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A reunião do G-20 que ajudou a estabilizar os mercados: acordo ou coincidência?

Há um mês, os banqueiros centrais das maiores potências económicas reuniram-se na China. Há quem acredite numa espécie de acordo que ajudou a travar o dólar e a dar estabilidade aos mercados.

Bloomberg
26 de Março de 2016 às 10:15
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No último mês as bolsas e as matérias-primas contiveram a pressão que sofreram no início do ano. E no mercado começa a surgir a teoria de que os responsáveis pela política monetária das maiores economias do mundo chegaram a algum tipo de entendimento na última reunião do G-20, que ocorreu há um mês, no final de Fevereiro. Começou mesmo a surgir a teoria de um acordo não divulgado para conter a subida do dólar, de forma a estabilizar os mercados.

Desde o encontro em Xangai, o índice da Bloomberg que mede o desempenho das bolsas mundiais sobe 5% e as matérias-primas interromperam as quedas. O Brent recupera quase 15% e o índice que mede o desempenho das matérias-primas avança 5%.

O dólar, que desde Junho de 2014 tem vindo a valorizar, fruto da diferença entre a direcção da política monetária nos EUA e noutros blocos económicos, também travou as subidas. O índice que mede o desempenho da nota verde contra um cabaz constituído pelas outras principais divisas mundiais desce 2,5%, apesar de uma recuperação nas últimas sessões.

Coincidência ou uma acção coordenada dos maiores bancos centrais? O Negócios foi à procura de respostas.

"Sinto-me tentado a subscrever a perspectiva de que "algo" foi acordado na reunião mais recente do G-20", refere ao Negócios Elwin de Groot. O estratego de mercados do Rabobank chama a atenção para as expressões contidas no comunicado da reunião, que referia que os mercados cambiais seriam seguidos de perto e de que se iria "calibrar de forma cuidadosa e clara a comunicação de políticas macroeconómicas e estruturais".

O problema do dólar forte

O dólar sobe cerca de 20% face às principais divisas desde Junho de 2014
O dólar sobe cerca de 20% face às principais divisas desde Junho de 2014 Scott Eells/Bloomberg

 

À medida que o mercado percebeu que a Reserva Federal dos EUA iria começar o processo de normalização da política monetária, isto é, de retirar os estímulos e iniciar a subida das taxas de juro, o dólar ganhou força. Desde Junho de 2014, o índice que mede a força da nota verde subiu 20%.

"Há claramente uma compreensão mais alargada para o ponto de que ninguém beneficia com um dólar mais forte", explica Steen Jakobsen. O economista-chefe do Saxo Bank observa ao Negócios que "os 57 biliões de dólares de dívida angariados desde a grande crise financeira foram predominantemente emitidos em dólares na sua maioria pela China e pelos mercados emergentes".

"Esta dívida levou os mercados emergentes a terem pior desempenho nos últimos três anos, com os maiores pagamentos de dívida a matarem o crescimento e o investimento, o que se espalhou à economia global", considera o economista. No entanto, um dólar mais fraco não seria suficiente para resolver os problemas da economia mundial.

Um dólar mais fraco ajudaria apenas a estabilizar, não salvaria o mundo", considera Steen Jakobsen. Considera que "a falta de reformas, a quebra do contrato social, a falta de investimento e de estímulos orçamentais deixa-nos com mais do mesmo".  

 

O que têm feito os bancos centrais desde a reunião do G-20

O problema do dólar forte para a economia e o comportamento dos mercados desde a reunião financeira do G-20 levaram a que começasse a circular a teoria de um "acordo de Xangai" nos mercados e que tem ganhado eco na imprensa norte-americana. Os economistas da Capital Economics refutaram essa teoria com a actuação que os bancos centrais tiveram após a reunião. Observaram que o BCE anunciou um pacote de estímulos mais alargado que o esperado pelo mercado e que, apesar da inacção do Banco do Japão, o governador desta autoridade monetária sinalizou mais medidas para a reunião do próximo mês.

Também Elwin de Groot nota que a própria China baixou os rácios de reserva exigidos aos bancos logo após o G-20. "Mas, dito isto houve uma mudança tácita de uma política baseada nas taxas para outros instrumentos por parte do BCE e o reconhecimento do Banco do Japão de que as taxas poderiam cair para um nível teórico" menos negativo do que o que era admitido no início do ano.

A juntar a isto, as próprias projecções dos membros do Comité de Política Monetária da Fed para a evolução da taxa de juro foram revistas em baixa na última reunião. Estes factores podem apoiar "a ideia de que os bancos centrais têm algum tipo de entendimento que a recente força do dólar teve mais efeitos negativos que positivos".

O jogo de soma zero

A perspectiva de que há um acordo tácito a segurar os mercados não é consensual. Para Steen Jakobsen "é tentador acreditar num esforço coordenado mas, tal como na vida, por vezes as coisas acontecem mais por não haver alternativas do que por se procurar proactivamente uma solução".

O economista do Saxo Bank entende que a política monetária não funciona e que "a admissão do BCE e do Banco do Japão das limitações da política de taxas de juro zero ajudou a enfraquecer o dólar". No entanto, com acordo ou sem ele, Steen Jakobsen considera que Xangai pode ter "marcado o fim da manipulação cambial e dos experimentalismos de política monetária já que, finalmente, percebeu-se que esse é um jogo de soma zero". 

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