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António Ramalho: "Ainda existe um problema de credibilidade na banca portuguesa"

O presidente do Novo Banco, que "trabalha as empresas porque vive delas", lamenta não conseguir dar aos clientes todos os produtos de que precisam para o financiamento das exportações e de investimentos no estrangeiro.

David Martins/Correio da Manhã
25 de Maio de 2017 às 16:30
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António Ramalho sustentou esta quinta-feira, 25 de Maio, que pode ser "interessante" um modelo para o Novo Banco focado no mercado das exportações, em que as empresas têm maior autonomia financeira, até porque isso "melhora a qualidade creditícia da estrutura de portefólio de activos". Ainda que, avisou, "nem tudo corra bem" nessa área e haja "diversos riscos" que a administração do antigo BES tem de gerir.

 

"Ainda existe um problema de credibilidade na banca portuguesa, que, não tendo ‘rating’ da República, também ela própria não tem ‘rating’ natural para oferecer aos seus clientes a totalidade dos produtos que são necessários para o financiamento no exterior, quer do ponto de vista do financiamento das exportações, quer sobretudo do financiamento da instalação de empresas portuguesas no exterior", admitiu António Ramalho.

 

Nos mercados internacionais, o líder do Novo Banco referiu que "falta a credibilidade para contra-garantir aquilo que são as características próprias de um tecido empresarial pequeno" e, portanto, não conhecido no mercado internacional. E, acrescentou, falta a "capacidade de criar as garantias necessárias nalguns quadros de actividade, como é típico na construção civil", em que há empresas que "não têm dimensão suficiente para se poderem financiar nos mercados locais" e a banca nacional também "não [consegue] acompanhar" essas exportações "com as garantias que sejam reconhecíveis nos países" de destino.

 

Ainda por cima, sublinhou António Ramalho, as empresas portuguesas operam em alguns "mercados exóticos, em que o ‘risco país’ é mais difícil de conjugar e de perceber". Nesses casos, detalhou, "são algumas linhas de carácter soberano ou para-soberano que, de alguma maneira, podem compensar alguma desta actividade" por parte da instituição financeira criada no Verão de 2014.

O crescimento das exportações foi um dos factores que mais impulsionaram a economia no primeiro trimestre, tendo Portugal conseguido um dos melhores desempenhos entre os países da Zona Euro no comércio com o exterior. Segundo o Eurostat, as vendas ao exterior de mercadorias portuguesas atingiram 14 mil milhões de euros nos primeiros três meses deste ano, mais 18% do que no período homólogo, sustentadas sobretudo numa subida de 21% para fora da UE, sendo que o comércio intra-comunitário progrediu 16%.

 

Novo Banco "trabalha as empresas porque vive delas"

 

Durante uma conferência no Porto, em que o CEO da Coface admitiu que "fazer previsões é cada vez mais difícil", o gestor reclamou que dois terços da actividade do Novo Banco são dedicados à área empresarial, uma exposição que nenhum outro tem em Portugal, e que o banco "trabalha as empresas porque vive delas". E é precisamente a actividade exportadora, que tem tido um "crescimento significativo", que permite que o banco "mantenha uma quota de mercado extraordinariamente estável, mesmo em circunstâncias em que a normalidade" nem sempre existiu nos quase três anos que leva no mercado.

 

"Porque o fazemos? Porque percebemos que este negócio não é pura e simplesmente financeiro. É, antes de mais, um negócio de promoção (…) porque há espaço no mercado internacional para continuarmos a crescer e [é lá que está] a procura que levará boa parte das empresas a crescer. É verdade que temos um problema de NPL [sigla inglesa para "non performing loans", activos não rentáveis] para resolver, mas se não formos capazes de criar ‘drivers’ de crescimento na nossa actividade, cada vez minguaremos mais. E, enquanto estamos a resolver o problema dos activos antigos, não resolveremos seguramente os ‘drivers’ de crescimento e de rendibilidade das instituições", resumiu.

 

É que, lembrou Ramalho após ouvir o economista e deputado do PS, Paulo Trigo Pereira, dizer que "não há riscos de euforia com esta equipa das Finanças" –, as instituições financeiras querem ser lucrativas, apesar de nos terem "habituado nos últimos tempos a deixar de o ser". "Isso não é solução para o futuro. Não é solução andarmos todos os dias a perder dinheiro e depois virmos pedir aos accionistas para juntarem dinheiro por causa das perdas que tivemos de suportar", concluiu.

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