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Ascensão e queda de Odebrecht III

Marcelo Odebrecht foi educado para liderar o grupo empresarial fundado pelo seu avô há mais de 70 anos. Apanhado na operação Lava Jato, foi esta terça-feira condenado a mais de 19 anos de prisão.

Bloomberg
08 de Março de 2016 às 18:20
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Num estado de saúde debilitado, segundo a sua Defesa, Marcelo Odebrecht viu-se esta terça-feira condenado a 19 anos e quatro meses de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa na operação Lava Jato.


A condenação não surpreendeu os responsáveis da maior construtora brasileira, já que têm sido desta dimensão as penas aplicadas pelo juiz federal Sérgio Moro aos executivos envolvidos neste escândalo que não fizeram um acordo de delação.

Preso desde 19 de Junho de 2015, no mesmo dia em que foi detido o presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo, o empresário vai agora apresentar recurso, o qual será analisado por outro juiz.

Desde o primeiro momento que alega inocência. E foi isso mesmo que a sua Defesa repetiu ainda a 1 de Março passado, sustentando que não existem documentos nem testemunhos que provem a prática de crimes.

Definido como um "workaholic", com uma capacidade de trabalho acima da média. Calmo, discreto, recatado. Um homem de família, sem uma vida social pública. Características que terão sido decisivas para que chegasse à presidência da Odebrecht em 2009, representando a terceira geração à frente da companhia, fundada pelo seu avô em 1944.

Odebrecht III, como lhe chamam os colaboradores, foi educado para gerir a empresa da família. Chegou a ser considerado um dos líderes mais respeitados pelos seus pares e a posicionar-se no 22.º lugar nos "60 mais poderosos do Brasil".

De acordo com um perfil do jornal O Globo, publicado após a sua detenção, Marcelo – mais introvertido do que o pai Emílio e menos carismático que o avô Norberto – teve a benção de todo o clã para conduzir os negócios, por ser empreendedor, capaz de desenvolver o grupo e de imprimir um ritmo mais arrojado.

Nascido em 1968, formou-se em engenharia civil em 1992, altura em que entrou na empresa. De um volume de negócios de 38 mil milhões de reais (9 mil milhões de euros) em 2009, o grupo passou, com a sua gestão, a registar uma facturação de 107 mil milhões de reais (quase 26 mil milhões de euros) em 2014.

Para os media brasileiros, a 19 de Junho de 2015 perdeu a altivez. Cenas da sua prisão mostravam-no um homem cabisbaixo e acossado, retratou O Globo.

Detido há quase nove meses, os seus advogados vieram agora pedir mais atenção à saúde do empresário, alegando que ele está numa situação clínica precária. Esta semana, o jornal Estado de São Paulo dava conta de um documento anexado aos autos da operação Lava Jato recomendando um reforço de três em três horas na alimentação de Marcelo Odebrecht e uma autorização para apanhar sol diariamente.

No documento, em que pedem que Marcelo Odebrecht volte ao complexo médico-penal de onde foi transferido há cerca de duas semanas para a Superintendência da Polícia Federal de Curitiba, os seus advogados falam de "condições clínicas precárias", de perda de peso e anemia.

Um quadro clínico que não evitou que esta terça-feira fosse condenado juntamente com outros executivos da Odebrecht, aplicando-lhes o juiz uma multa de 108.809.565 reais (mais de 26 milhões de euros), considerado o valor mínimo necessário para indemnização dos danos decorrentes dos crimes, a serem pagos à Petrobras.

Marcelo Odebrecht, que em 2007 foi recebido em audiência pelo Presidente da República Cavaco Silva então enquanto administrador da Odebrecht - Engenharia e Construção, não estava em Portugal quando o grupo convidou em 2013 Lula da Silva para a comemoração dos 25 anos da sua presença no país. Um evento que levou o ex-presidente do Brasil a participar no lançamento do livro de José Sócrates e que não ficou de fora das investigações da operação Marquês.

Também Pedro Passos Coelho acabou por ser referido em notícias dando conta de alegados pedidos de Lula da Silva, que está a ser investigado no Brasil por tráfico de influências, para interceder a favor da Odebrecht na privatização da EGF. Uma operação a que o grupo não chegou a concorrer.

A Odebrecht comprou a construtora Bento Pedroso Construções em 1988, entretanto renomeada Odebrecht Portugal, com uma história relacionada com algumas das maiores infra-estruturas realizadas no país, como a ponte Vasco da Gama ou a barragem do Alqueva.

Em Setembro do ano passado, ao Negócios, Fábio Januário, que lidera a Odebrecht Portugal, dizia não acreditar que o processo no Brasil, que levou à prisão do presidente do grupo, provocasse danos na operação internacional do grupo. Garantia que em Portugal não estava a sentir "qualquer efeito na actividade empresarial", sublinhando que "os clientes reconhecem que a situação está restrita ao Brasil".

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