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Sócrates: "Há muito tempo que vivemos num governo de ninguém" na Europa
O ex-primeiro ministro José Sócrates criticou esta sexta-feira, 28 de Outubro, o que disse ser a deriva tecnocrática do projecto europeu que há muito que conduziu a um "governo de ninguém".
"As decisões não são tomadas por nenhum povo. Há muito tempo vivemos num governo de ninguém. Não se pode falar nem responsabilizar ninguém," afirmou em Lisboa, durante a apresentação de "O Dom Profano, Considerações sobre o carisma", o seu segundo livro no espaço de três anos.
Referindo-se às decisões na União Europeia como tendo uma natureza "despótica", Sócrates manifestou um "enorme desencantamento democrático" em relação ao projecto europeu.
"A natureza essencial do carisma é a oposição ao poder burocrático e ao poder dos aparelhos técnicos. O que encontram hoje é um projecto europeu que, longe de estar dependente da vontade dos povos, aparece-nos detido pelos novos aparelhos técnicos e financeiros sem rosto nem responsabilidade," disse.
O ex-governante recorreu aos exemplos de França (retirar nacionalidade a condenados por terrorismo), na Dinamarca (com a proposta para "espoliar refugiados do que trazem nos seus bolsos") e ao Brexit ("um inêxito que demonstra a falta da democraticidade") para ilustrar a crise no projecto europeu.