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Fazer o bem: Bancos não podem ignorar um mercado de 23 biliões

As pessoas estão a investir mais de 23 biliões de dólares em práticas socialmente responsáveis.

Bloomberg
09 de Março de 2019 às 19:00
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Quando a associação britânica de habitação London & Quadrant precisou de um empréstimo de 100 milhões de libras (116 milhões de euros) no ano passado, o banco ofereceu algo extraordinariamente generoso: um desconto sobre os juros se a L&Q cumprisse uma meta anual de ajudar 600 moradores desempregados a encontrar trabalho.

 

Oito meses depois, a L&Q, que constrói e aluga moradias a preços acessíveis em Londres, já cumpriu mais de 75% da meta, o que a encaminha a obter descontos do seu banco, o BNP Paribas.

 

Embora seja difícil imaginar que bancos motivados por lucros ofereçam incentivos para fazer o bem, o empréstimo vinculado a um tipo indicador mensurável de sustentabilidade - como a redução de emissões ou do desperdício de alimentos – tornou-se oito vezes maior em 2018, totalizando 36,4 mil milhões de dólares, segundo a Bloomberg NEF.

 

Parece sempre haver algum "porém" nas finanças, e, embora esta vez não seja uma exceção, pode ser mais aceitável. O facto é que as pessoas agora estão a investir mais de 23 biliões de dólares em práticas socialmente responsáveis, de acordo com a Global Sustainable Investment Alliance (GSIA), e os bancos não podem ignorá-las se quiserem continuar relevantes.

 

"Se esta moda pegar, vai ser a próxima grande oportunidade de investimento", disse Kajetan Czyz, diretor do programa de finanças sustentáveis do Instituto de Liderança em Sustentabilidade da Universidade de Cambridge. "Os bancos precisam de se adaptar a este novo conjunto de oportunidades que esta mudança cria."

 

Em poucos anos, os bancos que preenchem as suas carteiras de crédito com os chamados acordos de incentivo positivo poderiam estar em melhor posição para atrair não apenas clientes, como os millennials preocupados com a sustentabilidade, mas também custos de financiamento menores.

 

É que os empréstimos vinculados aos critérios ambientais, sociais e de governança (que o setor chama de ESG, na sigla em inglês) geralmente são concedidos a empresas que têm histórico de lucros e pagamento de dívidas. A L&Q, por exemplo, tem uma classificação A3 no Moody’s Investors Service, e outras empresas, como a gigante de produtos químicos belga Solvay, a empresa francesa de alimentos Danone, a gestora hoteleira Accor e a Thames Water, têm grau de investimento.

 

"Temas relacionados com a sustentabilidade são cada vez mais incluídos nas conversas com os clientes", afirmou Cecile Moitry, diretora de finanças sustentáveis em Paris do BNP Paribas, banco que esteve envolvido em pelo menos 10 acordos deste género no ano passado, segundo dados compilados pela Bloomberg.

 

Até agora, os bancos só se interessaram simbolicamente pelas "atividades bancárias responsáveis". Durante mais de uma década, organizaram títulos e empréstimos ecológicos, usados pelas empresas para captar dinheiro para projetos ambientais. Mas as vendas de dívidas ecológicas, que totalizaram 182 mil milhões de dólares no ano passado, são ínfimas em comparação com os 6 biliões de dólares em emissões globais de títulos.

 

Dito isto, o novo estilo de empréstimo ESG que descolou em 2018 poderá virar o jogo, de acordo com Dan Shurey, chefe de análise sobre finanças ecológicas e sustentáveis da Bloomberg NEF. Em apenas um ano, estes empréstimos lideraram o aumento de 26% na captação de recursos da dívida sustentável para um recorde de 247 mil milhões de dólares.

 

Ao permitir que as empresas usem o dinheiro arrecadado para o que quiserem, os empréstimos ESG resolvem um dos principais problemas que impediam a adoção mais ampla de empréstimos e títulos ecológicos. É o preço da facilidade, e não o dinheiro em si, que está ligado a um objetivo socialmente responsável.

 

"Uma vantagem de preço explícita sempre foi a peça que faltava para os títulos ecológicos", disse Shurey, que prevê que os volumes de empréstimos ESG em 2019 vão "ultrapassar amplamente" os de 2018. "Os incentivos para tomadores de empréstimos corporativos são fundamentais para a expansão do mercado."

 

(Texto original: Banks Can’t Ignore the $23 Trillion Market for Doing Good)

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