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BCE coloca conflito Russia-Ucrânia entre principais riscos
O banco central continua a esperar uma recuperação moderada e desequilibrada da economia da Zona Euro, mas avisa que os riscos são negativos. Entre eles está em destaque o aumento da tensão no conflito entre a Rússia e a Ucrânia.
O BCE continua a esperar uma "recuperação moderada e desequilibrada da economia da Zona Euro" nos próximos meses, mas o Presidente da instituição avisa que os riscos são "negativos", e entre eles destaca o aumento da tensão geopolítica no mundo, em particular a situação entre a Rússia e a Ucrânia.
"Não há dúvidas que se olhar para o mundo hoje conclui que os riscos geopolíticos aumentaram: Rússia, Iraque, Síria, Líbia (...)" exemplificou Mario Draghi, acrescentando que "a situação na Ucrânia e na Rússia terá um impacto mais forte na Zona Euro do que em outras zonas".
O presidente do BCE mostrou-se preocupado com a sequência de sanções e contrasanções, com a Rússia a responder à Europa com a proibição de importação de bens alimentares da União Europeia: "as interconecções [entre os dois blocos económicos] são muito limitadas (...) no entanto é muito difícil de medir os impactos quando há sanções e contra-sanções (...)" continuou Draghi, acrescentando: "nós vemos riscos a formarem-se principalmente no preço da energia, mas é difícil saber como reagir, especialmente se o conflito aumentar".
Uma coisa é certa, repetiu Draghi por várias vezes, o BCE pretende manter a política monetária com taxas de juro mínimas "por um longo período de tempo" e, se considerar necessário, está preparado para usar medidas de política monetária não convencionais, ou seja, compra de activos no mercado.
Ao que tudo indica, o BCE privilegiará numa primeira fase a compra de activos titularizados (Asset Backed Securities) – um plano anunciado em Junho e cujos trabalhos de preparação continuam – e só numa segunda fase ponderá avançar com uma compra mais abrangente de activos (normalmente designada por "Quantitative Easing").
Draghi desvaloriza inflação baixa
Mas se o BCE está preparado para actuar de forma mais decisiva, tal não é para já. Antes, a começar em Setembro, ainda virão empréstimos de longo prazo aos bancos, uma medida também anunciada em Junho, e que Draghi confia que aumentará a concessão de crédito à economia – pelo menos essa é a condição que coloca para a concessão destes empréstimos com juros mínimos e maturidade até 2018.
Nem mesmo a inflação de 0,4% em Julho na Zona Euro – muito longe da meta de 2% do BCE e abaixo das previsões dos economistas de Frankfurt – impressiona os governadores, que desvalorizam também o facto da expectativa de inflação de curto prazo no mercado estar a recuar.
"Os 0,4% não foram uma surpresa. Esse valor deve-se principalmente ao preço da energia e se considerarmos a inflação sem energia e bens alimentares temos um uma inflação de 0,8%, inalterada face ao mês anterior", respondeu Draghi a um jornalista que o questionou sobre porque é que uma taxa de inflação de 0,4% não é um número suficiente para actuar.
"Não há dúvida que [a taxa de inflação] é baixa e vai permanecer baixa (...) mas as expectativas de inflação de médio prazo permanecem firmemente ancoradas", garantiu o Presidente da autoridade monetária, desvalorizando, mas reconhecendo uma queda nas expectativas de curto prazo: "É normal que assim seja pois essas expectativas [de curto prazo] são influenciadas pelo que se passa hoje".
Na próxima reunião em Setembro haverá novas previsões de crescimento e inflação por parte do "staff" do BCE.