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Yuan mais fraco tem impacto nos EUA, mas a China também não escapa

A divisa chinesa caiu para mínimos de 11 anos. Esta queda é vista como uma resposta à última ronda de tarifas de Trump, mas a desvalorização também tem consequências para a China.

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05 de Agosto de 2019 às 11:48
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A divisa chinesa atingiu esta segunda-feira, 5 de gosto, um mínimo de 9 de maio de 2008. Neste momento, são precisos mais de sete yuans para ter um dólar, quebrando a "barreira psicológica". Esta foi a reação dos mercados à decisão do Banco Popular da China de fixar hoje a taxa de câmbio nos 6,9 yuans por dólar, o nível mais baixo desce dezembro de 2008, o que deixou os investidores em alerta sobre uma potencial guerra cambial entre a China e os EUA. 

Para muitos analistas a mensagem que a China quer passar é clara: há "luz verde" para a depreciação e a volatilidade do yuan após os Estados Unidos terem anunciado na semana passada a última ronda de tarifas, abrangendo todos os bens chineses com taxas aduaneiras. "Pode haver finalmente a vontade de usar a taxa de câmbio como uma ferramenta na disputa comercial entre a China e os EUA", antecipa Khoon Goh, analista do Australia & New Zealand Banking Group, citado pela Bloomberg.

No seu site, o banco central da China justificou a decisão de deixar o yuan desvalorizar com o "unilateralismo e as medidas comerciais protecionistas", referindo-se à aplicação de novas tarifas agendadas para 1 de setembro. Para Julian Evans Pritchard, analista da Capital Economist, esta ligação entre a desvalorização cambial e as novas tarifas de Donald Trump torna "oficial" a utilização da taxa de câmbio como uma "arma" da guerra comercial, pelo menos no curto prazo. 

Apesar disso, os analistas também consideram plausível que o banco central atue de forma a prevenir ou mesmo evitar uma turbulência excessiva no yuan. O Banco Popular da China disse que não vai alterar o rumo da política monetária e que conseguirá manter o yuan a um nível "estável e razoável", consoante esta nova realidade. A questão agora é saber qual é esse nível uma vez que a desvalorização da divisa chinesa também comporta riscos.

Em causa está, por exemplo, o risco de saída de capitais dado que a desvalorização da moeda retira valor aos investimentos estrangeiros. Para contrariar essa tendência, as autoridades chinesas poderão aplicar mais restrições ao movimento de capitais no seu território. A queda do yuan pode também ser penalizadora para as empresas chinesas cotadas em bolsas internacionais, como os EUA ou Hong Kong, dado que os seus lucros em yuan vão desvalorizar quando convertidos para dólares, tornando-as menos apetecíveis para os investidores. 

Acresce que há vários analistas que não estão convencidos que a queda do yuan vá ajudar a contrariar (totalmente) a subida das tarifas dada a sua dimensão. Torna-se, por isso, expectável que haja ainda mais medidas de política monetária e/ou orçamental para compensar o impacto negativo na economia chinesa que já tem vindo a desacelerar. E o yuan perde assim "peso" entre as divisas mundiais, após ter ganho destaque ao conseguir entrar no cabaz de reservas do Fundo Monetário Internacional (FMI). 

Para os Estados Unidos, além da paralisação das importações agrícolas, a decisão de desvalorização do yuan tende a ser negativa para o défice comercial de bens, o qual Trump quer diminuir. Falta saber como é o que presidente norte-americano - que no passado acusou Pequim de manipular a sua moeda, prejudicando os Estados Unidos - vai reagir a este passo da China.

Certo é que a queda da divisa chinesa torna os bens da China mais baratos para as empresas norte-americanas, compensando (parcialmente) os custos acrescidos com as tarifas aduaneiras. Dependendo da dimensão da desvalorização, o impacto das tarifas nas exportações chinesas para os EUA pode ser atenuado, o que poderá ajudar as exportadoras chinesas e as empresas norte-americanas dependentes de produtos chineses.

Este passo da China pode também despoletar um novo capítulo na disputa comercial. Até agora, o departamento norte-americano do Tesouro evitou classificar as autoridades chinesas como "manipuladoras de moeda", apesar de ter referido que estava a vigiar de perto as ações do banco central chinês. A definição de uma taxa de câmbio mais baixa pode desbloquear uma ação mais agressiva por parte dos EUA, o que iria pressionar ainda mais as relações entre Pequim e Washington em vésperas de eleições norte-americanas (novembro de 2020). 
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