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Bial compra I&D em Parkinson e investe até 111 milhões nos Estados Unidos

A farmacêutica portuguesa acaba de criar nos Estados Unidos a Bial Biotech, um centro de excelência em terapias na área da doença de Parkinson, tendo adquirido os programas de I&D e integrado a equipa de investigadores da norte-americana Lysosomal Therapeutics Inc.

Bial regista ensaio mortal em França: A reputação da Bial sofreu este ano um forte abalo, após o internamento, em Janeiro, de seis pessoas que participavam, em França, num ensaio clínico de uma molécula do laboratório português. Um dos voluntários acabou por morrer e quatro sofreram lesões cerebrais. O grupo liderado por António Portela abandonou essa investigação, perdendo pelo caminho 'dezenas de milhões de euros'.
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01 de Outubro de 2020 às 12:00
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Duas semanas depois de o medicamento desenvolvido pela Bial destinado a doentes com Parkinson ter chegado às farmácias do maior mercado farmacêutico mundial, o grupo da família Portela anuncia um novo, gigante e ambicioso projeto nos Estados Unidos.

A maior farmacêutica portuguesa constituiu uma filial nos EUA, a Bial Biotech Investments Inc., um centro de excelência focado no desenvolvimento de terapias para mutações genéticas associadas à doença de Parkinson, tendo ainda adquirido os direitos mundiais dos programas de investigação na doença de Parkinson da empresa norte-americana Lysosomal Therapeutics Inc. (LTI).

A Bial Biotech irá também integrar a equipa de investigação da LTI, que será constituída, nesta fase inicial, "por seis investigadores", revelou António Portela, esta quinta-feira, 1 de outubro, num encontro com jornalistas via Zoom.

"Iremos reforçar a equipa, sendo que o objetivo também é intercambiar investigadores - de cá para lá e de lá para cá, mas que não é possível neste momento por causa da pandemia", lamentou Portela.

O valor global da operação poderá atingir os 130 milhões de dólares (cerca de 111 milhões de euros), "um montante que estará dependente do cumprimento de diversas metas, decorrentes do desenvolvimento e aprovação das moléculas adquiridas", ressalvou o CEO da Bial.

A Bial Biotech tem sede em Cambridge, nos arredores da cidade de Boston, aquele que "é considerado um ‘hub’ mundial de investigação nas áreas da saúde e da biotecnologia".

"A nossa entrada nos Estados Unidos com a criação da BIAL Biotech e a aquisição destes promissores compostos, é um passo decisivo para a concretização da nossa missão de contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas em todo o mundo", enfatizou António Portela, classificando como "um marco de enorme relevância" o desenvolvimento deste centro de investigação no país.

"Estamos a investir em ciência e em investigação, agora via a nossa presença num dos mais importantes ‘hubs’ de investigação mundiais numa das áreas mais promissoras da medicina", sublinhou.

Nota relevante: a doença de Parkinson é a segunda doença neurodegenerativa mais comum, depois da doença de Alzheimer, estimando-se que só nos Estados Unidos vivem cerca de um milhão de pessoas com esta doença.

"No ano passado, o valor do mercado de Parkinson nos Estados Unidos foi de 760 milhões de dólares (648,2 milhões de euros). É o maior mercado de Parkinson a nível mundial", salientou António Portela ao Negócios.

Na Europa, estima-se que existam 1,2 milhões de pessoas com Parkinson.

A aquisição dos ativos da LTI, realça a Bial, possibilita a ampliação do "pipeline" da companhia e permite à BIAL Biotech contar, desde o seu arranque, com uma equipa de I&D, que será liderada por Peter Lansbury, professor de neurologia na Harvard Medical School "e uma referência no âmbito da doença de Parkinson geneticamente determinada, até à data responsável pela I&D da LTI".

"Com esta aquisição, a empresa está a expandir o seu ‘pipeline’, nomeadamente com a integração de compostos da área das neurociências já em fase de desenvolvimento clínico, concretamente para a doença de Parkinson, onde a farmacêutica portuguesa já atua", sublinha a Bial, em comunicado.

"Os compostos que adquirimos têm como princípio da sua investigação a análise genética, uma vertente nova para nós. O composto em fase mais avançada, e que tem agora o nome de código ‘BIA 28-6156/LTI-291’, apresenta um mecanismo de ação inovador e tem potencial para ser o primeiro fármaco modificador da doença de Parkinson. Completou a fase I de ensaios clínicos e deverá entrar em fase II em 2021. Passamos do tratamento sintomático para uma intervenção nos mecanismos da doença, o que representa para Bial um desafio enorme", frisou o CEO da Bial.

"Estamos muito satisfeitos com esta integração na Bial", refere Kees Been, antigo CEO da LTI e agora CEO da BIAL Biotech.

"Estamos confiantes de que com o compromisso e os recursos da Bial conseguiremos dar um novo impulso aos nossos programas de investigação dirigidos ao tratamento personalizado dos pacientes com doença de Parkinson geneticamente determinada", promete, no mesmo comunicado da Bial.

A companhia farmacêutica sediada na Trofa explica que o "BIA 28-6156/LTI-291" é uma molécula dirigida a doentes de Parkinson que apresentam uma mutação no gene GBA-1 - "uma variante genética encontrada em 10% a 15% da população com doença de Parkinson, sendo que os pacientes com esta mutação desenvolvem a patologia precocemente e com uma progressão mais rápida", sintetizou.

Recorde-se que, além do Ongentys, o seu medicamento para a doença de Parkinson, a Bial tem no mercado aquele que foi o primeiro fármaco desenvolvido pela companhia, o antiepilético Zebinix.

Os dois medicamentos próprios da Bial representam mais de metade da faturação da empresa, que foi de 309 milhões de euros em 2019, contra 270 milhões no ano anterior, tendo as vendas nos mercados internacionais, para mais de 50 países, representado 75,8% do total.

Trabalham na Bial mais de mil pessoas, dos quais cerca de 160 em I&D, de 14 nacionalidades.
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