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Mossack Fonseca ajudou a esconder "saco azul" do GES

A ES Enterprise, através da qual o Grupo Espírito Santo fazia pagamentos fora dos circuitos oficiais, foi o "saco azul" do GES durante 21 anos e era uma das clientes da Mossack Fonseca, diz o Expresso.

Reuters
Negócios 09 de Abril de 2016 às 00:40
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O Expresso revela na sua edição deste sábado que o chamado "saco azul" do Grupo Espírito Santo, que faz parte dos documentos investigados, assentaria em 300 "offshores" criadas pela sociedade de advogados panamiana Mossack Fonseca. 


A TVI e o Expresso, recorde-se, integram o Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (CIJI) que investigou mais de 11,5 milhões de documentos e 2,6 terabytes de informação secreta que foram retirados da base de dados interna daquela sociedade – sendo este conjunto de documentos, ligados a quase quatro décadas de actividade da empresa, conhecido como "Papéis do Panamá".

Segundo a capa do Expresso, a Mossack ajudou a esconder o "saco azul" do GES durante 21 anos, através da ES Enterprise, usada para pagamentos fora dos circuitos oficiais. Nesse período, terão passado pela ES Entreprise mais de 300 milhões de euros.

 

Há assim um forte envolvimento de gestores de topo do Grupo Espírito Santo no mundo das "offshores" do Panamá, sublinha o jornal. Com efeito, nos Papéis do Panamá, diz o Expresso, há quase 100 documentos a falar da ES Esterprise, que foi bastante referida na comissão de inquérito ao BES.

 

A ES Entreprise existe desde 1993. A sociedade foi criada, inicialmente, através de uma operadora de "offshores" das Ilhas Virgens Britânicas, a Trident Trust Company, mas em 2007 a gestão fiduciária passou para a Mossack Fonseca. 

 

Na comissão inquérito, Ricardo salgado disse que a ES Enterprise "era a empresa que fazia orientação dos pagamentos dos serviços partilhados", quando a empresa já estava a ser investigada pelo Ministério Público por ser um alegado saco azul do grupo. "Não era uma empresa operacional, era uma empresa, no fundo, coordenada", disse ainda o ex-presidente do BES, que considerou "uma falha" não constar do cronograma do grupo. Salgado, agora, não falou ao Expresso nem à TVI.

 

O jornal diz que a ES Enterprise foi dona de muitas companhias "offshore", detentoras de outras sociedades, "num esquema labiríntico". Uma das sociedades é a Blygor Properties, criada pela Mossack Fonseca, a pedido da Eurofin, considerada suspeita também pelo Ministério Público por alegadamente ter canalizado dinheiro do BES para a própria família. Em 2010 passou a detenção da offshore para outra designada Polyreal, cuja morada de referência é Beirute (Líbano) e que tinha como accionista formal um antigo gestor de fortunas do Julius Baer, na Suíça.

 

A investigação do Expresso revela que a Blygor seria dona de um projecto imobiliário na Hungria, mas o jornal diz que só revelará mais informação mais tarde. 

 

O Expresso diz ainda que a Mossack Fonseca criou mais de 300 companhias "offshore" ligadas ao GES. O jornal diz mesmo que o conselho superior do Grupo Espírito Santo recorreu a quatro estruturas fiduciárias na esfera do grupo (e marginalmente do escritório de advogados de Ana Bruno e da FTA Consulting) para ir fazendo nascer empresas em offshore que permitiam controlar, em cascata, a cabeça do grupo ES Control e a ESI, ambas sediadas no Panamá.

 

Mas é através da Eurofin, acrescenta o Expresso, que entretanto tinha sido retirada do interior do grupo, que existem as "offshores mais complicadas", escreve o jornal. 

Onde o GES enganava o Banco de Portugal

Na terça-feira, 5 de Abril, o Negócios sublinhava já que o Panamá era onde o GES tinha um banco para enganar o BdP. "O ES Bank Panamá era um discreto banco da família Espírito Santo que ganhou fama antes do colapso do GES. O paraíso fiscal que anda nas bocas do mundo por ter ajudado figuras internacionais foi usado por Ricardo Salgado para enganar o Banco de Portugal", referia.

Os sinais de alarme em relação ao discreto banco do GES nas Caraíbas soaram internacionalmente cinco dias depois de Ricardo Salgado ter abandonado a liderança do BES, em Julho de 2014. No dia 18 de um dos piores meses da história da família Espírito Santo, o regulador do Panamá anunciava ter assumido o controlo temporário do banco, perante o risco de insolvência da instituição.

Para justificar os problemas do ES Bank Panamá, o supervisor financeiro local, conhecido por Superintendência de Bancos do Panamá (SBP), apontava o dedo ao GES: os problemas dos seus principais accionistas limitam o acesso "a recursos financeiros e afectam a sua capacidade de prosseguir a actividade", detalhava o comunicado da SBP.

No Verão de 2014, enquanto as "holdings" de controlo da família Espírito Santo pediam a protecção de credores, o seu banco no Panamá ganhava notoriedade internacional.

Três semanas depois da resolução do BES, a Reuters noticiava que o banco fazia parte de um esquema que permitiu financiar o GES em cerca de 5.000 milhões de euros, recorrendo, indirectamente, aos clientes do BES, já depois de o Banco de Portugal ter proibido a venda de dívida da área não financeira do grupo aos balcões da instituição financeira.

 

Poucas semanas mais tarde, foi a vez de o Financial Times revelar que, pelo menos desde 2012, o ES Bank Panamá era usado para financiar as "holdings" de controlo do GES. "O banco do Panamá ligado aos Espírito Santo existia quase exclusivamente para adquirir dívida emitida pela ESI e as suas subsidiárias Rioforte e Espírito Santo Irmãos, de acordo com um relatório dos administradores do ES Bank", escrevia o diário britânico a 11 de Setembro de 2014.

 

O presidente da KPMG Portugal, Sikander Sattar, havia de confirmar na comissão parlamentar de inquérito à gestão do BES e do GES, em Dezembro de 2014, que o ES Panamá fazia parte do esquema de financiamento do grupo.

 

Mas as ligações financeiras ocultas com o banco do Panamá não passaram apenas pelas "holdings" de topo do GES. Também houve financiamentos do BES ao ES Bank Panamá. E em violação de determinações do Banco de Portugal. A denúncia consta do primeiro sumário executivo da auditoria forense que a Deloitte realizou à queda do BES a pedido do Banco de Portugal.

(notícia actualizada à 01:14)

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