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Fundador da Prozis contra o aborto: Milhão tem “recursos ilimitados” e considera-se “meio burro”
“Se eu tivesse uma filha que fosse violada, ou a minha mulher fosse violada, eu tentaria falar com ela e cuidava dessa criança. Não consigo sacrificar um inocente pelos crimes de um criminoso. Já falei com a minha mulher sobre isso, mas não me lembro do que ela disse.”
Esta terça-feira, 28 de junho, o fundador da Prozis recorreu ao Youtube para esclarecer a sua posição sobre o aborto, na sequência da polémica que está a provocar o "post" que fez no LinkedIn - "It seems that unborn babies got their rights back in USA! Nature is healing!" ("Parece que os bebés por nascer recuperaram os seus direitos nos EUA! A natureza está a curar-se!"), escreveu Miguel Milhão naquela rede social, manifestando-se a favor da decisão do Supremo Tribunal dos Estados Unidos em revogar a lei do aborto.
No podcast "Conversas do Karalho", que foi criado pelo empresário para os funcionários da Prozis mas que, desta vez, foi aberto ao público, Milhão começou por apresentar-se: "Eu considero-me meio burro. Para meio burro, consegui fazer algumas coisas na vida: fundei uma empresa, tornando-a grande, fiz uma família, visitei 90 países, vivi em quatro sítios diferentes, tenho carta de barco e de avião, fiz Filosofia na universidade…", enfatizou, num "live" que chegou a ter mais de duas mil pessoas a assistir.
Explicando que só abriu o "Conversas do Karalho" ao exterior para "publicar" a sua "mensagem" contra o aborto, após ter sido surpreendido pela dimensão que a polémica gerou - "não estava à espera que tomasse estas proporções, que o pessoal fosse tão agressivo" -, desvalorizou o impacto que a mesma possa ter sobre ele e a Prozis.
"Não preciso de Portugal, a Prozis não precisa de Portugal"
"Eu não vivo aqui, não tenho nada a ver com Portugal, não preciso de Portugal, não preciso da Prozis, tenho recursos ilimitados", argumentou o empresário, que reside nos Estados Unidos, estando por estes dias em Portugal - "Cheguei no dia 15 e vou embora no sábado", sinalizou.
Por outro lado, afiançou, "a Prozis não precisa de Portugal, é uma empresa internacional, será provavelmente a marca portuguesa mais conhecida fora do território. Vive do comércio exterior, 85% é exportação", realçou.
De qualquer forma, admitiu: "Se nós perdermos dinheiro, ou sofrermos por causa disso, é uma fatura que temos que pagar."
"Agora, não vamos ser manipulados por esta ‘mob’ [turba]. As minhas ideias são as minhas ideias, não são as da Prozis. A Prozis não tem ideias - é uma empresa que vive para produzir bens e serviços que tem como objetivo produzir lucro. É uma empresa privada, que tem acionistas, trabalhadores, parceiros, vários tipos de ‘stakeholders’, e todos eles têm opiniões diferentes", sublinhou.
E insistiu: "Não gosto desta ‘mob’, destes filhos da puta. Podem todos deixar de comprar na Prozis", desafiou.
"Se matares o feto, matas tudo"
No vídeo em direto, de aproximadamente 44 minutos, Miguel Milhão afirmou que a sua posição sobre o aborto "nem sequer é religiosa, é ética", alegando até que, "quando estava a tirar o curso de Filosofia" foi "o único da turma a ser contra o aborto".
Sobre a polémica gerada, disse que o que mais o "repugnou" foi aquilo a que chamou "a ditadura das ideias, que é a pior ditadura que há. Para mim, isso é o princípio do fim das civilizações", considerou.
"Eu não ando por aí a perguntar: ‘Fizeste um aborto? Então vou destruir a tua vida. Não quero mulheres assim.’ Isto não tem lógica nenhuma."
"Eu sou contra o aborto e há aqui gente na Prozis que é a favor. E eu não ando aí a ver quem é a favor do aborto e dizer que a quero destruir, só por pensar diferente de mim", frisou o empresário, que recorrer a tabelas e gráficos para justifica a sua posição sobre o aborto: "O desenvolvimento da vida e a sua permanência é o conceito da vida humana. Na minha forma de pensar, matar um embrião ou matar um feto, ou um recém-nascido, ou a criança é a mesma coisa, não há diferença."
Considerando que "a vida" começa no momento da fecundação, atirou: "Se eu matar um idoso, o que é que lhe roubei? As experiências que ele ia ter até morrer de morte natural. E roubaria às outras pessoas a sua presença e a sua energia. Mas se matasse um jovem adulto, roubava muito mais experiências. Se eu matasse uma criança, roubar-lhe-ia aquilo tudo. E se matares o feto, matas tudo. Se roubares o embrião, matas isso tudo", rematou Milhão.
"Eu era um candidato fixe para o aborto"
Já em resposta a um comentário que o questionou sobre a sua posição em relação ao aborto em caso de violação, respondeu: "Se eu tivesse uma filha que tivesse sido violada, ou que a minha mulher tivesse sido violada, eu tentaria falar com ela e cuidava dessa criança. Não consigo sacrificar um inocente pelos crimes de um criminoso. Não consigo fazer essa cena", disse.
De resto, concluiu: "Já falei com a minha mulher sobre isso, mas não me lembro do que ela disse…"
Já em resposta a um comentário sobre a sua imagem, contou: "Nasci cego do olho esquerdo, a minha mãe era nova, tinha 19 anos, solteira, e eu era um candidato fixe para o aborto. Mas ela pensou diferente - na altura mandaram-na fazer e ela não fez, e aqui estou. Sei que estou a fazer um bom trabalho e não é por estar a salvar o mundo, é porque sei que ao meu redor as pessoas estão mais felizes. Isso é que é uma vida útil de serviço", observou.
Sobre a falta de metade da visão, detalhou: "Sou cego do olho esquerdo, não vejo um caralho, está todo fodido. Uma vez fui ao médico, que ficou 40 minutos a olhar para o interior do olho, e disse: ‘Eu nunca vi uma coisa destas. Isto é uma cena inacreditável.’"
Eis Miguel Milhão, o empresário que controla a Prozis, que é uma das maiores empresas de nutrição desportiva da Europa.