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Banca com lucros históricos "devia ter tido maior contenção"
Os lucros excecionais da banca portuguesa em 2023 são "devidos e legítimos", mas devia ter havido "maior autocontenção", defende Gonçalo Moura Martins. "A banca voou alto, assegurou com esta rendibilidade a regeneração necessária e agora vai aterrar adequadamente", afirma António Ramalho. Novo episódio do podcast Partida de Xadrez vai para o ar esta segunda-feira.
Os resultados históricos obtidos em 2023 pelos cinco maiores bancos portugueses, impulsionados pela escalada da margem financeira, são "devidos e legítimos", afirma Gonçalo Moura Martins, que entende no entanto que "devia ser exigível à banca maior autocontrole em duas dimensões: o crescimento das taxas de juro passivas (remuneração dos depósitos) e o nível de comissões que cobra aos clientes".
O responsável critica a lentidão com que as instituições financeiras portuguesas subiram as taxas dos depósitos, contrastando com a rapidez com que aumentaram os juros nos empréstimos.
No quinto episódio do podcast Partida de Xadrez, que vai para o ar esta segunda-feira no site do Negócios e nas principais plataformas, António Ramalho recorda que os cinco maiores bancos – Caixa Geral de Depósitos, Millennium BCP, Santander Totta, BPI e Novo Banco - tiveram 4,308 mil milhões de euros de lucro no ano passado, quando em 2013 as mesmas instituições anunciavam prejuízos de 1,150 mil milhões.
"Tenho pena que a banca não tenha aproveitado este momento para antecipar custos futuros, assegurar investimentos necessários – nomeadamente tecnológicos - e sobretudo manter provisões muito cautelosas", diz ainda.
Para António Ramalho, "a banca voou alto, assegurou nesta rendibilidade a capacidade de regeneração que era necessária e agora vai aterrar adequadamente e deixar os passageiros satisfeitos pela jornada que foi necessária fazer, e que encerra um período que começou em 2010 e termina em 2023".
Elogiando "a capacidade de regeneração e de gestão dos bancos", o antigo CEO da Mota-Engil deixa ainda o alerta que "a banca já está a descer taxas [dos depósitos]". "Quando não existe ainda uma clareza grande relativamente às taxas de juro ativas, porque é que já estão a descer ativamente as taxas de juro passivas?", questiona.
Apesar de uma inevitável redução da margem financeira dos bancos em 2024, Moura Martins acredita que este "vai continuar a ser um bom período para o setor bancário".