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Mercado livreiro cresce 9,4% em 2024 pela "mão" dos jovens e da ficção

Vendas de livros mantiveram tendência de crescimento, com o "contributo decisivo" das gerações mais novas. APEL defende prolongamento do cheque-livro e reforço do valor de 20 para 100 euros para que essa narrativa não mude.

Jorge Miguel Gonçalves
19 de Fevereiro de 2025 às 14:15
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O mercado livreiro português cresceu 9% em valor em 2024, superando assim os 205 milhões de euros, com a venda de aproximadamente 14 milhões de unidades. 

É o que revela a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), com base nos dados da GfK, que monitoriza as vendas de edições gerais através dos retalhistas do seu painel. Da análise da consultora, que audita cerca de 80% do mercado, ficam de fora, por exemplo, o livro escolar e campanhas, bem como os canais de vendas online.

Depois de um crescimento de 7%, em 2023, o mercado manteve assim a tendência, que advém maioritariamente do aumento de livros comprados na categoria de ficção, que subiu 13%, nomeadamente a literatura (12%), a ficção infantojuvenil (15%) e a literatura Importada (20%). A categoria de não ficção apresentou uma evolução de 4%.

"Mantém-se a tendência de crescimento registada desde a pandemia, o que constitui um sinal muito positivo para o setor do livro, mas que acima de tudo é auspicioso para o futuro do nosso país, na medida em que os livros e a leitura desempenham um papel decisivo no desenvolvimento do potencial humano. Temos de assinalar e celebrar esta tendência, ainda para mais quando continuamos a constatar o contributo decisivo das gerações mais novas para este crescimento", diz o presidente da APEL, Miguel Pauseiro, citado num comunicado enviado, esta quarta-feira, às redações.

Segundo a APEL, "o mercado continua a crescer muito por efeito da compra de livros pelas faixas etárias mais novas, nomeadamente na categoria de ficção".

"É o resultado de um esforço coletivo que começa nos jovens, mas que envolve pais, educadores, influenciadores, autores, editores, livreiros, entidades e organismos públicos, e que está a dar frutos", observa Miguel Pauseiro, considerando, no entanto, que esse resultado "está longe de estar consolidado". "Há muito para fazer. Não podemos permitir que seja uma moda passageira, mas sim uma mudança estrutural que vinque a centralidade do livro no processo educativo e formativo das crianças e dos jovens, bem como nas relações interpessoais, familiares e sociais", complementa.

Neste sentido, a APEL defende que "é determinante dar continuidade a este movimento de congregação de esforços", reiterando que uma das medidas que trará benefícios duradouros é o reforço do Programa Cheque-Livro, assegurando desde já futuras edições até ao final da legislatura e aumentando o valor de 20 para os 100 euros.

Segundo os dados da GfK, o crescimento ocorreu de forma homogénea no canal livreiro e na grande distribuição, em 2024, refere a APEL destacando ainda "uma maior concentração de vendas no conjunto dos mil títulos mais vendidos, que representaram mais de 50% das unidades vendidas, uma subida de três pontos percentuais face ao ano anterior". 

Já o número de novos títulos editados aumentou 11%, o que, para Miguel Pauseiro, "é revelador da dinâmica que os editores estão a imprimir no mercado e do risco que estão dispostos a correr, como principais financiadores da cadeia de valor, para garantir o seu papel nesta missão coletiva de aumentar a literacia da nossa sociedade".

O livro importado -  em língua estrangeira, oriundo de mercados com maior escala e onde as novidades editoriais são lançadas por antecipação – também vendeu mais. Aliás, teve mais do dobro da taxa de crescimento das vendas de livros do mercado no seu todo (20%), refere a mesma nota.

A APEL sublinha que se trata de uma tendência que acompanha o comportamento registado em toda a Europa, onde há países em que o peso do livro importado supera já os 20% (nalguns casos supera mesmo os 25%). Em Portugal, nas estimativas da orgamização, terá um peso entre 5% a 8% do total do mercado nacional.

E, a este respeito, embora reconheça que são "inegáveis" os benefícios da leitura de diferentes géneros, nos mais diversos formatos e línguas, são inegáveis, a APEL afirma que "não pode deixar de se revelar bastante preocupada, à semelhança das suas congéneres europeias, com as consequências do acentuar desta tendência que, a manter-se, vai seguramente arrastar questões de diversidade linguística e induzir problemas de sustentabilidade ao setor editorial".

"A defesa da língua deve ser uma prioridade, pelo que são necessárias medidas de promoção e apoio do livro em português", enfatiza.

A APEL aproveita ainda o balanço do ano para apontar que o atual momento que o setor editorial e livreiro vive é "positivo", mas "carece de consolidação". Assim, argumenta, "Este é o contexto ideal para se equacionar medidas de apoio à instalação de novas livrarias em muitas zonas do país onde há uma maior dificuldade de acesso ao livro; rever a Lei do Preço Fixo do Livro, (...) e apoiar autores de língua portuguesa, de cuja capacidade criativa depende a existência de novas obras e para reforçar os orçamentos para a aquisição de livros para bibliotecas municipais e escolares".

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