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Cinco temas que vão marcar os resultados do BCP

O BCP anuncia esta segunda-feira os lucros dos primeiros nove meses deste ano. Os resultados vão sinalizar a evolução futura do banco. Perceba o que está em causa a partir de cinco temas: margem financeira, dívida pública, imparidades, Polónia e Angola.

Bruno Simão/Negócios
02 de Novembro de 2015 às 13:26
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Os analistas apontam para que o BCP tenha registado lucros de 267 milhões de euros nos primeiros nove meses deste ano. Os resultados, que serão apresentados esta segunda-feira, 2 de Novembro, darão sinais importantes sobre a evolução do banco nos próximos meses. Para perceber o que esperar esteja atento a cinco temas: margem financeira, dívida pública, imparidades, Polónia e Angola.

 

Margem financeira

O BCP terá mantido a tendência de recuperação da margem financeira que foi evidente no primeiro semestre do ano, em resultado da redução dos custos com a remuneração da ajuda estatal e da diminuição das taxas pagas pelos depósitos. Entre o início de Janeiro e o final de Setembro, o custo dos instrumentos de capital contingente ("CoCos") terá diminuído para menos de um terço, devendo ficar abaixo dos 50 milhões de euros. Por seu turno, a redução dos encargos com depósitos terá evoluído em linha com a evolução do primeiro semestre.

Os custos com "CoCos" ainda deverão continuar a penalizar a margem financeira do banco, uma vez que ainda falta reembolsar 750 milhões dos 3.000 milhões de euros que o BCP recebeu do Estado. No limite, o grupo tem de liquidar este apoio até 30 de Junho de 2017, mas tem manifestado a intenção de concluir a devolução da última tranche de 750 milhões ainda já no próximo ano. Há analistas que admitem que o BCP possa reembolsar uma parte deste valor em 2016, deixando para o ano seguinte a conclusão do reembolso. Mais do que antecipar calendários, a equipa de Nuno Amado pretende evitar a necessidade de um aumento de capital para fazer face a esta obrigação. O objectivo é concluir o pagamento dos "CoCos" com capital gerado pelos seus próprios meios.

 

Dívida pública

Os ganhos com a venda de dívida pública, que totalizaram 383,5 milhões de euros no primeiro semestre, vão continuar a ser responsáveis pela principal fatia dos lucros acumulados nos primeiros nove meses do ano. No terceiro trimestre do ano, o banco não terá acumulado resultados à custa da venda de obrigações do Tesouro, apesar de a instituição ainda dispor de uma carteira de dívida pública relevante – no final de Junho, o BCP tinha mais de 4,7 mil milhões de euros aplicados em títulos de dívida pública portuguesa.

 

Imparidades

A grande surpresa dos resultados do primeiro semestre foi o aumento das imparidades para crédito. Apesar de o BCP ter sublinhado que esta subida não foi inesperada, a verdade é que, depois de ter registado vários milhares de milhões de imparidades para crédito nos últimos anos, o crescimento de 27,8% registado no primeiro semestre do ano não deixou de surpreender. A tendência de subida deverá manter-se no terceiro trimestre do ano, uma vez que houve também necessidade de fazer dotações para a carteira de crédito da operação angolana.

 

Polónia

A operação na Polónia vai dar um contributo menor para o BCP do que no conjunto do ano passado, uma vez que o grupo português reduziu a sua participação no Millennium polaco de 65,5% para 50,1% em Março último. Além disso, a redução da posição accionista não será compensada pelo aumento dos resultados do banco polaco, uma vez que, nos primeiros nove meses do ano, os lucros da instituição se mantiveram praticamente iguais, totalizando 493,5 milhões de zlotys (115 milhões de euros), devido à redução da margem financeira e das comissões.

Mas mais importante do que aconteceu até ao final de Setembro, é o que poderá acontecer ao contributo futuro da Polónia para os resultados do BCP, uma vez que o novo Governo do país prepara medidas que vão penalizar o sector financeiro, como um novo imposto sobre os activos bancários e um modelo de conversão das hipotecas em francos suíços que terá custos para a banca. Os analistas acreditam que o banco de Nuno Amado tem margem para acomodar este impacto, até porque já reduziu a exposição ao Millennium polaco. As alterações na Polónia não deverão pôr em causa a trajectória de recuperação dos resultados do BCP que, no entanto, poderá ser obrigado a rever em baixa as suas metas de rentabilidade.

 

Angola

O contributo do Millennium Angola para os resultados do BCP no final de Setembro deverá aumentar, em linha com o que aconteceu no primeiro semestre do ano. No entanto, o ritmo de crescimento (49,1% até Junho) poderá abrandar, uma vez que o banco angolano começa a ressentir-se da crise económica do país. Nos primeiros seis meses do ano, as imparidades para crédito malparado mais do que triplicaram na operação angolana, apesar do seu valor ainda não ser significativo (11,3 milhões de euros). E é expectável que esta tendência se tenha mantido no terceiro trimestre.

A deterioração da situação económica de Angola, reflexo da queda do preço do petróleo, foi uma das principais razões para o BCP ter avançado com o projecto de fusão do Millennium Angola (BMA) com o Privado Atlântico, operação que depende apenas das autorizações regulatórias. Esta operação, que deverá estar concluída no primeiro trimestre de 2016, permitirá ao banco de Nuno Amado trocar 50,1% do BMA por uma posição de 20% na nova instituição, que ambiciona ser o terceiro maior banco de Angola. Com esta fusão, o BCP espera aumentar o contributo da presença angolana para os seus resultados, uma vez que as sinergias entre as duas instituições e a maior capacidade de crescimento da actividade do novo banco deverão permitir um aumento da sua rentabilidade.
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