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Banqueiros ingleses fazem espumante e tiram espaço ao Champanhe

A área plantada com videiras no Reino Unido aumentou 83% desde 2015 para mais de 3.500 hectares.

Coates & Seely
28 de Dezembro de 2019 às 14:00
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Nicholas Coates não tem saudades da viagem até ao trabalho. Nos últimos anos da sua carreira em bancos de investimento (interrompida aos 47 anos após passagens pelo Royal Bank of Scotland e pelo ING Barings), apanhava o comboio das 5:41 para Londres e só voltava para a sua mansão no interior de Hampshire por volta das 22:30.

 

Hoje aos 60 anos, Coates só precisa de atravessar o roseiral que separa a sua casa da bucólica sede da Coates & Seely, fabricante de espumante inglês que ele cofundou para rivalizar com o Champanhe.

 

É uma carreira que atrai cada vez mais profissionais das finanças. Banqueiros, gestores de "hedge funds" e advogados corporativos estão a abandonar o setor financeiro de Londres em favor das vinhas. Eles estão a comprar terras em Kent, Sussex e Hampshire e a plantar parreiras onde antes crescia trigo ou o gado pastava.

 

A transformação de geradores de fortunas em produtores de vinho é bastante repetida. Historicamente, os profissionais da área financeira fugiam para os castelos de Bordeaux, as colinas da Toscana ou o ensolarado Vale de Napa.

 

Quando Coates começou a conversar com amigos e familiares em 2007 sobre a sua ambição de desafiar Champagne a partir do seu próprio quintal, não houve muito entusiasmo. O seu pai comparou a ideia a montar carros na Coreia do Norte ou enfrentar a Rolls-Royce.

 

Desde então, os vinhos ingleses deixaram de ser novidade ou piada e são considerados candidatos sérios. Em 2019, o espumante Coates & Seely 2009 La Perfide derrotou rivais franceses e levou um troféu na Competição Internacional de Vinhos e Destilados de Londres, também conhecida como o Oscar do Álcool.

 

"Eu não gostaria que as pessoas pensassem que é fácil porque é um trabalho absurdamente difícil", afirmou Coates na sua sala de estar, onde as paredes são decoradas com retratos de antepassados carrancudos vestindo perucas. "Muito do nosso sangue, suor e lágrimas foi para isto."

 

Outros profissionais de finanças partiram para a vida de vinhateiro inglês:

 

Mark Driver deixou a Horseman Capital Management para abrir a Rathfinny Wine Estate; Eric Heerema, advogado e gestor, adquiriu a Nyetimber; e Ian Kellett comprou a Hambledon Vineyard depois de uma carreira na Dresdner Kleinwort Benson. Já o bilionário Michael Spencer, fundador da NEX Group, tem uma participação na vinícola Chapel Down.

 

O verão excecionalmente quente de 2018 incentivou mais gente a entrar no ramo. Apesar de muitos perigos, o aquecimento global permite amadurecer uvas regularmente em latitudes antes consideradas marginais para este cultivo. A produção total de vinho em Inglaterra e no País de Gales cresceu de 5 milhões de garrafas em 2015 para 13,2 milhões em 2018, segundo a associação Wine GB. A área plantada com videiras aumentou 83% desde 2015 para mais de 3.500 hectares.

 

Os produtores concentraram-se no vinho espumante porque o solo calcário das regiões de plantio inglesas é semelhante ao de Champagne. As empresas francesas reagiram. No ano passado, a Vranken-Pommery Monopole lançou a versão brut Louis Pommery England em parceria com a Hattingley Valley, em Hampshire, plantando videiras em aproximadamente 40 hectares. A colheita deve começar em 2021.

 

A famosa Taittinger juntou-se à distribuidora britânica Hatch Mansfield para criar a Domaine Evremond, em Kent. O projeto, que inicialmente incluía 20 hectares de parreiras, expandir-se-á para mais de 40 hectares após uma segunda rodada de plantio no ano que vem, de acordo com o administrador da sócia britânica, Patrick McGrath.

 

Para marcas como Vranken-Pommery e Taittinger, produzir em Inglaterra é uma maneira de fazer "hedge" e proteger um mercado importante independentemente do que acontecer com o Brexit. O Reino Unido é o principal destino das exportações de Champagne, com 27 milhões de garrafas enviadas em 2018, de acordo com a organização comercial Comite Champagne.

 

(Texto original: Bankers Turned Winemakers Are Transforming England Into Wine Country)

 

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