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Setor dos serviços já perdeu mais de 66 mil milhões de euros devido à covid-19
Os profissionais do setor terciário continuarão a registar quebras médias na ordem dos 44%, pelo menos até abril, o que se poderá traduzir em menos quatro mil milhões de euros mensais, aponta um estudo da plataforma de contratação de serviços locais Fixando.
Ainda que se tenha registado um pequeno crescimento nos meses posteriores ao primeiro confinamento, e que seja expectável que esse crescimento se verifique em 2021 aquando do alívio das medidas deste segundo confinamento, o setor dos serviços continuará em crise por não ter tido espaço para recuperar rapidamente o impacto negativo da pandemia que se fez sentir num primeiro momento.
"Estimamos que o primeiro confinamento tenha provocado quebras mensais na ordem dos 880 milhões de euros aos profissionais deste setor, o que, tendo em conta a conjuntura de todo o ano de 2020, se possa ter traduzido numa perda anual superior a 66 mil milhões de euros para o setor dos serviços", concluiu um estudo da plataforma de contratação de serviços locais Fixando, a que o Negócios teve acesso.
Segundo este estudo, o setor dos serviços registou quebras mensais em março e abril de 2020 superiores a 89% comparativamente aos dois meses anteriores, tendo a partir de maio, com o desconfinamento, verificado "uma recuperação positiva, tendo mesmo, em julho, atingido uma taxa de crescimento próxima dos valores de janeiro do mesmo ano", realça a Fixando.
Contudo, a partir de agosto e setembro, com o regresso ao trabalho, à escola e com o aumento de casos, "a tendência de crescimento reverteu-se e assistimos a uma quebra no crescimento que chega a atingir, em dezembro, valores inferiores a março de 2020", quando se deu o primeiro confinamento, nota.
E agora? "Para janeiro de 2021 as expectativas eram altas - o novo ano traz, tradicionalmente, novos projetos e, consequentemente, novas oportunidades de negócio", mas eis que "o segundo confinamento não deu espaço ao setor para recuperar dos meses anteriores e, seguindo-se a tendência do primeiro confinamento", a Fixando projeta que "o setor continuará a registar quebras médias na ordem dos 44%, pelo menos até abril, o que se poderá traduzir em menos quatro mil milhões de euros mensais para os profissionais desta área".
"As perdas projetadas, pelo menos até abril, irão impactar a urgente recuperação económica do setor e irão afastar a possibilidade de atingir, ainda este ano, os valores auferidos num contexto pré-pandemia", alerta Miguel Mascarenhas, CEO da Fixando, em declarações ao Negócios.
"É, por isso, necessário apostar na recuperação a partir do segundo semestre de 2021, de forma a que no início de 2022 o setor consiga alcançar um saldo positivo e dar continuidade ao crescimento a que foi habituado nos últimos anos", preconiza.
Relativamente às expectativas para o setor, "adivinham-se meses difíceis, caso a conjuntura atual se prolongue, com todas as restrições em vigor, algumas empresas poderão não aguentar e fechar por completo, o que, aquando a retoma da normalidade, poderá traduzir-se num desequilíbrio dos mercados", avisa o mesmo empresário.
Assim, defende Mascarenhas, "é necessário neste momento, por parte dos profissionais da área, não só um esforço extra para garantir a sustentabilidade dos seus negócios e os postos de trabalho dos seus colaboradores, mas também o reforço sistemático da sua presença online e a continuação do investimento na modernização e adaptação das suas operações à nova realidade que todos vivemos - só desta forma conseguirão sobreviver", conclui.
Voltando ao estudo, a Fixando avança que, "caso as medidas sejam aliviadas, a partir de maio, será possível assistirmos a um crescimento na ordem dos 69% que permitirá, ainda que lentamente e com algumas quebras típicas da sazonalidade, recuperar dos meses anteriores", considera.
Eventos em situação "dramática", casa e animais em recuperação
Projeta também que, à semelhança de outros anos, e com a continuação das restrições nos eventos, "se registará uma quebra na ordem dos 25% entre novembro e dezembro de 2021".
Ainda assim, ressalva, "o ano de 2021 não permitirá regressar aos valores pré-pandemia, projetando-se que, num cenário otimista, o saldo anual fique cerca de dois mil milhões de euros abaixo dos valores registados em anos anteriores".
Por subsetores analisados, para o de eventos, onde a queda do negócio "é dramática", a Fixando estima que em dezembro de 2021 esta área de atividade registe perdas na ordem dos 890 milhões de euros.
Já para o de serviços para a casa, o mesmo estudo projeta que "as quebras durante um segundo confinamento seja recuperáveis a partir de março, ultrapassando, logo em julho de 2021, os valores positivos de crescimento pré-pandemia".
Quanto ao subsetor das aulas, prevê que "estabilize a partir de março e consiga recuperar, ainda que muito ligeiramente, em maio, altura dos exames nacionais", enquanto no de bem-estar, no qual o serviço de psicologia, por exemplo, "registou em 2020 um crescimento de 695% face ao ano anterior", projeta-se "um crescimento rápido após abrir de 2021".
Já no subsetor dos serviços para animais, o estudo sinaliza que, "até abril sentir-se-á uma ligeira quebra que será revertida, caso as medidas sejam aliviadas e os portugueses possam ir de férias, até pelo menos julho, onde se poderá atingir uma variação positiva na ordem dos 218% comparativamente aos valores pre-pandemia".
Serviços domésticos a saírem do sufoco, deflação atinge assistência técnica
Relativamente ao subsetor dos serviços domésticos, cujas receitas registaram "uma quebra na ordem dos 81% entre janeiro e março de 2020, registando-se uma recuperação fortemente acentuada entre maio e junho, na ordem dos 381%", o estudo projeta agora, para um segundo confinamento, que esta área de atividade "continue em queda - ainda que menos acentuada, conseguindo uma recuperação, na ordem dos 164% em maio, face a janeiro de 2021".
Finalmente, no caso particular do subsetor da assistência técnica, que é considerado essencial, independentemente das restrições em vigor, "projeta-se que não sofrerá um grande impacto no segundo confinamento, ainda assim, a conjuntura económica poderá provocar uma deflação do preço médio por serviço, sentindo-se, por isso, uma ligeira quebra no volume total estimado de transações".
As projeções apresentadas pela Fixando, garante a empresa, teve como base os valores disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) relativamente ao setor dos serviços em 2018, considerando que o valor de uma série de subsetores selecionados, como os de casa, eventos, bem-estar, ou assistência técnica, ascenda aos 98 mil milhões de euros de transações anuais.
A Fixando refere, ainda, que os dados recolhidos para este estudo tiveram em consideração o valor estimado de vendas no setor e nos seus subsetores através da análise da atividade de "mais de 90 mil profissionais e clientes" que garante ter na sua plataforma.
Apesar do ambiente geral de crise que se sente em todas as áreas devido à pandemia e às restrições ao trabalho por esta impostas, o CEO da Fixando considera que "existe um espaço no mercado online para o setor dos serviços que pode - e deve - ser explorado e conquistado pelos profissionais".
Ao fazerem-no, defende Miguel Mascarenhas, "conseguirão estabelecer um novo canal de aquisição de clientes para apresentarem e prestarem os seus serviços sem estarem dependentes das distâncias físicas, viabilizando os negócios a longo prazo, fora dos modelos tradicionais, e indo de encontro às alterações que temos presenciado nos hábitos dos consumidores e que se manterão no futuro", remata, em entrevista ao Negócios.