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Angolano BPC com crédito malparado superior a 2,6 mil milhões para vender ao Estado
O crédito malparado no estatal Banco de Poupança e Crédito (BPC), o maior banco angolano, ultrapassa os 2.640 milhões de euros, metade do qual vai começar a ser vendido a outra sociedade estatal ainda este ano.
A informação foi transmitida esta segunda-feira pelo presidente do conselho de administração do BPC, Ricardo d'Abreu, em conferência de imprensa realizada em Luanda a propósito dos 100 dias da nova liderança do BPC, detido pelo Estado angolano e em processo de reestruturação, que envolve um plano de recapitalização.
Questionado pela Lusa, o administrador explicou que o BPC tem 500 mil milhões de kwanzas (2.643 milhões de euros) na carteira de crédito malparado e que já foi emitida dívida pública no valor de 231 mil milhões de kwanzas (1.222 milhões de euros) a favor da sociedade, também estatal, Recredit, que vai gerir os créditos problemáticos da banca angolana, a começar pelo BPC.
Daí que, explicou, esse valor será a "dimensão de crédito malparado que o BPC irá negociar com a Recredit", cabendo ao banco público recuperar a restante parcela, de cerca de 50%. "O montante está definido, não quer dizer que depois a Recredit não tenha outras dotações para conseguir alargar a sua actividade a nível do sistema bancário nacional. Mas do ponto de vista do BPC nós sabemos exactamente o valor, pela emissão especial que foi em Dezembro de 2016, de 231 mil milhões de kwanzas", apontou.
O administrador acrescentou que já decorrem negociações entre o BPC e a Recredit para identificar, na carteira de crédito malparado do banco, os activos que serão vendidos àquela sociedade, uma espécie de banco mau criado pelo Governo angolano para tentar sanear a banca nacional.
"Estamos já a negociar uma primeira 'tranche' de crédito a ser negociado. Nós também temos, obviamente, urgência em concluir este processo. Queríamos que ele ficasse concluído antes do final do ano de 2017", disse Ricardo d'Abreu, mas admitindo que do ponto de vista legal ainda será moroso.
O BPC fechou as contas de 2016 com um prejuízo de 29,5 mil milhões de kwanzas (156 milhões de euros), resultado que justificou com as "decisões assumidas pelo actual conselho de administração", de constituir 72,7 mil milhões de kwanzas (384,3 milhões de euros) para "imparidades e provisões" do exercício de 2016.
Ou seja, reflectindo nas contas uma perda potencial ou efectiva de quase 400 milhões de euros em créditos concedidos anteriormente.
Na conferência de imprensa de hoje, Ricardo d'Abreu, antigo vice-governador do Banco Nacional de Angola, explicou que há 100 dias encontrou um banco "praticamente parado", mas que hoje está "a andar normalmente". Ainda assim, o plano de reestruturação estende-se até 2021, apesar de administração prever gerar resultados positivos antes dessa data.
Em 2016, o BPC tinha 443 agências em todo o país, com 5.530 trabalhadores, tendo o administrador garantido que o plano de reestruturação não passa, para já, por despedimentos ou fecho de balcões, mas por outras medidas de poupança interna.
Questionado igualmente pela Lusa, Ricardo d'Abreu explicou que até ao momento não foi feita qualquer participação criminal sobre a forma como o banco público estava a ser gerido, precisamente por falta de indícios.
"Ainda não temos nenhuma acção nesse sentido. Ainda não temos matéria sequer para poder fazer qualquer disseminação de informação para as autoridades criminais", disse.
No sentido contrário, o BPC já accionou os mecanismos legais para apurar responsabilidades na divulgação, nos últimos dias, nas redes sociais e alguma imprensa local, de alegadas listas de devedores ao banco, por violação do sigilo bancário, nas quais constam nomes de empresários e políticos ligados ao partido MPLA.
"Mesmo não conhecendo a origem da informação colocada a circular, esta administração tudo fará para impedir que situações desta natureza se repitam, para proteger a actividade e o negócio do banco", enfatizou, negando a veracidade das listas em causa.