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Congresso do PS: Marcelo foi o mais visado pelos socialistas
Ao segundo dia de congresso, o chefe de Estado esteve no centro das críticas de muitos socialistas. Este domingo, Pedro Nuno Santos desvalorizou as críticas e garantiu que manter boas relações institucionais é relevante.
Já no arranque, o primeiro-ministro António Costa tinha deixado o recado: "Podem-me ter derrubado, mas não derrotaram o PS". O secretário-geral socialista que lhe sucedeu foi o único a evitar confrontar Marcelo. E este domingo garantiu, à entrada do congresso socialista, que quer manter boas relações com o Presidente da República.
"Quero ter um bom relacionamento com o Presidente da República", disse o agora secretário-geral do PS à chegada à FGIL, em Lisboa, adiantanto que deverá pedir uma audiência ao Chefe de Estado para esta semana, "se ele tiver agenda".
Ainda assim, muitos socialistas de peso apontaram o dedo ao Presidente da República pela dissolução da Assembleia da República.
Carlos César, presidente do partido, foi o primeiro ao afirmar que "opaís devia ter sido poupado a esta interrupção gerada pela decisão de convocação de eleições antecipadas". "É hoje amplamente reconhecido que, nas circunstâncias então difundidas, o primeiro-ministro [António Costa] fez o que lhe era institucionalmente requerido, mas o Presidente da República, em resposta, não fez o que politicamente era devido", criticou o também conselheiro de Estado.
O histórico Manuel Alegre foi outras das vozes a apontar o dedo a Marcelo, frisando que "ninguém dissolverá o PS". "Ninguém dissolverá a capacidade de resposta, o espírito de resistência do PS que tem mais de 50 anos e nunca virou a cara à luta", garantiu.
O histórico socialista considerou ainda que a dissolução do parlamento "foi um erro de precipitação gerador de incerteza".
Edite Estrela alinhou pelo mesmo diapasão e na sua intervenção no congresso avisou que "nem o Presidente da República, a imprensa ou procuradores" têm direito a condicionar a vontade popular. A também vice-presidente da Assembleia da República afirmou que a vitória do PS com maioria absoluta em janeiro de 2022 "foi como uma espinha cravada na garganta da direita".
"O Presidente da República acabou por lançar pela segunda vez a bomba atómica política e segundo um jornal de referência já estará a pensar numa terceira dissolução. Em 10 de março é o povo que vai dizer o que quer para o país. Ninguém tem direito de condicionar a vontade soberana do povo português, nem o Presidente da República, nem a comunicação social, nem os procuradores", alertou.
Já Ascenso Simões, deputado, defendeu no sábado que foi um erro o apoio indireto do PS à recandidatura do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que acusou de ser o maior fator de instabilidade política no país. "Nós estamos aqui porque temos um Presidente da República que é o maior fator de instabilidade política no nosso país. Nós estamos aqui porque temos no Palácio de Belém alguém que não consegue conter a palavra, alguém que não consegue conter a sua ação, alguém que diariamente intervém na atividade legislativa", afirmou na sua intervenção.
Também o eurodeputado e vice-presidente do Parlamento Europeu Pedro Silva Pereira abordou a atual crise política para salientar que "os portugueses não a queriam" e que foi criada "de fora".
"No dia 10 de março, os portugueses vão ter de resolver esta estranha crise política e este congresso respira a confiança de que os portugueses vão fazê-lo para travar o retrocesso que seria um Governo de uma direita ainda mais radical", sublinhou.
E nem mesmo o líder parlamentar dos socialistas se coibiu de criticar Marcelo. Eurico Brilhante Dias considerou que a decisão do Presidente da República de dissolver o parlamento retirou à maioria socialista a "oportunidade legítima" de prosseguir, afirmando que o país está a viver "uma crise política diferente".
No púlpito do 24.º Congresso Nacional do PS, que termina este domingo na Feira Internacional de Lisboa (FIL), Brilhante Dias defendeu que "esta crise política não é uma crise política como as outras". "Porque é que é diferente? Porque sua excelência o Presidente da República dissolveu o parlamento, tendo o PS uma maioria absoluta no parlamento e pela primeira vez dissolve o parlamento nestas circunstâncias quando essa maioria continua coesa e respondendo ao principal sublinhado eleitoral que os portugueses quiseram garantir em janeiro de 2022", sustentou.
Assis e Santos Silva puseram água na fervura
O presidente do Conselho Económico e Social (CES) e o presidente da Assemnbleia da República foram dois dos rostos a pôr água na fervura sobre o papel de Marcelo na dissolução do Parlamento.
Francisco Assis, também socialistas, pediu ao partido que enfrente as próximas legislativas com propostas pela positiva, virando a página do passado, e recusar uma campanha com base no medo e ressentimento.
"Não cedamos à tentação de fazermos uma campanha com base no medo, nem com base no ressentimento de qualquer espécie. Mesmo que esse medo seja legítimo, mesmo que esse ressentimento possa ter alguma razão de ser", enfatizou.
Na mesma lilnha, Augusto Santos Silva defendeu no sábado que o Presidente da República "não é alvo" dos socialistas na campanha para as legislativas, afirmando que o "adversário é a Aliança Democrática".
Em declarações aos jornalistas, Santos Silva foi questionado se o Presidente da República "passou a ser um alvo" dos socialistas, tendo em conta as declarações feitas no congresso. "Não, nem alvo, nem objeto. O Presidente da República situa-se num plano não partidário, é a instituição, o Presidente de todos nós", respondeu Augusto Santos Silva.
Este domingo, o secretário-geral dos socialistas, Pedro Nuno Santos, discursa no encerramento do 24.º Congresso do PS, após a eleição dos novos órgãos nacionais do partido, apresentando algumas medidas que sinalizam prioridades do seu programa.
(Notícia atualizada às 12h58 com declarações de Pedro Nuno Santos sobre a relação com o Presidente da República)