28 de setembro de 2000, Lisboa. Uma multidão de fotojornalistas encavalita-se para captar o momento em que, sentados à mesa numa sala do Hotel Altis, dois protagonistas assinam um contrato. O primeiro é um dos mais conceituados jogadores do futebol mundial: Luís Figo, que acabara de trocar o FC Barcelona pelo Real Madrid. O segundo é José Oliveira e Costa, presidente do Banco Português de Negócios (BPN). O contrato previa a cedência de imagem do desportista para efeitos de publicidade da instituição financeira.
Nesse momento ninguém adivinharia o desfecho que chegaria oito anos depois, com uma nacionalização que viria a custar aos contribuintes mais de 6 mil milhões de euros.
Foi em 1993 que o BPN nasceu. Quatro anos depois o principal acionista, Américo Amorim, sai do capital da instituição. Em 1998, Oliveira e Costa, que tinha estado no Governo até meados dessa década – foi secretário de Estado dos Assuntos Fiscais num ministério das Finanças liderado por Miguel Cadilhe – assume a presidência. É com Oliveira e Costa ao leme do BPN que no ano seguinte é criada a Sociedade Lusa de Negócios (SLN), a "holding" do grupo que controlava o banco e também investimentos não financeiros.
E quem controlava a SLN? "Estima-se que sejam 390 os acionistas, a maioria PME", escrevia o Negócios há 15 anos. Entre eles havia empreiteiros, construtoras, farmacêuticas, empresas do ramo da alimentação ou do setor têxtil, entre muitas outras atividades. E também Luís Figo que, além da vertente publicitária, foi acionista, com 2% do capital. Teve com o BPN uma outra ligação através da fundação com o seu nome, na qual Oliveira e Costa chegou a liderar o Conselho Fiscal. Essa relação acabaria por custar 850 mil euros ao futebolista.
A natureza dispersa dos detentores de capital da SLN proporcionou o desenvolvimento de dois dos maiores problemas do banco: por um lado, o financiamento aos próprios acionistas, numa relação de dependência mútua; por outro, a compra de empresas feita sem qualquer racional financeiro ou benefício para o BPN, obedecendo antes ao interesse dos administradores ou detentores de capital, que usavam o banco para adquirir negócios que pudessem ser benéficos para as empresas que controlavam. Exemplos noticiados neste jornal aquando da nacionalização: um administrador tinha negócios relacionados com o imobiliário e, por isso, a instituição comprou uma cimenteira; houve também aquisições de um negócio de castanhas, assim como da Murganheira e das Caves Raposeira.