Estes zombies não querem ouvir nem debater - seu único objetivo é ‘comer’ os cérebros dos humanos que ainda não foram infetados.

 

Agora que compreendia a situação, defini dois objetivos:

1- Fornecer o antídoto a estes zombies, ou, pelo menos, proteção contra a infeção aos humanos que ainda não estavam infetados - esse antídoto é a liberdade de opinião.

2- Aproveitar e fazer publicidade à Prozis. Ao fim ao cabo, os zombies não são muito inteligentes e são fáceis de manipular, porque todos agem da mesma forma.

 

Comecei por enviar declarações para os meios de comunicação onde transmitia a ideia da liberdade de expressão (antídoto) e também fazia o máximo de barulho possível (porque os zombies são atraídos por barulhos altos), através de declarações incendiarias como: ‘Sou incancelável’, ‘não preciso de Portugal, etc.

 

O número de zombies ficava cada vez maior. Então, pensei: Bem, ninguém sabe como sou, por isso posso ser quem eu quiser.

 

Tive a ideia de fazer um’ podcast’ onde executaria o mesmo plano, mas numa dimensão muito maior.

 

Comunicando com bastante velocidade e agressividade, sotaque forte e sem grande elaboração fraseológica, certamente que todos acreditariam que eu sou meio burro.

 

E assim comecei a dizer declarações cada vez mais incendiárias, para atrair o máximo de zombies, como, por exemplo, ‘tenho recursos ilimitados’. Quem é que acreditaria numa declaração tão absurda como esta? Ninguém. Nem nenhum país tem recursos ilimitados. Mas isto atraiu os zombies.

 

‘A Prozis não precisa de Portugal’ - Quem é que poderia acreditar que uma empresa que tem 10 fábricas , mais de 1000 colaboradores, milhares de parceiros , e centenas de milhares de clientes em Portugal, Não precisaria deste pais? Ninguém. Mas isto atraiu os zombies.

 

Quem poderia acreditar que alguém que fica 10 anos sem falar com a comunicação social chega para chamar ‘filhos da puta’ aos seus clientes? Ninguém. Mas isto atraiu os zombies.

 

Também consegui fazer barulho de outras formas criativas: Coloquei uma câmara de filmar a apontar diretamente para os meus olhos, em ‘close up’, dizendo à minha equipa que as pessoas teriam de conseguir ver a minha alma. Eu sabia que havia um tipo de zombies cujo ataque é criticar os defeitos físicos de outro humano com ideias diferentes. Tinha razão.

 

Não poderia deixar de terminar o ‘podcast’ sem falar no antídoto - a minha opinião e a sua relação com a liberdade de expressão.

 

Acho que consegui atingir os meus dois objetivos:

1- Todo o país ficou a falar na liberdade de expressão e a refletir sobre este antídoto.

2- A Prozis teve publicidade como nunca na sua historia. E de graça. Com toda a humildade, acho que merecia um prémio de marketing. Eu calculo que o valor de publicidade conseguida esteja acima dos 10 milhões de euros.

 

Consegui fazer com que os zombies trabalhassem para mim, simplesmente porque eles não pensam.

 

Tenho de agradecer a muita gente.

 

Ninguém sabia do meu plano.

 

Tive amigos e familiares que foram a minha casa em pânico dizendo que eu não podia dizer aquelas coisas… Porque eu não sou assim. A minha mulher dizia o mesmo. O CEO e o CLO da Prozis, desesperados, tentavam convencer-me de que não devia dizer essas declarações incendiárias… Porque eu não sou assim. Um funcionário amigo chorou, dizendo: ‘Eles não estão vendo o verdadeiro Miguel.’

 

Nunca nenhum deles me virou as costas. Todos sempre me apoiaram e confiaram no que estava a fazer. Estarei para sempre grato.

 

Também quero agradecer a todos os humanos que, apesar de todas as minhas declarações incendiárias para atrair os zombies, nunca me julgaram. Enviaram milhares de mensagens, dizendo: ‘Estamos contigo, Miguel. Liberdade de expressão, sempre’, apesar de muitos deles não concordarem com a minha declaração inicial que iniciou toda esta situação.

 

Heróis do mar, nobre povo, nação valente e imortal. Só vos tenho uma coisa a dizer: Quem vem viver a verdade que morreu D.Sebastião?

 

Acho que todos ficamos a ganhar - menos os zombies, é claro. A esses, apenas digo: Xeque-mate!"

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