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Relvas ameaçou divulgar na Internet que a jornalista do Público vive com um homem de um partido da oposição

O "Público" traz na edição de hoje um esclarecimento sobre o caso da alegada pressão de Miguel Relvas a uma jornalista e a uma editora do jornal. De acordo com o jornal, o ministro ameaçou divulgar na Internet qual o partido do companheiro da jornalista Maria José Oliveira.

25 de Maio de 2012 às 09:46
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O esclarecimento, assinado pela Direcção Editorial do jornal, reitera as pressões do ministro adjunto e dos Assuntos Parlamentares e reconstitui a ordem dos acontecimentos. Além disso, o jornal também publica as duas notícias da jornalista Maria José Oliveira sobre as incongruências da audição do ministro no Parlamento, que não foram publicadas.

O texto explica que, a meio da tarde de 16 de Maio, Miguel Relvas telefonou a Leonete Botelho, editora de Política do “Público”, a quem disse que as perguntas colocadas pela jornalista que acompanhava o caso das secretas eram “pidescas”, que se sentia “perseguido pelo Público” e que ia fazer “uma queixa à ERC”, além de “processar o jornal” e “dizer aos ministros que não voltassem a falar com o Público”. Além disso, Relvas ameaçou “divulgar na Internet que a autora da notícia vive com um homem de um partido da oposição, nomeando o partido” – algo que o jornal se escusou a fazer neste esclarecimento.

A direcção considera “inaceitável a pressão”. Houve ainda quatro chamadas para a directora, nesse mesmo dia, que não foram atendidas. Depois disso, Leonente Botelho recebeu novo telefonema de Relvas a reafirmar as ameaças e a pressão para as notícias não serem publicadas, e ainda uma chamada para a directora em que o tema não foi abordado.

Contudo, a opinião da directora Bárbara Reis, quando “informada” das ameaças do ministro, foi de não considerar que as ameaças “viessem a ser postas em prática”. Leonete Botelho, editora de Política, terá feito avaliação semelhante, até porque a tradição do jornal é “não denunciar as pressões” que são feitas.

Caso gerou debate interno

O jornal conta que o telefonema do ministro gerou “reflexão e debate internos”, sobre se o jornal deveria ignorar a chamada ou protestar formalmente. E foi após essa reflexão que se concluiu não denunciar “logo no próprio dia” a pressão do ministro. Bárbara Reis ligou na sexta-feira – 18 de Maio, dois dias depois do telefonema – ao ministro para dizer que é “inaceitável” fazer aquele tipo de telefonemas. O ministro não terá pedido desculpa a Bárbara Reis mas sim a Leonete Botelho, a quem telefonou de seguida.

O jornal sublinha que conversou com o advogado do jornal, que entendeu que a pressão de Relvas não se consubstanciava num crime de ameaça. O advogado distinguiu “a questão jurídica da questão ética e política”. Francisco Teixeira da Mota “não viu consistência na frase do ministro que justificasse uma actuação legal”.

Maria José Oliveira acreditou que matéria era noticiável

Da análise do esclarecimento do jornal, conclui-se que o caso apenas se tornou público porque, após ter visto a publicação da notícia com as incongruências de Miguel Relvas recusada por três editores, a jornalista Maria José Oliveira levou o assunto ao Conselho de Redacção.

A notícia começou a ser preparada por volta da hora de almoço, altura em que foi proposta ao editor do “online” Victor Ferreira. O editor terá dito que a notícia seria publicada caso houvesse “matéria relevante” sobre as contradições, e sugeriu que fossem ouvidas as explicações do ministro para as contradições relativas ao “clipping” sobre a visita de George Bush ao México.

A jornalista envia as perguntas para o assessor de Relvas às 15:27, dando o conhecido prazo de “32 minutos”, ou seja, até às 16:00, de que Miguel Relvas ontem se queixou, por se ter sentido “pressionado”. A resposta chegou às 16:01. A jornalista envia um primeiro texto sobre o assunto, mas a editora interina do “online” Francisca Gorjão Henriques, entende não haver “informação nova”, apresentando de seguida o caso à directora.

Entretanto, a Leonete Botelho e Maria José Oliveira, a pedido desta última, contam à directora Bárbara Reis o telefonema de Miguel Relvas.

A jornalista enviou então novas perguntas ao gabinete de Miguel Relvas, recebendo a mesma resposta, que sublinha que todos os esclarecimentos já foram prestados no Parlamento. É redigida uma nova notícia que volta a não ser considerada por Francisca Gorjão Henriques, que coloca o caso ao director-adjunto Miguel Gaspar, que tem a mesma opinião: não se justifica a publicação.

Maria José Oliveira não concordou e apresentou o caso ao Conselho de Redacção.

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