Notícia
As 7 razões que explicam a decisão do BCE
O BCE decidiu anunciar o fim do programa de compra líquida de activos soberanos. Sinalizou também que a partir do próximo Outono já não é garantido que os juros fiquem inalterados em zero. Porquê?
O Banco Central Europeu (BCE) indicou esta quinta-feira duas alterações da política monetária no futuro: uma sobre o programa de compras de activos soberanos, outra sobre as taxas de juros directoras. O Negócios passou o discurso de Draghi a pente fino e dá-lhe conta das 7 razões que justificaram as medidas.
Primeiro, o que está em causa. A novidade mais imediata diz respeito ao fim das compras líquidas de activos soberanos: se os dados de inflação confirmarem as projecções, a partir de Setembro as compras líquidas passam dos actuais 30 mil milhões de euros mensais, para metade. Depois, a partir de Dezembro, as compras líquidas terminam e o programa fica limitado ao reinvestimento do stock do BCE.
A segunda novidade diz respeito aos juros directores: pela primeira vez o BCE levantou o véu sobre o calendário que tem em mente para o fim dos juros zero. Até agora, Mario Draghi indicava apenas que os juros se iriam manter inalterados "durante um período alargado e muito para além do horizonte das compras líquidas de activos".
Mas na reunião deste mês decidiu apontar para o Verão do próximo ano. Os juros não vão mexer "pelo menos ao longo do Verão de 2019 e, em qualquer caso, por quanto tempo for necessário para assegurar que a evolução da inflação permanece alinhada com as actuais expectativas de um ajustamento sustentado", disse Draghi.
O que justifica estas decisões?
1. Unanimidade
Durante a conferência de imprensa, Mário Draghi garantiu que as decisões tomadas na reunião do conselho de governadores foram "unânimes" em todos os sentidos, desde o que foi efectivamente decidido fazer no futuro, até ao modo como foi comunicado que será feito.
2. Há margem para recuar
A decisão de anunciar o fim das compras líquidas de activos foi tomada com margem para recuar. Se a evolução dos preços não se materializar como projectado, ou se a incerteza se concretizar numa evolução diferente do esperado, tanto o comunicado do BCE, como as declarações de Draghi dão mais do que margem para adiar as decisões. Ou seja: os mercados sabem desde já que, caso seja necessário, "o conselho de governadores está pronto para ajustar qualquer um dos seus instrumentos".
3. O programa de compra de activos não vai desaparecer
Apesar da redução do ritmo de compras no último trimestre do ano, e do fim das compras líquidas a partir de Janeiro de 2019, o programa de compra de activos não vai desaparecer, frisou Mário Draghi. Há um stock muito generoso de títulos públicos que estão nas mãos do BCE e que os banqueiros centrais já disseram que vão continuar a reinvestir. Ainda não disseram foi como.
4. A economia deu sinais de abrandamento, mas continua forte
Mario Draghi reconheceu que a incerteza é mais elevada, nomeadamente devido ao risco de aumento do proteccionismo e do impacto que isso tem na confiança, mas frisou que ainda assim está bem sustentada e robusta.
"A força subjacente da economia não mudou", argumentou. "Um crescimento de 0,4% é menor do que um de 0,7%", reconheceu o presidente do BCE, referindo-se ao abrandamento do ritmo registado pela zona euro no primeiro trimestre deste ano, quando comparado com o verificado no quarto trimestre de 2017. "Mas continua a ser um crescimento elevado", frisou. Ou seja, a avaliação que o BCE faz da conjuntura é de que "ainda é apropriada para as decisões tomadas hoje", mas os governadores não querem "subestimar os riscos existentes", notou.
Esta avaliação está também sustentada na análise de conjuntura do relatório da equipa de técnicos do BCE. Os peritos reviram esta quinta-feira a projecção de crescimento para a zona euro em baixa, mas continua a ser um ritmo positivo: em vez de um aumento de 2,4% do PIB, o BCE espera agora um crescimento de 2,1%. Para 2019 e 2020 as projecções ficaram inalteradas face a Março, em 1,9% e 1,7%, respectivamente.
As projecções para a inflação foram corrigidas em alta, para 1,7% em 2018, 2019 e 2020, mas Draghi explicou que esta alteração decorre sobretudo da evolução do preço do petróleo.
5. Ainda pode haver surpresas positivas para o crescimento
Segundo a avaliação do BCE, os riscos para as projecções de crescimento estão equilibrados. Isto acontece porque apesar do aumento da incerteza, e dos riscos negativos por causa das disputas comerciais, o conselho de governadores ainda identifica também riscos positivos. "Esperamos surpresas positivas da expansão orçamental dos Estados Unidos e também da expansão orçamental muito grande de alguns países da zona euro", disse Draghi.
7. Subida de juros recente não implicou contágio
Mario Draghi reconheceu que os juros subiram nos mercados, à boleia da incerteza geopolítica. Mas notou que não resultaram em qualquer contágio entre os países. "Foi um um episódio", defendeu, "não vi nenhuma redefinição do preço do risco", sublinhou. Draghi também lembrou que há diferenças significativas na arquitectura das instituições europeias, com mais redes de segurança, do que havia em 2011, quando estalou a crise de dívidas soberanas.
"A situação na altura foi uma falta de confiança a atacar muitos países de uma só vez", lembrou Draghi, notando que isso não acontece agora.
Primeiro, o que está em causa. A novidade mais imediata diz respeito ao fim das compras líquidas de activos soberanos: se os dados de inflação confirmarem as projecções, a partir de Setembro as compras líquidas passam dos actuais 30 mil milhões de euros mensais, para metade. Depois, a partir de Dezembro, as compras líquidas terminam e o programa fica limitado ao reinvestimento do stock do BCE.
Mas na reunião deste mês decidiu apontar para o Verão do próximo ano. Os juros não vão mexer "pelo menos ao longo do Verão de 2019 e, em qualquer caso, por quanto tempo for necessário para assegurar que a evolução da inflação permanece alinhada com as actuais expectativas de um ajustamento sustentado", disse Draghi.
O que justifica estas decisões?
1. Unanimidade
Durante a conferência de imprensa, Mário Draghi garantiu que as decisões tomadas na reunião do conselho de governadores foram "unânimes" em todos os sentidos, desde o que foi efectivamente decidido fazer no futuro, até ao modo como foi comunicado que será feito.
2. Há margem para recuar
A decisão de anunciar o fim das compras líquidas de activos foi tomada com margem para recuar. Se a evolução dos preços não se materializar como projectado, ou se a incerteza se concretizar numa evolução diferente do esperado, tanto o comunicado do BCE, como as declarações de Draghi dão mais do que margem para adiar as decisões. Ou seja: os mercados sabem desde já que, caso seja necessário, "o conselho de governadores está pronto para ajustar qualquer um dos seus instrumentos".
3. O programa de compra de activos não vai desaparecer
Apesar da redução do ritmo de compras no último trimestre do ano, e do fim das compras líquidas a partir de Janeiro de 2019, o programa de compra de activos não vai desaparecer, frisou Mário Draghi. Há um stock muito generoso de títulos públicos que estão nas mãos do BCE e que os banqueiros centrais já disseram que vão continuar a reinvestir. Ainda não disseram foi como.
4. A economia deu sinais de abrandamento, mas continua forte
Mario Draghi reconheceu que a incerteza é mais elevada, nomeadamente devido ao risco de aumento do proteccionismo e do impacto que isso tem na confiança, mas frisou que ainda assim está bem sustentada e robusta.
"A força subjacente da economia não mudou", argumentou. "Um crescimento de 0,4% é menor do que um de 0,7%", reconheceu o presidente do BCE, referindo-se ao abrandamento do ritmo registado pela zona euro no primeiro trimestre deste ano, quando comparado com o verificado no quarto trimestre de 2017. "Mas continua a ser um crescimento elevado", frisou. Ou seja, a avaliação que o BCE faz da conjuntura é de que "ainda é apropriada para as decisões tomadas hoje", mas os governadores não querem "subestimar os riscos existentes", notou.
Esta avaliação está também sustentada na análise de conjuntura do relatório da equipa de técnicos do BCE. Os peritos reviram esta quinta-feira a projecção de crescimento para a zona euro em baixa, mas continua a ser um ritmo positivo: em vez de um aumento de 2,4% do PIB, o BCE espera agora um crescimento de 2,1%. Para 2019 e 2020 as projecções ficaram inalteradas face a Março, em 1,9% e 1,7%, respectivamente.
As projecções para a inflação foram corrigidas em alta, para 1,7% em 2018, 2019 e 2020, mas Draghi explicou que esta alteração decorre sobretudo da evolução do preço do petróleo.
5. Ainda pode haver surpresas positivas para o crescimento
Segundo a avaliação do BCE, os riscos para as projecções de crescimento estão equilibrados. Isto acontece porque apesar do aumento da incerteza, e dos riscos negativos por causa das disputas comerciais, o conselho de governadores ainda identifica também riscos positivos. "Esperamos surpresas positivas da expansão orçamental dos Estados Unidos e também da expansão orçamental muito grande de alguns países da zona euro", disse Draghi.
6. A inflação está a convergir para a projecção
Mario Draghi explicou que o conselho de governadores analisou cuidadosamente as projecções de médio prazo da inflação. Primeiro, confrontou várias fontes de projecção, mas depois também comparou a sua evolução ao longo do tempo. Nesta óptica de análise verificou que as projecções de médio prazo estão a convergir para o objectivo e que o seu intervalo de incerteza é cada vez mais estreito.
Além disso, "já desapareceram os riscos sobre as expectativas de inflação estarem ancoradas. Não há riscos de deflação, desapareceram", notou. "O facto de a economia continuar forte diz-nos que podemos estar confiantes na convergência da inflação" para o objectivo do BCE, somou.
Aliás, para Draghi, a reacção positiva dos mercados mostra que os níveis de inflação estão sustentados e que a decisão foi bem tomada.
Mario Draghi explicou que o conselho de governadores analisou cuidadosamente as projecções de médio prazo da inflação. Primeiro, confrontou várias fontes de projecção, mas depois também comparou a sua evolução ao longo do tempo. Nesta óptica de análise verificou que as projecções de médio prazo estão a convergir para o objectivo e que o seu intervalo de incerteza é cada vez mais estreito.
Além disso, "já desapareceram os riscos sobre as expectativas de inflação estarem ancoradas. Não há riscos de deflação, desapareceram", notou. "O facto de a economia continuar forte diz-nos que podemos estar confiantes na convergência da inflação" para o objectivo do BCE, somou.
Aliás, para Draghi, a reacção positiva dos mercados mostra que os níveis de inflação estão sustentados e que a decisão foi bem tomada.
7. Subida de juros recente não implicou contágio
Mario Draghi reconheceu que os juros subiram nos mercados, à boleia da incerteza geopolítica. Mas notou que não resultaram em qualquer contágio entre os países. "Foi um um episódio", defendeu, "não vi nenhuma redefinição do preço do risco", sublinhou. Draghi também lembrou que há diferenças significativas na arquitectura das instituições europeias, com mais redes de segurança, do que havia em 2011, quando estalou a crise de dívidas soberanas.
"A situação na altura foi uma falta de confiança a atacar muitos países de uma só vez", lembrou Draghi, notando que isso não acontece agora.