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Francisco George: As pessoas não entendem que “o milionário paga mais no SNS”
Em entrevista à Antena 1, o director-geral de Saúde critica a relação entre a ADSE e o privado, que "desnatou" o Serviço Nacional de Saúde de médicos especialistas.
Francisco George, director-geral de Saúde, considera que é importante explicar a todos os portugueses que a saúde não é paga de igual forma por todos, uma questão que é mal compreendida desde os tempos da fundação do Serviço Nacional de Saúde (SNS) com António Arnaut. "Nunca se conseguiu explicar", referiu em entrevista à Antena 1.
"Todos os impostos gerados por nós têm como destino financiar o Estado social na componente educativa e da saúde. É preciso que todos percebam que antes da prestação, a diferença de pagamento está nos impostos que se pagam. No acto da prestação o milionário pagará justamente o mesmo do que aquele que tem rendimentos mínimos", explicou. "Porque esse não paga IRS e o milionário paga. No acto da prestação é aparentemente gratuito para os dois mas efectivamente não é. Mas isto não é compreendido por todos".
A seis meses de deixar a direcção-geral de Saúde, o responsável critica a relação entre a ADSE e os privados que, na sua opinião, "desnataram" o SNS de médicos especialistas.
Lembrando que "há cada vez mais portugueses a preferirem os serviços privados", Francisco George realça que é "um ciclo difícil de interromper". "Tem a ver sobretudo com pagamentos por parte da ADSE a serviços privados que acabaram por ter efeitos negativos no SNS, por terem desnatado especialistas, médicos, enfermeiros", acusa.
Para o médico e epidemiologista "não faz sentido, mas é a realidade do país". "Isto tem outra implicação: a necessidade de reforçar o sector público da saúde", acrescenta.
Na mesma entrevista, Francisco George admitiu não compreender nem gostar de greves dos médicos, um dia depois de o sector ter emitido o pré-aviso de uma paralisação agendada para os próximos dias 10 e 11 de Maio.
"Não percebo. Não gosto da greve de médicos. Mas não posso falar nisso, porque são direitos que os médicos têm", afirmou.
Sobre a actual legislatura, o director-geral de Saúde considerou que é mais "robusta" do que aquilo que seria esperado no início, em Novembro de 2015. "Estou convencido que esta legislatura pode ser útil até ao fim e que vai traduzir mais importância no que respeita à solução de problemas sociais", concluiu.