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Christine Lagarde: "Reduzir a inflação para 2% é não negociável"
Numa conferência em Frankfurt, Christine Lagarde insistiu que reduzir a inflação para 2% no médio prazo não é negóciavel. Para isso, detalhou a estratégia do BCE, que não vê um trade-off entre estabilidade de preços e estabilidade financeira. Instituição pronta a prestar liquidez adicional à banca, se necessário, repetiu.
A presidente do Banco Central Europeu (BCE) defendeu nesta quarta-feira que reduzir a inflação para 2% no médio prazo "é não negociável", acrescentando que a instituição vai cumprir o objetivo através de uma estratégia "dependente de dados" e estando "pronta a agir", sem que haja "trade-offs" entre a estabilidade de preços e a estabilidade financeira.
"O público pode ter a certeza de uma coisa: vamos conseguir atingir a estabilidade de preços e trazer a inflação de volta aos 2% no médio prazo é não negociável. E vamos fazê-lo seguindo uma estratégia robusta que é dependente de dados e que incorpora uma prontidão para agir, mas que não acredita em trade-offs do nosso objetivo principal", afirmou Christine Lagarde (na foto), nesta quarta-feira, 22 de março.
Tal como tinha feito na semana passada, depois da reunião do Conselho de Governadores que decidiu mais uma subida das taxas de juro, Lagarde explicou que os próximos passos da estratégia para baixar a inflação vão, em primeiro lugar, depender de dados.
"Isto significa, ex ante, que não estamos comprometidos com aumentar mais as taxas de juro, nem que concluímos o processo de subida", disse, acrescentando: "se o cenário base das nossas projeções mais recentes se confirmar, nós ainda temos um caminho a percorrer para garantir que as pressões inflacionistas foram eliminadas".
Em segundo lugar, a estratégia do BCE vai também ter atenção à turbulência do setor financeiro, dado o colapso do Credit Suisse e as implicações que pode ter na banca da Zona Euro. "Embora os bancos europeus sejam resilientes, com posições de capital e de liquidez fortes, perante a recente volatilidade dos mercados financeiros, estamos prontos para agir para providenciar apoio de liquidez ao sistema financeiro e para preservar uma transmissão suave da política monetária", afirmou Lagarde.
No entanto, a presidente do BCE insistiu que "não há trade-off entre a estabilidade de preços e a estabilidade financeira", considerando que, "tal como já se provou" no passado, a instituição "é capaz de definir" uma política monetária adequada para controlar a inflação e ao mesmo tempo usar outros instrumentos para limitar os riscos de transmissão.
Em cima da mesa vão estar três elementos: as previsões da inflação geral, que apontam para um abrandamento, as previsões da inflação subjacente, que "ainda não apontam para uma descida consistente", e a transmissão da política monetária.
Neste último ponto, o BCE vê uma "forte contração" na procura interna no final de 2022 e os últimos dados de vendas a retalho sugerem que o consumo ainda não recuperou na Zona Euro. No entanto, isto não impediu a transmissão da subidas dos custos. "As medidas de curto prazo da inflação subjacente, a três meses, subiram em fevereiro", destacou Lagarde.
BCE insiste numa maior partilha de custos entre lucros e salários
O que pode explicar esta resiliência do consumo?
Lagarde apontou dois fatores. O primeiro relacionado com almofadas que as famílias conseguiram criar nos últimos anos. Por um lado, as famílias ainda estão a beneficiar de apoios consideráveis que mitigaram as suas perdas de poder de compra, em torno de 250 mil milhões de euros, tanto este ano, como no próximo. Além disso, ainda há cerca de 900 mil milhões de euros em poupanças extra acumuladas durante a pandemia. Isto na Zona Euro.
O segundo está relacionado com o mercado de trabalho, que continua robusto, suportando as expectativas de salários dos trabalhadores. Lagarde disse que é expectável que o rendimento disponível das famílias comece a crescer, em resultado das subidas salariais.
"Por isso é necessário que a política monetária funcione de forma robusta e restritiva. E o processo só está a começar agora a ter efeito", frisou.
Ao mesmo tempo, Lagarde insistiu numa maior partilha de custos entre empresas e salários, para apoiar também o objetivo de redução da inflação.
"Se tanto os trabalhadores como as empresas aceitarem uma partilha justa dos custos [da inflação], e se um crescimento forte dos salários representar apenas um reequilíbrio entre trabalho e capital, então tanto as pressões de salários como de preços devem diminuir à medida que o processo se desenrola", disse.
Para a presidente do BCE, "se os dois lados tentarem, de ambos os lados, minimizar as suas perdas, podemos ver um mecanismo de ricochete entre maiores margens de lucro, salários e preços".