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Chora teme que Autoeuropa fique com os "restos" da Volkswagen

O ex-líder dos trabalhadores adverte para a perda de relevância da fábrica de Palmela daqui a dois anos, caso persista o maior conflito laboral de sempre nesta unidade de automóveis da multinacional alemã.

Bruno Simão
António Larguesa alarguesa@negocios.pt 25 de Janeiro de 2018 às 10:29

O antigo coordenador da comissão de trabalhadores da Autoeuropa teme que a fábrica de Palmela volte a "receber apenas os restos de outras fábricas do grupo" Volkswagen, caso se arraste por mais tempo o conflito laboral entre a administração da empresa e os representantes sindicais.

 

Até 2020 António Chora não antevê esse risco. Mas depois disso, se voltasse a fabricar apenas modelos de nicho, como monovolumes ou descapotáveis, a produção em Portugal encolheria de 240 mil estimados em 2018 para 100 mil carros por ano e seriam dispensados os cerca de dois mil trabalhadores contratados para atender às encomendas do novo modelo T-Roc.

 

Em declarações ao DN, o homem que em Janeiro de 2017 passou à reforma afastou a eventualidade de haver uma deslocalização da produção para outros países nos próximos dois anos. "Mas a Volkswagen pensará duas vezes antes de escolher modelos de grande produção para a fábrica se se mantiver o actual conflito", advertiu.

 

António Chora é apenas mais uma voz a deixar alertas em torno do futuro da fábrica. Mira Amaral, ministro que em 1991 assinou a vinda da Volkswagen para Portugal, já admitiu que, quando o investimento feito na Autoeuropa estiver amortizado, a fabricante de automóveis poderá transferir a produção para outros países, como a República Checa ou Marrocos.

 

"Acredito que, se a própria marca vir que não vai conseguir produzir mais de 200 mil carros na Autoeuropa, arranjará maneira de os produzir noutro lado qualquer", avisou também o administrador da SIVA, Pedro de Almeida, sublinhando o gestor da empresa que vende a marca alemã em Portugal que "é chato" ter de trabalhar ao sábado, mas que este é "um braço-de-ferro absurdo" numa fábrica que pesa mais de 1% do PIB.

 

Na semana passada, também o ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, afirmou na Assembleia da República que está a acompanhar "com preocupação" a situação na fábrica da Autoeuropa e prometeu que iria continuar a trabalhar "no sentido de promover" um acordo entre as partes.

 

Avanço unilateral no horário transitório

 

Em causa está um conflito laboral que já é considerado o maior de sempre na fábrica de automóveis de Palmela, devido aos novos horários da fábrica. Uma das principais reivindicações sindicais é o "pagamento dos sábados como trabalho extraordinário, ou seja um acréscimo de 100% em relação ao valor da retribuição diária", mais 250 euros mensais para todos os trabalhadores que aceitem praticar aquele horário de transição, por forma a "compensar a desorganização da vida familiar e pessoal".

 

Após a rejeição de dois pré-acordos negociados previamente com duas Comissões de Trabalhadores, a administração da Autoeuropa anunciou no final de 2017 a intenção de avançar unilateralmente com o novo horário transitório. A empresa estima produzir mais de 240.000 veículos Volkswagen T-Roc em 2018, quase triplicando a produção de 2016, o que levou a empresa a contratar cerca de 2.000 novos trabalhadores e a implementar um sexto dia de produção, aos sábados, até Julho deste ano.

 

Na mesma altura, a administração referiu que estava disponível para negociar, mas apenas no que respeita aos novos horários de laboração contínua, que deverão ser implementados no segundo semestre de 2018. Após o tradicional período de férias no mês de Agosto, a fábrica de automóveis deverá então iniciar a laboração contínua na unidade de Palmela, de forma a satisfazer as muitas encomendas que garante estar a receber do novo veículo T-Roc, produzido em Portugal.

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