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PS unido por Belém mas separado por São Bento

A apresentação da candidatura de Maria de Belém serviu também para medir o pulso ao sentimento socialista quanto à solução para o próximo Governo. Apesar da unanimidade em torno da candidata, tudo muda quando se fala na coligação PSD/CDS e nos partidos à esquerda.

João Proença, antigo líder da UGT, foi um dos presentes na apresentação da candidatura de Maria de Belém
Bruno Simão/Negócios
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A apresentação oficial da candidatura de Maria de Belém à presidência da República mostrou a união dos presentes em torno da antiga ministra da Saúde, mas também a desunião no que é a opinião dos socialistas em relação à constituição do próximo Governo. Ainda Maria de Belém discursava na apinhada sala Sophia de Mello Breyner, no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, e cá fora as conversas, apesar do tom discreto, não desprendiam das negociações encetadas por António Costa com os partidos com representação parlamentar tendo em vista uma "solução de Governo estável".

 

"Isto vai ser uma grande porcaria. É outra vez o PREC", ouvia-se da boca de um socialista visivelmente agastado com as negociações entre o PS e os partidos mais à esquerda que já demonstraram disponibilidade para apoiar, ou mesmo integrar, um Executivo protagonizado pelos socialistas.

 

A menos de dois metros, um outro socialista dizia que "há que acabar com a maioria de direita, isso é que é preciso", mostrando-se claramente cansado dos quatro anos de austeridade impostos pela actual maioria ainda em funções.

 

Não é o início do PREC, é o fim do PREC.
Manuel Alegre

"Não é o início do PREC, é o fim do PREC", diz Manuel Alegre que vê na possibilidade de um acordo entre o PS e a extrema-esquerda (CDU e BE) "a normalização da vida democrática". No entender do fundador socialista, António Costa "quebrou o tabu" de que não pode haver acordos à esquerda. Ideia idêntica àquela apresentada por José Magalhães que gostaria que fosse dada "uma chance à quebra da ideia de que há partidos com peste". "Um partido com representação parlamentar não tem peste", vincou o deputado do PS.

 

Mais comedido, Almeida Santos, outro histórico socialista, reconhece que "vivemos uma situação menos normal", mas afiança que "vale a pena tentar, pela primeira, vez um Governo maioritário de esquerda". E não, Almeida Santos não se esqueceu do primeiro mandato do Governo de maioria liderado por José Sócrates. Simplesmente, para o presidente honorário do PS, "Sócrates nunca foi de esquerda".

 

Esquerdas à parte, para Eurico Brilhante Dias a questão é muito simples: "Governa quem ganhou. Faz oposição quem perdeu", lembra o deputado e antigo braço-direito do anterior secretário-geral, António José Seguro. E se Brilhante Dias não quer que o PS seja o primeiro partido a liderar um Governo sem que antes tenha vencido as eleições, defende que "é a coligação que tem a obrigação de procurar um entendimento com o PS".

 

Vale a pena tentar, pela primeira, vez um Governo maioritário de esquerda.
Almeida Santos

Também Mota Andrade diz preferir "um acordo à direita", até porque "aquilo que nos separa [da CDU e do BE] é muito mais do que aquilo que nos aproxima". "Estamos muito mais próximos do PSD e do CDS, ideológica e programaticamente", explica o deputado socialista, que ironiza dizendo que a sua convicção pode não estar correcta se, afinal, "a CDU e o BE tiverem mudado muito desde o dia 4 de Outubro".

 

Todavia, Manuel Alegre mostra-se convicto de algo bem diferente. "Não creio que o António Costa se entenda com a direita porque está a tentar conseguir um Governo de maioria de esquerda". Opinião diferente da evidenciada por José Lello que não acredita que tanto a CDU como o BE "aceitem cooperar num Governo com o PS". "Não estamos na fase dos amanhãs que cantam", remata Lello.

Unanimidade por Maria de Belém, desacordo por António Costa


Numa apresentação em que Maria de Belém conseguiu congregar junto de si várias tendências socialistas ou até mesmo figuras independentes, como é o caso do padre Vítor Melícias ou do politólogo José Adelino Maltez, as diferenças quanto ao que deve ser o futuro Governo da República revelaram-se indisfarçáveis. Facilmente os sorrisos esboçados a cada cumprimento e incentivo dado a Maria de Belém davam lugar às trocas de impressões sobre o futuro Governo do país.

 

Governa quem ganhou. Faz oposição quem perdeu.
Brilhante Dias

João Proença, antigo líder da UGT, admite que "neste momento não há nenhuma solução fácil", mas acusa António Costa de estar a "subverter os resultados eleitorais" ao tentar um entendimento com o Bloco de Esquerda e o PCP para a formação de um Governo de esquerda. "Isso é perigoso", alertou o antigo sindicalista, que se mostrou ainda "pessimista" quanto ao desfecho da reunião entre as delegações do PS e da coligação. Um encontro marcado "para a mesma hora" da formalização da candidatura presidencial de Maria de Belém, apontou ainda Proença numa tirada claramente dirigida à falta de solidariedade demonstrada por Costa face à agora candidata a Belém.

 

No meio de tantas opiniões favoráveis e contrárias à possibilidade de António Costa se entender com os partidos da esquerda parlamentar de forma a viabilizar um Executivo que possa "virar a página da austeridade", Carlos Zorrinho destacou-se pela diferença ao não assumir qualquer posição. "O António Costa está a fazer o que deve fazer, falar com todos", resumiu.

 

Já o professor de Ciência Política Adelino Maltez, que defende ser preciso indisciplinar o sistema político nacional, encontra outro responsável para a actual situação: "O povo", pois são os eleitores "os indisciplinados pela forma como votaram". No CCB falou-se de tudo, mas menos de Belém do que de São Bento. 

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