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61% dos emigrantes não pensam regressar a Portugal, alerta estudo da Business Roundtable

"Se não agirmos rapidamente, Portugal continuará a perder a capacidade e a esperança de se tornar um país mais desenvolvido, justo, próspero e sustentável", conclui o estudo da associação de empresários e da consultora Deloitte.

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Miguel Baltazar
03 de Julho de 2024 às 20:56
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De acordo com um estudo da associação Business Roundtable (BRT) e da consultora Deloitte, nos últimos 20 anos tem-se assistido a uma fuga de talentos em Portugal, com 1,5 milhões de portugueses a deixarem o país nestas duas décadas. "Com 26% da população a viver no estrangeiro, somos o 8º país do mundo com mais emigrantes. Destes, um terço são jovens e jovens adultos entre os 15 e os 39 anos", refere a análise, sublinhando que "a situação tende a agravar-se".

Isto porque cinco em cada 10 jovens da chamada geração Z (14-29 anos) demonstraram propensão para emigrar, de acordo com o mesmo estudo do BRP/Deloitte. Além disso, refere a análise, dos 875 mil portugueses que emigraram entre 2011 e 2021, apenas 132 mil voltaram a Portugal. Ou seja: apenas um em cada sete portugueses que saíram, regressou. A longo prazo, a situação continuará a ser desafiante, já que 61% dos emigrantes não consideram regressar ao país.

"Num mundo globalizado, onde o conhecimento e a experiência internacionais são fundamentais para o crescimento pessoal, empresarial e nacional, a saída dos jovens é compreensível e até benéfica. No entanto, o verdadeiro problema é a falta de motivação e vontade deste talento em regressar.  Se não agirmos rapidamente, Portugal continuará a perder a capacidade e a esperança de se tornar um país mais desenvolvido, justo, próspero e sustentável", conclui o estudo.

"O grande talento nacional é um tema para o qual queremos chamar a atenção. Não por ser novo, mas pelas implicações negativas que está a ter no progresso económico e social de Portugal e que tenderão a agravar-se nos próximos anos se nada fizermos, assinalou Carlos Moreira da Silva, presidente da BRP na abertura da conferência da associação, sublinhando que "60 anos depois de uma vaga de imigração portuguesa não pensámos que estaríamos agora a ser confrontados com uma nova vaga". 

"Hoje o país é outro e o talento é outro. No mundo global onde nos inserimos, a saída motivada pela procura de conhecimento, de novas oportunidades de desenvolvimento profissional e pessoal, de experiências interculturais, é de encorajar. O problema não está na saída, que aplaudimos, mas sim na falta de motivação do talento para regressar", avisou. 

Na sua opinião, é fundamental que se criem políticas públicas estruturais, competitivas e eficazes, de promoção e valorização dos sucessos das pessoas e das empresas. "Não podemos perder mais tempo. É igualmente essencial criar uma cultura mais encorajadora e reconhecedora de quem arrisca, inova, investe, se esforça e é bem sucedido".

A associação BRP levou a cabo um estudo para o qual falou com mais de 5 .500 pessoas sobre o potencial de saída do país. "Os resultados são claros: um em cada quatro portugueses querem sair do país. E a cada nova geração este valor duplica, Ou seja, 12,5 % para a geração X, o dobro disso para os millennials (25%) e novamente o dobro para a geração Z. Quase metade da geração Z quer sair do país", disse por seu lado Pedro Ginjeira do Nascimento, secretário-geral da BRP.

Além disso, o mesmo estudo perguntou a quem está lá fora se deseja regressar ao país. "Três em cada cinco não querem regressar. Este é verdadeiramente um problema grave que temos", frisou, porque "um país que não cresce, não cria oportunidades. E como o talento é cada vez mais móvel, ele vai atrás das oportunidades".

De acordo com o responsável, não só temos a geração mais qualificada de sempre, como também a imigração mais qualificada de sempre. "Entre um quarto e um terço de toda a nossa capacidade de licenciar portugueses, sai todos os anos. Em 10 anos, isto representa 16 a 20 mil milhões de euros de investimentos públicos, na forma privada, de famílias, que perdemos. Mas a magnitude do impacto da saída dos jovens não tem só a ver com o custo de reposição dos licenciados, é muito maior. E é tão grande que exige que procuremos uma solução", frisou. 

Já no que diz respeito aos salários, a BRP defende que uma das principais razões para os baixos salários em Portugal é a falta de produtividade da economia, o que está, por sua vez, ligado à falta de grandes empresas."Precisamos de mais grandes empresas", disse Pedro Ginjeira do Nascimento. Quanto a impostos, estes pesam muito mais sobre os salários em Portugal do que noutros países europeus. "Não há forma de pedir aos trabalhadores e às empresas para conseguirem compensar esta desvantagem fiscal com mais produtividade", remata.
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