Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

José Avillez: Filho de família com brasão tornou-se estrela no meio dos tachos

O menino de Cascais, que sonhou ser carpinteiro e, depois, arquitecto, acabou na cozinha e tornou-se o mais estrelado chef português. Em sete anos, José Avillez montou um grupo de restauração, já com duas dúzias de espaços, com o apoio de uma das famílias mais ricas do país.

05 de Junho de 2018 às 21:00
  • ...

Nasceu no seio de uma família com brasão, em 24 de Outubro de 1979, em Lisboa, um ano e meio depois da sua única irmã, Teresa de Avillez Burnay Ereira.

 

Filho de José Burnay Nunes Ereira, trineto do 1.º conde de Burnay, e de Maria de Fátima de Miranda de Avillez, trineta do 1.º visconde do Reguengo e 1.º conde de Avillez, José de Avillez Burnay Ereira deixou cair a herança onomástica paterna e tornou José Avillez numa marca, um modelo de negócio que dá corpo a um império gastronómico daquele que é o mais estrelado chefe português.

 

Órfão de pai aos sete anos, José foi viver para uma quinta do avô, perto da praia do Guincho. Em Cascais passou a infância e a adolescência, brincando muito ao ar livre, a buscar fruta nos pomares e galinhas à capoeira, e, à noite, a apanhar chocos e lulas no mar com um anzol e um cabo de vassoura.

 

Andava sempre com uma caixa de ferramentas. Gostava de fazer trabalhos manuais. Tinha o sonho de ser carpinteiro, mas um primo mais velho, de 10 anos, convenceu-o de que, se queria ganhar dinheiro, o melhor seria tornar-se arquitecto.

 

José até tinha jeito para a coisa, pois, com 17 anos, foi o arquitecto e constutor dos canis que acolhiam os cães da quinta.

 

Aos 18 anos, na hora de escolher o curso superior, o engenhocas José, que já se via como um empreendedor, sonhando criar o seu próprio negócio, optou por seguir Comunicação Empresarial.

 

Licenciou-se pelo Instituto Superior de Comunicação Empresarial, em Lisboa, com uma tese dedicada ao estudo da identidade e da imagem da gastronomia portuguesa. Nota de avaliação: 16 valores.

 

Foi nessa altura, em plenos estudos universitários, que decidiu ser cozinheiro. E conheceu Maria de Lourdes Modesto, a principal autora sobre gastronomia tradicional portuguesa, que o ajudou na preparação da tese de conclusão de licenciatura.

 

Estagiou no famoso restaurante espanhol El Bulli com Ferran Adrià

 

Habituado até ao momento a cozinhar para família e amigos, em 2001 José entra na cozinha da Fortaleza do Guincho, em Cascais, para iniciar o seu primeiro estágio profissional. Trabalhou 14 horas por dia durante seis meses.

  

Seguiu-se estágios em diversos restaurantes, em Portugal e no estrangeiro, tendo passado por cozinhas de grandes mestres mundiais, como Ferran Adrià, do espanhol famoso El Bulli, que transformou a sua visão sobre a cozinha.

 

Por essa altura, em 2005, na sequência do trabalho realizado e de um jantar de apresentação que preparou no Hotel Bristol em Paris, recebeu o prémio "Chef d'Avenir", atribuído pela Academia Internacional de Gastronomia, composta por representantes de mais de 40 países de todo o mundo.

 

Após ter passado pelo Brasil, regressou a Portugal em 2006 para criar um negócio de "take-away" - o "JÁ em Casa", que correu mal.

 

Dois anos depois, assumiu o lugar de chefe executivo do histórico restaurante Tavares, em Lisboa, onde viria a ganhar a primeira estrela Michelin, em 2009.

  

Construção de um grupo de restauração em parceria com a família Arié

Em 2010, tudo mudou. Ana Arié, pertencente a uma das famílias mais ricas de Portugal, que é detentora, entre outros negócios, da cadeia de perfumarias Perfumes & Companhia, tinha a ideia de criar um negócio de entrega de sanduíches em escritórios, tendo recorrido a José Avillez para um projecto de consultadoria.

 

Ambos chegaram rapidamente à conclusão que o destino apontava para um projecto em comum, grande e ambicioso, na área da restauração. É então marcada uma reunião entre Avillez e o clã Arié. Confirmada a existência de química entre as partes, a família entra na empresa José Avillez.

 

E assim se iniciou a construção do império gastronómico de Avillez ancorado na força financeira da família Arié.   

 

O primeiro restaurante do império a abrir foi o Cantinho do Avillez, em 2011, seguindo-se, no ano seguinte, o Belcanto, onde conseguiu já duas estrelas Michelin.

 

Hoje, o Grupo José Avillez tem 17 restaurantes em Lisboa e um no Porto. Só nos últimos seis meses, abriu seis espaços na capital - três no Gourmet Experience do El Corte Inglés, a Pitaria, no Chiado, a Cantina Zé Avillez, no Campo das Cebolas, e o Cantinho do Avillez, no Parque das Nações.

 

Grupo José Avillez compra cinco restaurantes no Porto

 

No Porto, onde apenas tem o Cantinho do Avillez, na Rua Mouzinho da Silveira, preparando-se para abrir o Mini Bar, na Rua da Picaria, acaba de firmar a aquisição do grupo Cafeína, que é constituído por quatro restaurantes na zona nobre da Foz e um na Baixa da cidade.

 

"A operação de venda da maioria do capital do meu grupo ao de José Avillez deverá ficar concluída até ao final deste mês", confirmou, ao Negócios, o empresário Vasco Mourão, dono dos restaurantes Cafeína, Terra, Portarossa e Casa Vasco, que se situam todos na Foz-do-Douro, a escassos metros uns dos outros, a que acresce o Panca Cevicheria & Pisco Bar, aberto no Verão passado, na Rua Sá de Noronha.

 

Já Avillez, quando questionado pelo Negócios sobre a tomada de controlo do grupo de Mourão, confirmou que "a ‘holding’ que detém o grupo José Avillez está a negociar uma entrada no capital no grupo de restauração de Vasco Mourão". E que, "se a negociação for concluída, Vasco Mourão manter-se-á como sócio e continuará a ser o responsável pela gestão destes restaurantes".

 

Facturação de 12 milhões de euros e um efectivo de 700 trabalhadores

 

Com a integração do grupo Cafeína, que "factura mais de quatro milhões de euros, sem IVA", o Grupo José Avillez passará de um efectivo de 550 pessoas para 668 trabalhadores.

 

Em 2016, quando a Arié já controlava 45,9% do capital do Grupo José Avillez, o universo de restauração do mais estrelado chefe português fechou o exercício com uma facturação de 11,8 milhões de euros, mais quase três milhões do que no ano anterior, e lucros de 758 mil euros.

 

Além das estrelas Michelin, José Avillez, que se tornou também uma estrela na televisão, rádio e revistas, tem sido distinguido - o próprio e os seus restaurantes -, ao longo destes anos, com os mais variados prémios e condecorações nacionais e internacionais.

 

Já este ano, Avillez foi distinguido pela Academia internacional de Gastronomia com o prémio "Gran Prix de l’Art de la Cuisine".

 

No ano passado, o Belcanto surgia no 85.º lugar na prestigiada lista "The World’s 50 Best restaurants List", organizada pela revista Restaurant.

 

José Avillez é casado com Sofia Melo de Castro Ulrich, filha do "chairman" do BPI Fernando Ulrich. Depois de viverem juntos alguns anos, José e Sofia casaram-se a 2 de Maio de 2015. Têm dois filhos - José Francisco, de oito anos, e Martinho, de sete anos.

 

Para memória futura: sabendo-se que a restauração é um negócio difícil, num sector em que o nome do chef, por mais conceituado que seja, não é sinónimo de bom negócio, note-se que não há registos de encerramentos no Grupo José Avillez.

Ver comentários
Saber mais josé avillez restaurantes arié belcanto cantinho do avillez pitaria mini bar vasco mourão cafeína portarossa casa vasco panca
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio