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Os dilemas, as promessas e os avisos dos bancos centrais mundiais

Após a decisão do BCE, a agenda dos bancos centrais foi preenchida nos últimos dias. Houve surpresas e retórica forte na tarefa de gerir as expectativas.

Reuters
19 de Março de 2016 às 10:15
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O BCE deu o tom a 10 de Março. A entidade liderada por Mario Draghi anunciou um corte das taxas de referência, novas operações de refinanciamento para os bancos, a inclusão de obrigações de empresas no programa de compras e o reforço das aquisições mensais de activos de 60 mil milhões para 80 mil milhões de euros.

Na semana que se seguiu aos anúncios do BCE, foi a vez de outros bancos centrais revelarem as decisões sobre política monetária. Alguns desiludiram os investidores, outros passaram uma mensagem menos restritiva que o esperado e houve banqueiros centrais que fizeram uso da retórica para gerir as expectativas do mercado. Isto numa altura em que aparenta existir uma marcação cerrada entre as autoridades monetárias das maiores economias do mundo, para conterem os efeitos das medidas tomadas por bancos centrais de outras geografias.

Banco do Japão a testar efeito dos juros negativos

Na passada terça-feira, o Banco do Japão teve a responsabilidade de ser o primeiro a reagir à decisão do BCE. No final de Janeiro a entidade liderada por Haruhiko Kuroda ter surpreendido o mercado, passando a adoptar taxas de juro negativas. Mas desta vez, a autoridade monetária nipónica ficou em modo de esperar para ver os efeitos das novas armas que tinha adoptado no combate à baixa inflação. E deixou as medidas de política monetária inalteradas.

Apesar do consenso do mercado ser de que Kuroda iria deixar tudo na mesma, após as novas medidas do BCE alguns participantes do mercado começaram a atribuir alguma probabilidade à hipótese do Banco do Japão reforçar o arsenal de medidas. No entanto, apesar da inacção, Kuroda deixou o aviso de que há "muito espaço" para mais cortes nos juros dadas as políticas do BCE.

O prolongado dilema da Fed

Janet Yellen, presidente da Reserva Federal dos EUA, sinalizou um ciclo de normalização das taxas de juro mais lento.
Janet Yellen, presidente da Reserva Federal dos EUA, sinalizou um ciclo de normalização das taxas de juro mais lento. Andrew Harrer/Bloomberg

 

A Reserva Federal dos EUA continua no dilema de prosseguir com o ciclo de normalização das taxas de juro, ao mesmo tempo que grande parte de outros bancos centrais estão numa corrida cada vez mais intensa para adoptar estímulos. A expectativa do mercado era de que Janet Yellen adoptasse um tom mais assertivo em relação às subidas dos juros nos EUA, na quarta-feira. Mas as palavras da presidente da Fed foram mais suaves que o esperado.

As projecções dos membros do Comité de Política Monetária da Fed para a evolução das taxas de juro nos EUA foi revista em baixa, pressupondo apenas duas subidas da taxa de fundos federais este ano, o que compara com a previsão de Dezembro de quatro aumentos.

Janet Yellen tentou desvalorizar este corte das previsões, que incluíram também perspectivas mais fracas para a inflação e o crescimento, dizendo que poderão ser ajustadas ao longo do tempo e que a Fed não tem um rumo pré-definido para as taxas de juro. No entanto, a Fed voltou a mencionar os riscos dos desenvolvimentos económicos e financeiros globais para os EUA.

Suíça longe da neutralidade no mercado cambial

A Suíça continua a assumir que quer impedir uma subida do valor do franco. Apesar de ter mantido as taxas em valores negativos na quinta-feira, o banco central liderado por Thomas Jordan avisou que não descartava novas medidas de estímulo nos próximos meses. Isto depois da entidade ter cortado as estimativas para o crescimento e para a inflação.

O banco reafirmou que continuará activo no mercado cambial para impedir uma valorização do franco suíço. Considerou, em comunicado, que a divisa "continua significativamente sobreavaliada", o que justifica a manutenção das taxas de juro em valores negativos. "Ao mesmo tempo, o Banco Nacional da Suíça "continuará activo no mercado cambial para influenciar os desenvolvimentos da taxa de câmbio quando necessário".

Banco de Inglaterra às voltas com o "Brexit"

O Banco de Inglaterra, liderado por Mark Carney, lida com a incerteza em torno do Brexit
O Banco de Inglaterra, liderado por Mark Carney, lida com a incerteza em torno do Brexit Bloomberg

 

O Banco de Inglaterra manteve a taxa de juro em 0,50% na quinta-feira e aparenta estar mais relutante em aumentar as taxas nos próximos tempos. Em Junho, os britânicos irão votar se pretendem continuar ou sair da União Europeia.

O banco central liderado por Mark Carney mostrou-se atento ao impacto que a discussão do "Brexit" tem e poderá ter na economia. "Parece existir uma incerteza crescente em torno do próximo referendo sobre a permanência do Reino Unido da União Europeia. Essa incerteza poderá ter sido uma importante impulsionadora do declínio da libra", sublinhou o banco central no comunicado sobre as decisões de política monetária. Acrescentou que essa mesma incerteza "pode retardar algumas decisões de consumo e deprimir o crescimento da procura agregada no curto prazo". 

Corte de juros movido a petróleo na Noruega

 

Um pouco por todo o mundo, os banqueiros centrais têm enfrentado quebra-cabeças por causa da baixa inflação, provocada pelos baixos preços da energia. Mas a tarefa de quem decide a política monetária de países produtores de petróleo também está longe de ser fácil. O banco central da Noruega teve de cortar as taxas de juro em 0,25 pontos percentuais para um mínimo histórico de 0,50%.

E dadas as piores indicações que o esperado dadas pela economia norueguesa, Oysten Olsen, governador do banco central, avisou que "a taxa de juro de referência pode ter novas reduções ao longo do ano", no comunicado sobre a decisão. Isto apesar de admitir que as taxas cada vez mais baixas colocam riscos.

Na África do Sul, a dor de cabeça é a alta inflação

A baixa inflação é um problema para os banqueiros centrais da Zona Euro, EUA e Japão. Mas na África do Sul, que tem visto a moeda a ser pressionada devido aos baixos preços das matérias-primas, o problema é o oposto. A tarefa do banco central é controlar a inflação, mas conseguir a dosagem certa, já que a economia também dá sinais negativos.

A África do Sul teve de subir as taxas de juro em 25 pontos base para 7% na passada quinta-feira. Mas no comunicado sobre a decisão, o banco central liderado por Lesetja Kganyago reconheceu que continua enfrentar "o dilema de um cenário de deterioração da inflação com piores perspectivas para o crescimento". E reconhece que há "possíveis efeitos negativos da política mais restritiva", mas que permanece "focado no seu mandato de manter a estabilidade dos preços".

Rússia com política restritiva apesar da menor pressão sobre o rublo

No auge da pressão sobre o mercado russo, devido à queda dos preços do petróleo e às sanções internacionais, o banco central russo teve de tomar medidas de choque e de subir as taxas de juro para proteger o rublo. Mas nos últimos meses a pressão sobre a divisa tem aliviado, o que causou expectativa de que Elvira Nabiullina, responsável pela política monetária da Rússia, transmitisse indicações para uma política monetária mais suave de forma a dar algum oxigénio à economia.

Mas isso não aconteceu. Apesar de reconhecer a importância de ter taxas de juro baixas e de reafirmar que esse é o objectivo no futuro, o banco central deixou as taxas inalteradas em 11% esta sexta-feira. A prioridade é permitir que a inflação continue a trajectória de descida e abandone os níveis perigosamente elevados. Elvira Nabiullina mencionou, no comunicado sobre a decisão, que aquele é um dos factores que poderão "levar o Banco da Rússia a continuar com uma política monetária moderadamente mais restritiva por um maior período de tempo que o antecipado".  

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