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Constâncio foi político, banqueiro e agora quer ser blogger "intelectual"

Após mais de 40 anos entre cargos políticos e técnicos, Vítor Constâncio quer ser um "intelectual livre". E, por isso, vai seguir as pisadas de outros banqueiros centrais: vai criar um blogue.

"Sempre tive a esperança de que teria a oportunidade de ser um intelectual livre", disse Constâncio ao FT. Jasper Juinen/Bloomberg
Tiago Varzim tiagovarzim@negocios.pt 16 de Maio de 2018 às 13:14
Daqui a duas semanas, Vítor Constâncio deixará de ser o vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), sendo substituído pelo ex-ministro espanhol Luis de Guindos. Mas o português que foi líder do Partido Socialista (PS) e governador do Banco de Portugal já tem o futuro traçado. Além de ir dar aulas em Madrid, vai criar um blogue de Economia onde será um "intelectual livre", disse Constâncio ao Financial Times esta quarta-feira.

Após oito anos no BCE, o socialista está de saída da carreira de banqueiro central e de político. Licenciado pelo ISEG em Economia, tendo já leccionado nessa mesma instituição, Constâncio vai dar aulas em Madrid em pós-graduações de Economia.

A vontade do português é mudar a forma como a disciplina é encarada: "A macroeconomia não é apenas um agregado de decisões individuais", disse ao FT, assinalando que "não deveríamos assumir que tudo se encaminha para um equilíbrio nos mercados competitivos".

O regresso à academia não o vai deixar completamente afastado da esfera pública. Tal como já fizeram outros ex-banqueiros centrais, Vítor Constâncio vai criar um blogue de Economia. "Sempre tive a esperança de que teria a oportunidade de ser um intelectual livre", confessou. E foi mais longe: "Na minha carreira, nunca tive esse luxo".

Constâncio segue assim os passos, por exemplo, do ex-presidente da Reserva Federal, Ben Bernanke, que criou um blogue após ter saído da Fed em 2014. 

Constâncio pouco confiante com aprofundamento da Zona Euro

Na última entrevista antes de sair do panorama europeu, Vítor Constâncio considera que os países do Sul mais afectados pela crise fizeram "grandes ajustamentos" a todos os níveis e que o bloco dos países da moeda única deve aproveitar este momento económico positivo para fazer avanços na sua estrutura. 

Para Vítor Constâncio, países como Portugal, Espanha, Grécia ou Irlanda já reduziram "suficientemente" os riscos e, por isso, "justifica-se" a criação de instrumentos comuns de partilha de risco na Zona Euro, nomeadamente o completar da União Bancária. 

Mas o ainda vice-presidente do BCE está pouco confiante de que isso venha a acontecer. Constâncio antecipa que só deverão existir "algum tipo de promessas de longo prazo" na próxima cimeira de Junho onde os temas de aprofundamento da União Económica e Monetária serão discutidos entre os líderes europeus. 

"Espero estar errado, mas infelizmente não espero grande coisa vinda da próxima cimeira", confessou, referindo que, uma vez que a economia europeia está num bom caminho, isso "reduz sempre a motivação dos Governos para tomarem decisões ousadas".

A principal preocupação do BCE é que, sem reformas na Zona Euro, voltará a ser chamado a actuar numa próxima crise e que, nessa altura, terá poucas armas para lutar contra uma futura recessão através dos instrumentos tradicionais.
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