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Draghi quer mais trabalhadores na Supervisão do BCE
No Parlamento Europeu, Draghi acolhe criticas do Tribunal de Contas Europeu à Supervisão e avisa que a recuperação da Zona Euro continua dependente do apoio dos estímulos do BCE, que têm revisão agendada para dia 8 de Dezembro.
Mario Draghi defendeu um reforço dos recursos humanos ao serviço do Mecanismo Único de Supervisão (MUS), a funcionar no BCE, indo ao encontro das preocupações expressas pelo Tribunal de Contas Europeu (TCE), e de parte das reivindicações dos trabalhadores da instituição. A garantia foi prestada aos deputados da Comissão de Assuntos Económicos e Monetários do Parlamento Europeu onde, a uma semana da revisão do programa de estímulos do banco central 8 de Dezembro, sinalizou também que os estímulos do banco central continuam a ser essenciais para suportar uma recuperação em 2017 e 2018 que se espera lenta.
"Concordo completamente com a avaliação do relatório do Tribunal de Contas Europeu [TCE]" relativamente à falta de trabalhadores no Mecanismo Único de Supervisão e "vamos ter uma discussão sobre o tema no Conselho do BCE muito em breve, ainda este ano", afirmou Mario Draghi no Parlamento Europeu, quando questionado sobre as conclusões do primeiro relatório de auditoria ao Mecanismo Único de Supervisão, publicadas este mês.
A conclusão foi ao encontro de parte das preocupações dos trabalhadores do banco central que, além de sobrecarga de trabalho causada pela necessidade de responder à crise nas várias vertentes em que o BCE se viu envolvido, se queixam da utilização excessiva de contratos a prazo no MUS – só 6,3% têm neste momento um contrato permanente, um valor que o banco central espera que venha a aumentar significativamente com a conversão em contratos permanentes nos próximos dois anos da grande maioria dos contratos a prazo firmados a partir de 2014.
No Parlamento Europeu, Mario Draghi sinalizou que irá procurar aumentar o número de trabalhadores e diminuir a dependência dos supervisores nacionais – "podemos procurar aumentar o número de inspecções no local lideradas pelo BCE" –, mas sublinhou também que o MUS "não é apenas do BCE, mas é também das autoridades nacionais" que têm muita experiência útil para garantir uma supervisão eficaz.
Draghi antecipa recuperação dependente de estímulos
Na sua apreciação sobre a situação económica da Zona Euro, o presidente do BCE voltou a sublinhar que espera uma continuação da recuperação da economia da região, mas também que tal recuperação está dependente da manutenção dos estímulos monetários do BCE.
"A Zona euro continua a crescer a um ritmo moderado mas estável, apesar dos efeitos negativos da incerteza económica e política global. Esta tendência crescente gradual deverá continuar, também devido às nossas medidas de política monetária", afirmou Mario Draghi, na sua intervenção inicial perante os deputados.
A afirmação, que coloca a recuperação da Zona Euro dependente em parte dos estímulos do BCE, surge a pouco mais de uma semana da reunião de 8 de Dezembro do banco central em que se espera uma decisão sobre um prolongamento do programa de compra de activos no terreno que, na actual formulação, continua apenas até Março de 2017 ao ritmo de 80 mil milhões de euros de aquisições por mês.
Questionado sobre se enfrenta alguma dificuldade em prolongar o programa de compras por falta de activos no mercado que cumpram os requisitos, Draghi garantiu que não se sente limitado: "o nosso programa é flexível o suficiente para que possa ser revisitado de forma a garantir o nível de estímulo da política monetária considerado necessário para atingir os nossos objectivos", garantiu.
Draghi convidou ainda mais uma vez os governos a darem maior apoio à retoma. As nossas políticas "suportam mais consumo e investimento. Isto reflecte-se num aumento gradual de crédito a empresas e famílias", afirmou, acrescentando que "para aumentar a eficácia da política monetária, são necessárias políticas orçamental e estruturais que reforcem o crescimento e que o tornem mais inclusivo", afirmou.
O líder do banco central não entrou em detalhes sobre potenciais efeitos na Europa da saída do Reino Unido da UE ou da vitória de Donald Trump nas eleições norte-americanas, dois dos principais factores de incerteza a pender sobre a Zona Euro. "Estas alterações têm impactos de longo prazo que são difíceis de avaliar", disse.
Ainda assim, deixou dois avisos. Em relação aos últimos desenvolvimentos nos EUA, considera que "é importante olhar para lá das reacções calmas dos mercados" até agora. Já sobre o impacto do Brexit voltou a defender que terá impactos negativos, mas que serão concentrados no Reino Unido.