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Luís Portela deixa a liderança da Bial: “Vou procurar conhecer a melhor versão de mim. É minha intenção visitar o Tibete”

O dono da farmacêutica entrega o cargo de “chairman” a Horta Osório, em abril próximo, para se dedicar à Fundação Bial, aos seus livros e à família. “Sobretudo desejo saber aproveitar a disponibilidade de tempo que vou ter para me procurar conhecer melhor”, confidenciou ao Negócios.

Luís Portela & família - Fortuna: 502 milhões de euros
Principais activos: Bial
Luís Portela abandona a liderança da Bial em abril próximo, sendo substituído no cargo de "chairman" por António Horta Osório.
23 de Janeiro de 2021 às 15:00
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Nascido em 28 de julho de 1951, em Águas Santas, no Porto, Luís Portela teve uma "infância tristonha" e começou a trabalhar muito cedo - com apenas 17 anos, para justificar a mesada paterna.

 

Era "um jovem que queria sobretudo ser útil ao outro, e que pensou em formas diferentes de ser útil ao outro. Pensou ser frade, monge tibetano e médico", contou o próprio, já lá vão uns 10 anos, ao Negócios. Escolheu Medicina.

 

Aos 21 anos, quando estava a meio do curso, o pai, António Emílio Portela, faleceu. Luís foi médico durante três anos no Hospital de São João, e deu aulas de Psicofisiologia, na Faculdade de Medicina do Porto, durante seis anos.

 

Até que, em 1978, como o seu irmão mais velho, que então geria a Bial, não lhe comprava a participação, acabou por adquirir as ações dos outros acionistas.

 

O médico decidiu então abandonar o doutoramento em Londres e recuperar a empresa fundada, nos anos 20 do século passado, pelo seu avô, Álvaro Portela, conjuntamente com o sócio, o senhor Almeida. Daí o nome Bial, porquanto a empresa foi criada pelo dois "al" - Almeida e Álvaro.

 

Transformou um pequeno laboratório numa companhia de elite mundial

 

À frente da Bial, Luís pensou para a empresa uma estratégia assente na inovação. Ao contrário das concorrentes, que apresentavam cópias, procurou "licenciar novas tecnologias, novos medicamentos com empresas multinacionais para trazer para Portugal".

 

E em 1992 a Bial arrancou as suas atividades em I&D, onde anualmente investe cerca de 20% das suas receitas.

 

Luís Portela transformou os pequenos Laboratórios Bial na maior farmacêutica portuguesa, tendo ousado investir numa estratégia de longo prazo para integrar a Bial num grupo de elite à escala mundial - os criadores de medicamentos.

 

E foi preciso ter paciência de monge tibetano, visão estratégica do tamanho da China e espírito empreendedor para esperar anos e anos até à obtenção de resultados.

 

Já lançou no mercado mundial os primeiros medicamentos de investigação portuguesa - um para a epilepsia (o Zebinix) e outro para a doença de Parkinson (o Ongentys), nos quais investiu mais de 600 milhões de euros. E abriu recentemente um centro de I&D nos Estados Unidos.

 

A Bial tem fábrica na Trofa e 10 filiais, e emprega hoje 1.011 pessoas, dos quais 10% são doutorados, tendo 150 profissionais a trabalhar em I&D, de 17 nacionalidades.

 

Exportando para 60 países, fechou o pandémico ano de 2020 com uma faturação de 344 milhões de euros, mais 11,3% do que no ano anterior, com 80% a ser garantida nos mercados externos.

 

"Sou incapaz de fazer mal a uma mosca. Sou um pacifista que alarga o pacifismo ao universo"

 

Esta quinta-feira, 21 de janeiro, após 42 anos de liderança da Bial, tendo há uma década entregado a presidência executiva da companhia ao filho mais velho, António, Luís Portela anunciou a sua substituição no cargo de "chairman", em abril próximo, por António Horta Osório, o banqueiro que está de saída da liderança do britânico Lloyds e que vai ser "chairman" do Credit Suisse a partir de maio.

 

"Decidi retirar-me da vida profissional porque vou fazer 70 anos dentro de meses e porque fomos preparando na Bial a minha saída desde há alguns anos", explicou Luís Portela ao Negócios, adiantando que irá dedicar-se à Fundação Bial, aos seus livros e à família.

 

A paixão pela escrita, pela leitura e pelo conhecimento fazem de Luís Portela um escritor compulsivo.

 

Ao longo da sua vida publicou já vários livros sobre o sentido da vida e a espiritualidade, como "Para Além da Evolução Tecnológica", "À Janela da Vida", "O Prazer de Ser", o"Ser Espiritual - Da Evidência à Ciência" ou "Da Ciência ao Amor - Pelo Esclarecimento Espiritual", em que aprofunda um dos principais interesses que tem atravessado toda a sua obra já publicada - a compreensão da dimensão integral do homem, tanto sob os aspetos físicos como do ponto de vista espiritual.

 

Luís Portela é um pacifista. "Sou incapaz de fazer mal a uma mosca. Se ela me incomodar apanho-a com a mão (20 anos de karaté permitem-me a concentração para apanhar a mosca à mão), abro a janela e ponho-a lá fora. Eu não mato uma mosca, como não mato uma centopeia. Sou um pacifista que alarga o pacifismo ao universo", afirmou ao Negócios no verão de 2009.

 

De entre as obras que mais o marcaram está "O Livro do Caminho Perfeito", de Lao Tsé.

 

E agora? "É minha intenção visitar o Tibete, coisa que antes nunca tive oportunidade de fazer. Mas, sobretudo, desejo saber aproveitar a disponibilidade de tempo que vou ter para me procurar conhecer melhor, nomeadamente a melhor versão de mim", confidenciou Luís Portela, esta quinta-feira, ao Negócios.

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