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António Costa acusa Governo de ter apostado "na divisão do país"
O secretário-geral do PS fez o discurso de abertura do congresso do partido com diversas acusações ao Governo, e criticou Passos Coelho por não ter feito o suficiente para travar a descida do desemprego. Por outro lado, criticou a estratégia de empobrecimento.
Foi um discurso longo, de quase uma hora, aquele que o novo líder do PS fez ao XX Congresso do partido, reunido na FIL, em Lisboa. É o primeiro discurso na condição de secretário-geral que António Costa faz num congresso para os militantes, um detalhe que o próprio invocou. Costa analisou a governação da maioria PSD/CDS, lançou críticas à estratégia de empobrecimento e ao facto de o Executivo ter lançado incerteza sobre as famílias.
De acordo com António Costa, o actual Governo, "em vez de unir os portugueses, num momento em que, perante a crise mais grave que o país enfrentou, mais necessitava de unir o país, apostou na divisão, no confronto permanente", em especial com o Tribunal Contitucional". "Como se respeita a separação entre política e justiça, a integridade do poder judicial quando se desrespeita logo o tribunal que é o principal guardião da lei fundamental do país?", questionou.
Mas a divisão não ficou por aí, denunciou Costa. Também houve uma "divisão entre empregados e desempregados, criando esta ideia terrível de que cada emprego de qualidade, emprego estável, é um emprego roubado a quem está à procura de emprego, como se a causa do desemprego não fosse este Governo", criticou. Soma-se ainda a "divisão entre gerações, uma divisão que procurou dividir dentro de cada família os sentimentos, como se cada um de nós tivesse de ser colocado entre escolher entre o futuro dos nossos filhos e o presente dos nossos pais", lamentou.
"O sentimento mais importante para enfrentar e vencer a crise é a confiança. E este Governo, em vez de ter apostado em reforçar a confiança, semeou a incerteza e a intranquilidade", denunciou António Costa. "Falhou em todas as suas metas orçamentais, não fez um orçamento que não se confrontasse com a Constituição, fragilizou e gerou intranquilidade nas famílias, com incerteza permanente nos rendimentos, gerou a incerteza nos agentes económicos" e "angústia permanente nos jovens".
Estado tem de estar na economia
António Costa defendeu ainda que a presença do Estado é essencial à economia. "O Estado não é uma entidade alheia à economia mas a condição de a economia poder ter um desenvolvimento solidário competitivo no mundo em que vivemos", destacou.
"Apesar de este Governo ter usado e abusado da austeridade, ter ido com grande orgulho para além da troika, apesar de a carga fiscal ter atingido um valor recorde de 37% [do PIB], de um programa radical de privatizações, de nos cortes com a saúde ter feito o país retroceder ao nível da despesa em saúde em 2001" e de "nos cortes na educação ter feito recuar o país para meados dos anos 90", o Governo "fracassou e falhou no seu grande objectivo de controlar e reduzir a dívida pública; pelo contrário, aumentou".
Passos Coelho "não tem razões para estar tranquilo" com o desemprego
O líder do PS também recordou a entrevista de Passos Coelho à RTP, na passada quinta-feira. "O primeiro-ministro disse que estava muito satisfeito com a dinâmica do emprego. Está satisfeito? É que o mais relevante é que nestes três anos o país perdeu 340 mil empregos de forma líquida", atirou.
"A dinâmica do emprego é um aumento gigantesco do desemprego de longa duração, são quase 67% dos desempregados. São 460 mil mulheres e homens em risco de desemprego de longa duração e o primeiro-ministro o que diz é que está satisfeito com a dinâmica do emprego em Portugal", afirmou Costa.
"Não tem razões para estar satisfeito e tranquilo", disse Costa. É que "além dos desempregados de longa duração, que estão inscritos ainda no IEFP, temos de ter em conta os 300 mil inactivos que estão desencorajados, que já nem sequer estão inscritos".
Empobrecimento ou endividamento?
Olhando para o futuro, António Costa sublinhou que está depositada no PS a responsabilidade de devolver a esperança ao país. "O futuro não é sustentável com base no endividamento mas também não é com base no empobrecimento. Para termos bases sólidas é necessário irmos à raiz dos problemas, irmos às questões de fundo". E para isso, "é necessário trabalho, persistência, visão estratégica".
O documento da agenda para a década inclui uma "uma opção básica e fundamental", que Costa deixou à consideração dos congressistas: "vamos ser competitivos e retomar a senda de crescimento com base no empobrecimento, ou vamos ganhar a competitividade com trabalho e esforço, apostando naquilo que é preciso apostar, na valorização dos recursos, na cultura, ciência, e no reforço da coesão social?".
Logo a seguir, deu a resposta. "É com base na qualificação que acreditamos ser possível vencer o desafio. É na valorização dos nossos recursos, das pessoas, do nosso território", e o "mar é uma enorme oportunidade para agora descobrirmos o enorme potencial que o país tem".