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Remuneração mensal de Domingues na CGD quase duplicou a do seu antecessor

O relatório e contas da CGD confirma: António Domingues auferiu em torno de 30.000 euros por mês enquanto esteve à frente da caixa. Já o seu antecessor, José de Matos, teve uma remuneração mensal na ordem dos 16.000 euros.

Miguel Baltazar
30 de Abril de 2017 às 23:23
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Já se sabia que a remuneração de António Domingues na CGD rondava os 30.000 euros por mês (valor pago em 14 meses), uma vez que o ministro das Finanças revelou, a 18 de Outubro, que o então presidente do banco público teria um salário anual bruto correspondente a 423 mil euros por ano. Agora, no seu relatório e contas, a CGD confirma-o na rubrica dedicada às remunerações: Domingues auferiu 30.214,29 euros por mês enquanto esteve à frente da Caixa, função que assumiu a 31 de Agosto de 2016.

Mário Centeno já tinha justificado esta disparidade em relação à gestão anterior da Caixa. Segundo o ministro das Finanças, o objectivo era que os trabalhadores e os órgãos sociais daquele banco pudessem "ter um tratamento em termos de remunerações e carreiras" idêntico ao que vigorava no sector privado.

 

O seu antecessor, José de Matos, que se demitiu a 21 de Junho do ano passado mas aceitou ficar até 31 de Agosto para evitar um vazio de poder e dar tempo para que a nova equipa ficasse pronta, teve de facto uma remuneração bastante inferior: 16.578,28 euros por mês.

 

Já Álvaro Nascimento, presidente não executivo do conselho de administração na gestão anterior à de António Domingues, que viria também a sair do banco público, auferiu 7.704,20 euros até 31 de Agosto.

 

António Domingues, que deveria ter estado ao comando da Caixa durante quatro anos e que nos primeiros seis meses seria presidente executivo e não executivo da CGD, prazo dado pelo Banco Central Europeu para a separação de águas, acabou por não cumprir o seu mandato no banco público.

 

Domingues, recorde-se, acabou por apresentar a demissão em Novembro devido à polémica em torno da entrega das declarações de rendimento e de património junto do Tribunal Constitucional. Acabou por efectivar essa saída no início deste ano, tendo a presidência sido assegurada por Rui Vilar – que era vice-presidente não executivo na equipa de Domingues - até a equipa de Paulo Macedo tomar posse a 1 de Fevereiro.


Antes de o ministro das Finanças ter dado posse à equipa de António Domingues na Caixa, a 31 de Agosto, foram necessários vários passos, nomeadamente a publicação no Portal da Justiça dos novos estatutos do banco do Estado, bem como a alteração ao regime jurídico do sector empresarial do Estado (e, neste âmbito, muita água correu).

 

Além disso, Domingues teve de anunciar a sua renúncia à administração da Nos, onde assumia um cargo não executivo. Era esta uma das condições impostas pelo supervisor Banco Central Europeu para aprovar o seu nome para a liderança da CGD. Acabou por ficar pouco tempo na Caixa - quatro meses - e regressou à Nós, a operadora liderada por Miguel Almeida. 


A polémica da Caixa... 

A polémica foi desencadeada a 23 de Outubro, quando, no seu comentário habitual na SIC, Marques Mendes questionou o Governo sobre o regime de privilégio na CGD, que permitia que os novos administradores tivessem ficado isentados de obrigações de escrutínio a que estão sujeitos todos os outros gestores públicos, nomeadamente a entrega de declaração de rendimentos no Tribunal Constitucional, a entrega de declaração sobre incompatibilidades e impedimentos na Procuradoria-Geral da República e a entrega de uma declaração sobre participações que detenham em qualquer empresa – devendo esta ser enviada para a Inspecção-Geral de Finanças.

 

Segundo Marques Mendes, o facto de os gestores da Caixa deixarem de estar obrigados a entregarem a sua declaração de rendimentos ao Tribunal Constitucional era "gravíssimo". Nesse mesmo domingo, o militante do PSD admitia que tivesse sido "um lapso" e pedia que, nesse caso, fosse "corrigido".

 

No dia seguinte, o Ministério das Finanças respondeu, dizendo que o fim da obrigação de entrega da declaração de rendimentos "não foi lapso. O escrutínio já é feito". A Caixa "está sujeita a um conjunto de regras mais profundo, como estão todos os bancos. (...) Os corpos dirigentes da CGD têm de prestar contas ao accionista e aos órgãos de controlo interno. Estão assim disponíveis para revelar essa informação ao accionista", adiantou nessa altura fonte oficial do gabinete de Mário Centeno ao Negócios.


"A ideia é a CGD ser tratada como qualquer outro banco. Essa foi a razão para que fosse retirada do Estatuto do Gestor Público. Está sujeita a um conjunto de regras mais profundo, como estão todos os bancos. Não faz sentido estar sujeita às duas coisas", justificou a tutela.

 

Entretanto, os juízes do Palácio Ratton tinham já recebido a declaração de património de seis ex-gestores da Caixa há mais de dois meses. Nove ex-administradores contestaram a entrega das declarações, pelo que o Tribunal Constitucional tinha de chegar a uma decisão. Essa decisão era esperada a qualquer momento e entretanto chegou: teriam mesmo de as apresentar.

 

... e a polémica de Centeno

Mário Centeno ficou também em cheque, tendo falado posteriormente ao país para se explicar sobre a polémica da Caixa e sobre o alegado compromisso com o então presidente do banco no sentido de o dispensar da entrega da declaração de património e rendimentos no Tribunal Constitucional.

 

Na conferência de imprensa do passado dia 13 de Fevereiro, o ministro das Finanças negou ter garantido a Domingues a dispensa de entrega dessas declarações no Tribunal Constitucional. Se Domingues pensou que sim, foi um "erro de percepção mútuo", afirmou.

 

Centeno, que reiterou não ter mentido sobre o alegado compromisso assumido com António Domingues - "nunca neguei que houvesse acordo [em relação à alteração do estatuto do gestor público], só que ele não envolvia a eliminação do dever de entrega das mencionadas declarações" de rendimento e património ao Tribunal Constitucional - disse ainda, na sua comunicação ao país, que colocou o seu lugar à disposição do primeiro-ministro. 

António Costa reagiu pouco depois, em comunicado, reiterando a sua "confiança" no ministro das Finanças. E foi essa mesma confiança que Costa reafirmou junto de Marcelo Rebelo de Sousa. Numa nota divulgada ainda essa noite no site da presidência, foi avançado que o Presidente da República tinha ouvido António Costa, que lhe comunicou que mantinha a sua confiança em Mário Centeno, tendo o Presidente da República decidido aceitar essa posição "atendendo ao estrito interesse nacional, em termos de estabilidade financeira".

A 10 de Março, dia em que se soube que em 2016 a Caixa registou um prejuízos de 1.859 milhões de euros. a Comissão Europeia aprovou definitivamente  o plano de recapitalização da CGD – ao considerar que a injecção de 3,9 mil milhões de euros respeita as regras europeias .

 

O ministério tutelado por Mário Centeno, por seu lado, mostrou-se optimista quanto à situação da Caixa Geral de Depósitos assim que a sua recapitalização esteja concluída. No seu entender, após o aumento de capital, a CGD fica "em condições sólidas".

 

No final de Março, a CGD foi então alvo de uma capitalização com dinheiros estatais na ordem dos 3,9 mil milhões de euros. Sobre a demora do processo, já que a intenção do Governo era ter concluído a capitalização em 2016, Centeno disse no passado dia 26 de Abril, na comissão de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa, que a capitalização se atrasou porque não é "como ir comprar três carcaças".

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