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Saída de Barroso para a Comissão Europeia travou reorganização na Caixa
Manuela Ferreira Leite considera que deixou um "legado negativo" por não ter conseguido alterar o modelo de governação na CGD quando havia dificuldades de relacionamento na administração e um elevado peso dos seguros no grupo.
A saída de Durão Barroso do Governo para a Comissão Europeia acabou por travar uma reorganização da Caixa Geral de Depósitos que a ministra da tutela da altura, Manuela Ferreira Leite, considerava essencial.
"Foi um tema que ainda foi discutido em Conselho de Ministros e, ao fim de dois ou três dias, tínhamos a notícia que o nosso primeiro-ministro ia abandonar as suas funções e, portanto, não chegou a ter seguimento no nosso mandato", disse a ministra das Finanças entre 2002 e 2004. No último ano, Durão Barroso saiu para a presidência da Comissão Europeia, tendo sido substituído como primeiro-ministro Santana Lopes.
Em causa estava a necessidade de alterar a organização da CGD numa altura em que havia sobreposição de competências entre o presidente da administração ainda que com alguns poderes executivos, António de Sousa, e o presidente executivo da banca comercial, Mira Amaral. Além disso, era necessário mudar o grupo tendo em conta o peso do sector segurador após a aquisição da Império Bonança ao BCP, já que a CGD tinha a Fidelidade e a Mundial. A ideia era dividir entre o banco comercial (balcões) e a constituição de uma "holding" que agregasse os seguros, "as relações internacionais e as participações financeiras". O projecto "estava em mente" e não foi para a frente porque o primeiro-ministro saiu, tendo depois entrado um novo Executivo, contou a ex-governante pelo PSD na comissão de inquérito à CGD.
"O legado que deixei não seria muito diferente do que recebi. Quando cheguei estava um presidente, que foi o mesmo que lá estava quando saí [António de Sousa]", disse a antiga ministra esta terça-feira, 13 de Dezembro. Mesmo assim, havia "problemas por resolver". Manuela Ferreira Leite referiu-se às dificuldades de relacionamento entre Mira Amaral e António de Sousa, falando mesmo em "questões pessoais" entre ambos. O problema "ter-se-ia resolvido se tivéssemos aprovado o novo sistema de governação". "Não tendo sido [aprovado], estava a tornar-se incompatível a gestão". Este foi um "legado negativo", admitiu.
Com a saída de Manuela Ferreira Leite entrou nas Finanças Bagão Félix que alterou a administração, nomeando para a CGD Vítor Martins.