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António Costa acusa Passos Coelho de "arrogância intelectual" e "intransigência"

O líder socialista acusa o primeiro-ministro de arrogância intelectual, incapacidade negocial, e de falta de frontalidade no que defende para o Estado e para o País. E não tem dúvidas: a sua experiência política "não tem comparação" com a de Passos Coelho, diz em entrevista ao Sol.

Miguel Baltazar/Negócios
Negócios 21 de Agosto de 2015 às 11:08
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António Costa diz que o líder do PSD é "incapaz de construir soluções e com o potencial de criar problemas que antes não existiam", o que resulta de uma "arrogância intelectual que o conduz a ser uma pessoa intransigente e com quem é impossível acordar qualquer entendimento". Esta é a conclusão do líder socialista, a partir das duas únicas longas conversas que teve com Passos Coelho, sobre a Carris e o Metro, e nas quais "ao fim de cinco horas" diz ter percebido "as razões porque ninguém consegue um acordo com ele".

Esta é uma das passagens da entrevista ao Sol onde António Costa não poupa Pedro Passos Coelho, homem de pouca experiência política e muito descaramento. "Para o bem e para o mal, as pessoas conhecem-me, não tive um passado misterioso que as pessoas descobrem quando já é primeiro-ministro". Questionado sobre se se refere ao primeiro-ministro, Costa responde com o seu currículo político – deputado, ministro, líder parlamentar – e atira: "não há qualquer comparação entre a experiência de um e a experiência de outro […] não há comparação possível. Tenho 20 anos de vida pública para apresentar como currículo, o primeiro-ministro tem quatro".

A avaliação negativa que Costa faz de Passos Coelho foi intensificada na actual campanha, que diz estar marcada por falta de frontalidade e vergonha do Governo sobre a forma como encara o Estado Social e as políticas dos últimos anos.

"É uma falta de vergonha levada ao extremo. Depois do que este governo fez aos idosos (cortando-lhes o subsídio social), ao corte no rendimento social

A única explicação racional para o inqualificável ataque do primeiro-ministro à Caixa é desvalorizá-la para a seguir a privatizar.
António Costa

de inserção, ao aumento das taxas moderadoras, nas alterações à legislação laboral, ao programa de privatizações, ao ataque que se perspectiva na Segurança Social, na Saúde e na Educação, é preciso muito descaramento virem apresentar-se como paladinos do Estado Social", diz António Costa quando questionado sobre o argumento do Executivo, apresentado em campanha, de que nenhum outro governo fez tanto pelo Estado Social. "É um descaramento digno do House of Cards, mas indigno numa política a sério. Descredibiliza a política e até me desiludiu", acrescenta.

E a desilusão nasce da consideração que António Costa diz ter pela até agora "coerência ideológica do primeiro-ministro", defensor de uma agenda liberal e de um Estado mínimo: a primeira proposta política como líder do PSD foi uma revisão constitucional "que era uma desmontagem completa do nosso Estado Social", recorda. Recusar essa matriz e as política dos últimos anos a caminho das eleições é "ridículo" e "não enobrece a frontalidade com que o debate político se deve defender". E é por isso que não tem dúvidas quando afirma que a fúria privatizadora do Governo seguirá caminho para os serviços públicos, estando o primeiro-ministro já a antecipar também a venda da Caixa Geral de Depósitos (CGD).

"A direita, depois de ter privatizado tudo o que havia para privatizar no sector empresarial do Estado, propõe-se agora a uma segunda cruzada: a privatização dos serviços públicos", com um assalto explícito à Segurança Social, mas também implícito quer ao Sistema Nacional de Saúde, quer à escola pública", acusa o candidato a primeiro-ministro, que considera ainda que as recentes críticas de Passos Coelho à CGD só têm um propósito: preparar a privatização, tal como aconteceu com a TAP e com a Cimpor.

"A única explicação racional para o inqualificável ataque do primeiro-ministro à Caixa é desvalorizá-la para a seguir a privatizar. Foi assim que fizeram com a TAP, foi assim que fizeram com a Cimpor", afirma, dizendo ter ainda a expectativa de conseguir chegar ao governo a tempo de limitar a venda da TAP a 49% do capital".

"Bloco central só em condições extremas"

O entendimento com Passos Coelho é difícil, mas não é assim com todos os sociais democratas. Por exemplo, há entre António Costa e Manuela Ferreira Leite "uma identidade de pontos de vista muito significativa", revela o líder socialista que, ainda assim, considera que um Bloco Central só poderia acontecer numa "situação absolutamente extrema", recusando-se a dar um exemplo de tal situação ironizando: "uma ameaça de invasão de marcianos".

Costa considera que os blocos centrais "nunca" são saudáveis - ao fomentarem a indiferenciação política, acabam por funcionar como fertilizantes para movimentos radicais: "o nacionalismo catalão, o Syriza, a senhora Le Pen em França ou Beppe Grilo em Itália" são "exemplos que têm em comum um radicalismo que nasceu fruto de uma indiferenciação política", defende.

Quanto à estrutura do seu Governo, Costa diz já ter uma estrutura na cabeça, que inclui ministros sem ministérios, por exemplo para as áreas da construção e integração europeia, da modernização administrativa, ou da política do mar. O socialista defende como prioridade uma estabilização da orgânica da administração pública.

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