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BES tinha informação para detectar irregularidades nas contas da ESI
A ESI tinha mais dívida guardada no BES do que a que estava nas suas contas. O Banco Espírito Santo tinha informação para detectar irregularidades nas contas da ESI mas a venda de papel comercial continuou a ser uma realidade.
A Espírito Santo International, a sociedade de topo do Grupo Espírito Santo actualmente em insolvência, tinha irregularidades nas suas contas. E o Banco Espírito Santo tinha dados para saber disso.
"Embora o BES estivesse na posse de informação suficiente para detectar desconformidades entre a situação reportada nas demonstrações financeiras da ESI e a sua verdadeira situação financeira e patrimonial, uma vez que o valor da dívida ESI detida em custódia era substancialmente superior ao valor da dívida reconhecida nas próprias contas da mesma empresa, não identificou, na realidade, qualquer desconformidade".
Esta é uma das conclusões do terceiro bloco da auditoria forense ao BES pedida pelo Banco de Portugal à Deloitte, cujos traços gerais chegaram à comissão parlamentar de inquérito. O que está em causa é que o banco, então liderado por Ricardo Salgado (na foto), tinha nos seus cofres mais dívida da ESI do que aquela que a ESI reconhecia ser a sua dívida.
"A auditoria permitiu ainda verificar que nos exercícios findos entre 31 de Dezembro de 2008 e 31 de Dezembro de 2013 foram efectuados diversos lançamentos contabilísticos nas contas da ESI que conduziram em Dezembro de 2012 a uma diminuição (artificial) do passivo de 1,7 mil milhões de euros", melhorando a sua situação patrimonial.
Mesmo tendo na sua posse os dados para concluir estas "desconformidades" na ESI, o BES continuou a vender papel comercial desta sociedade do Grupo Espírito Santo. Uma comercialização que, apesar de aprovada no órgão competente, não cumpria o programado.
Foi vendido, aos balcões do BES, papel comercial (dívida de curto prazo) de sociedades do GES, como ESI, Rioforte e ES Property que acabou por nunca ser pago porque se detectaram irregularidades nas contas da ESI, única accionista da Rioforte, que acabou por conduzir as empresas à falência. 2.508 clientes que adquiriram estes produtos financeiros estão ainda à espera do reembolso dos títulos.
Esta é uma das conclusões inscritas na terceira das cinco linhas de investigação da auditoria forense solicitada pelo Banco de Portugal. Os factos que constam deste bloco apontam para a "violação de um conjunto de deveres ao nível de controlo interno, quer ao nível das responsabilidades gerais do órgão de administração, quer ao nível das responsabilidades das entidades". Poderão ainda "configurar a prática da infracção especialmente grave de gestão ruinosa, em detrimento de depositantes, investidores e demais credores, praticados pelos membros dos órgãos sociais".