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Provedor da Misericórdia do Porto é porta-voz de Rio mas entidade vai investir no Montepio
"Uma coisa não tem nada que ver com a outra", responde António Tavares ao Público, em relação à aplicação de 10 mil euros da Santa Casa do Porto e o facto de ser porta-voz de Rui Rio. A entidade teve prejuízos de 5,7 milhões em 2017.
António Tavares é o nome escolhido pelo presidente social-democrata, Rui Rio, para o porta-voz da Solidariedade e Bem-Estar no seu "governo sombra". Só que António Tavares é, também, provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto, que vai investir 10 mil euros na Caixa Económica Montepio Geral. E o Partido Social Democrata tem-se mostrado contra o investimento da misericórdia de Lisboa na instituição financeira.
"Uma coisa não tem nada que ver com a outra. A oposição do PSD é sobre a entrada da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa no Montepio", reage António Tavares em declarações ao Público, na edição desta terça-feira, 3 de Março. Tavares é porta-voz do "ministério" liderado por Silva Peneda.
"Se eu sou crítico à forma como tivemos de usar dinheiro público dos nossos impostos para tapar erros cometidos na banca, menos posso aceitar que aquela parte do dinheiro público que é destinada ao combate à pobreza, a fazer misericórdia, esteja disponível para ir meter no sistema bancário", afirmou Rio em Janeiro. Já na presidência, Rio continua na oposição ao negócio.
6 de Janeiro de 2018
10 mil euros no Montepio
Apesar da posição do partido, ao Público, o líder da Misericórdia do Porto reitera que vai haver um investimento de 10 mil euros na Caixa Económica Montepio Geral. "É menos que o valor de um carro utilitário", compara.
Já no início do ano passado, Tavares havia já dito, em entrevista à Renascença, que "o envolvimento financeiro das misericórdias é muito difícil de materializar". "Não me pronuncio sobre a Misericórdia de Lisboa, mas as outras misericórdias só [poderão avançar] com posições muito residuais, em que todas juntas não terão grande expressão", disse, na altura.
Neste momento, a accionista única da caixa económica é a Montepio Geral – Associação Mutualista, que tem concordância do conselho geral para alienar até 2% do seu capital a entidades da economia social. De qualquer forma, como as posições serão simbólicas – a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa é a mais agressiva no investimento, prevendo ficar com 1% do capital e investir cerca de 18 milhões de euros –, a venda não deverá chegar a essa percentagem.
A dimensão do envolvimento da Misericórdia do Porto não é novidade. Ao Dinheiro Vivo, António Tavares tinha já dito que se trataria sempre de um "investimento simbólico". "Mais do que dinheiro, implica vontade de contribuir para o sucesso da criação de um verdadeiro banco da economia social, que possa ajudar à afirmação do terceiro sector e para a necessária solidez de uma economia que cria emprego", explicou o responsável, o que vai em linha com António Tomás Correia, líder da mutualista, que tem dito que é mais uma operação emocional que financeira.
Prejuízos de 5,4 milhões em 2017
Este investimento é feito depois de um ano negativo para a Misericórdia do Porto. No ano passado, a entidade obteve prejuízos de 5,4 milhões de euros, um número que compara com perdas de 1,5 milhões em 2016, segundo o relatório e contas relativo ao ano passado, disponibilizado no site oficial.
O activo da instituição ficou em 249 milhões de euros no final do ano, face a um passivo de 82 milhões, gerando capitais próprios de 167 milhões, aquém dos 174 milhões em 2016.
A mesa da instituição é exortada, pelo definitório (órgão de fiscalização), a continuar "o programa de reformas que assegure a auto sustentabilidade da instituição, nomeadamente a reabilitação do património, a reestruturação da área da saúde no sentido de diminuir a dependência do Serviço Nacional de Saúde e ainda, simultaneamente, a capacitação institucional da Santa Casa da Misericórdia do Porto".
Presidente da mesa
Nesse investimento, a Misericórdia do Porto vai ter direito a ficar com um cargo, segundo confirmou António Tavares. A intenção da mutualista presidida por António Tomás Correia é que seja o presidente da mesa da assembleia-geral. Já o presidente do conselho de administração e o presidente executivo da caixa económica é Carlos Tavares, que já entrou em funções, substituindo José Félix Morgado.
O tema da constituição deste banco da economia social, como lhe chama Tomás Correia, regressa esta quarta-feira ao Parlamento. Edmundo Martinho, que lidera a Misericórdia de Lisboa, é ouvido na comissão de Trabalho e Segurança Social, precisamente a pedido do PSD.
Também na quarta-feira é dia da audição regimental do ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, José Vieira da Silva, que tem a tutela e a supervisão da associação mutualista.